A teoria do duplo vínculo de Gregory Bateson

A teoria do duplo vínculo de Gregory Bateson
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A teoria do duplo vínculo foi desenvolvida pelo antropólogo Gregory Bateson e sua equipe de pesquisadores em Palo Alto, Califórnia (1956). É um conceito da psicologia que se refere a relacionamentos contraditórios onde são expressados comportamentos de afeto e agressão simultaneamente, onde as duas pessoas estão fortemente envolvidas emocionalmente e não conseguem se desvincular uma da outra.

Esta teoria foi formulada para explicar a origem psicológica da esquizofrenia, deixando de lado as disfunções cerebrais e as hipóteses orgânicas. A esquizofrenia continua sendo uma das doenças mentais mais desconcertantes. Na verdade, várias teorias foram postuladas sobre como ela se origina, algumas de natureza orgânica ou biológica e outras de natureza social. Vejamos mais detalhadamente no que consiste a teoria do duplo vínculo.

Um breve resumo sobre Gregory Bateson

Gregory Bateson nasceu em Grantchester, Reino Unido, em 9 de maio de 1904. Ele era um antropólogo, cientista social, linguista e cibernético, cujo trabalho teve repercussões em muitos outros campos intelectuais. Alguns dos seus textos mais notáveis estão nos seus livros: Ecologia da Mente (1972), Espírito e Natureza (1979) e O Medo dos Anjos: a epistemologia do Sagrado (1987).

Bateson e alguns dos seus colaboradores como Jay Haley, Donald Jackson e John Weakland foram pioneiros no desenvolvimento da perspectiva sistêmica. De fato, nos círculos acadêmicos ele é reconhecido como uma figura importante cujo apelo inclui a sua obscuridade, excentricidade e diversidade de realizações. No entanto, o crescente interesse no holismo (entendimento integral dos fenômenos), nos sistemas e na cibernética levou outros educadores e estudantes a publicarem os seus trabalhos.

Para Bateson, a comunicação é o que torna as relações humanas possíveis, ou seja, atua como o seu suporte. Do seu ponto de vista, isso inclui todos os processos através dos quais uma pessoa influencia os outros. Partindo dessa perspectiva, a mídia se torna um componente determinante da estrutura social que vale a pena ser analisada.

Bateson dizia que era necessário eliminar o duplo vínculo que aparece esporadicamente na comunicação. Ele afirmava inclusive que esse fenômeno é visto constantemente na televisão. Por exemplo, em um programa de TV um valor moral é proclamado e, no outro, é violado. Isto gera conflitos na mente do espectador, especialmente se forem crianças ou pessoas com um senso crítico baixo.

Gregory Bateson

O que é um duplo vínculo?

De acordo com Bateson, um duplo vínculo é um dilema comunicativo devido à contradição entre duas ou mais mensagens. Dessa forma, não importa qual seja a resposta, ela estará sempre errada. É uma situação comunicativa que causa sofrimento e pode levar a alguns transtornos psicológicos.

Podemos entender melhor com um exemplo. Uma criança tenta se relacionar com a sua mãe, que sofre de dificuldades afetivas. Ela expressa o quanto o ama através do gestual, mas a criança só recebe sinais de rejeição verbal. Portanto, a mensagem que a mãe expressa verbalmente não corresponde à mensagem que o seu corpo envia ao filho. Dessa forma, ele se vê preso em uma contradição que implica afeição e rejeição.

Outro exemplo seria a famosa declaração: “Seja espontâneo”. Uma mensagem dupla de realização impossível: se a pessoa não é espontânea, ela não cumpre essa ordem. Mas se ela o faz, de alguma forma também não está cumprindo porque não é algo espontâneo, já que obedecer não implica em espontaneidade.

A teoria do duplo vínculo

A teoria do duplo vínculo se baseia na análise das comunicações, e especificamente na teoria dos tipos lógicos de Russell. A partir desta teoria e das observações feitas com pacientes esquizofrênicos, resulta uma situação chamada “duplo vínculo”. Como vimos, não importa o que a pessoa faça, ela não pode fugir.

Bateson dizia que alguém aprisionado pelo duplo vínculo pode desenvolver sintomas esquizofrênicos. A tese central da teoria do duplo vínculo é de que existe uma descontinuidade entre uma classe e seus membros, uma vez que a classe não pode ser um membro de si mesma. Nenhum dos membros pode ser a classe, já que o termo usado para a classe é de um nível diferente de abstração.

Na patologia das comunicações reais, esta descontinuidade se desdobra de forma contínua e inevitável. Do mesmo modo, ocorre uma patologia no organismo humano quando certos padrões formais são quebrados na comunicação entre mãe e filho. Assim, esta patologia é classificada como esquizofrenia, um transtorno mental grave, do tipo psicótico, onde ocorrem alterações de pensamento e linguagem.

Mulher desesperada

Ingredientes necessários para manifestar o duplo vínculo

Os ingredientes necessários para manifestar um duplo vínculo são os seguintes:

  • Duas ou mais pessoas envolvidas emocionalmente. Uma delas é a “vítima”. O duplo vínculo não é infligido somente pela mãe; pode ser infligido pela mãe, cônjuge, pai e/ou irmãos.
  • Experiências repetidas. O duplo vínculo é um tema recorrente na história da vítima. Não é uma experiência traumática única, mas é uma experiência tão repetida que a estrutura do duplo vínculo se torna uma expectativa habitual.
  • Comportamento prejudicial primário. Pode apresentar uma dessas duas formas: “Não faça isso, ou eu vou castigá-lo” ou “Se você não fizer isso, eu vou castigá-lo”. O contexto da aprendizagem se baseia na evitação da punição e não é um contexto de busca de recompensa. O castigo pode consistir a retirada do amor ou a expressão de agressividade ou raiva. Mais devastador ainda é que também pode ser o tipo de abandono que resulta da expressão da extrema impotência do pai.
  • Comportamento prejudicial secundário em conflito com o primeiro. Geralmente não é expressado verbalmente e, por isso, mais difícil de ser entendido. É reforçado por punições ou sinais que anunciam um perigo para a sobrevivência. A verbalização da ordem secundária pode assumir uma variedade de formas. Por exemplo: “Não considere isso uma punição” ou “não se submeta às minhas proibições”. Existem outros exemplos quando o duplo vínculo é infligido por dois indivíduos. Por exemplo, um dos pais pode negar em um nível mais abstrato a ordem do outro.
  • Um terceiro comportamento prejudicial que impossibilita que a vítima escape. Pode ser um laço familiar, a pressão social para manter um casamento, questões financeiras. Pode ser desnecessário classificar este comportamento como um elemento separado. Se os duplos vínculos forem impostos durante a infância, naturalmente é impossível escapar.

De acordo com a teoria do duplo vínculo, este conjunto completo de ingredientes não será mais necessário quando a vítima aprender a perceber o seu universo sob os padrões do duplo vínculo. Qualquer parte de uma sequência de duplo vínculo pode ser suficiente para precipitar o pânico ou a raiva.

Criança triste sentada em sofá

O efeito do duplo vínculo

O efeito do duplo vínculo sugere que haverá um colapso na capacidade do indivíduo para discriminar entre tipos lógicos ou modos comunicacionais cada vez que ocorrer uma situação de duplo vínculo. Esta situação tem as seguintes características gerais:

  • O indivíduo está envolvido em uma relação intensa. Sente que no relacionamento é muito importante discriminar corretamente o tipo de mensagem que está recebendo.
  • O indivíduo está preso em uma situação onde as outras pessoas que intervêm expressam duas ordens diferentes e uma delas nega a outra.
  • A pessoa se sente incapacitada de comentar ou pedir esclarecimentos sobre mensagens recebidas. Ou seja, não consegue formular uma enunciação metacomunicativa.

A teoria do duplo vínculo de Bateson não é considerada sólida somente como uma explicação para a causa da esquizofrenia, mas evidenciou a importância dos padrões comunicativos e familiares na saúde mental. Embora a hipótese do duplo vínculo tenha se tornado obsoleta neste sentido, tem sido determinante para a evolução das terapias sistêmicas.


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