Teoria Polivagal: como identificamos os sinais de perigo
São muitos os processos que podem ocorrer em nosso corpo e em nossa mente, dos quais nem sempre temos plena consciência. A Teoria Polivagal tenta explicar um desses processos que, muitas vezes, podemos considerar intuitivos.
Nesse sentido, talvez tenhamos experimentado a sensação de estar em perigo sem encontrar um motivo que a justifique. Às vezes nos sentimos ameaçados mesmo que ninguém ao nosso redor pareça nos afetar ou incomodar por algo em particular.
Andamos pelo mundo identificando uma infinidade de sinais sociais. Quando interagimos com os outros, inconscientemente coletamos expressões faciais, movimentos corporais e tons de voz. Ao mesmo tempo em que nosso cérebro e nosso corpo interpretam esses sinais, nosso sentido do “eu” está sendo moldado por eles e por nosso entorno.
A informação que nosso corpo processa através desses sinais nos diz em quem podemos confiar e em quem não podemos. Interpretamos quem ou o que poderia representar um perigo para nós, adotando uma posição ou outra como resposta.
A neurocepção e a teoria polivagal
O Dr. Porges desenvolveu a Teoria Polivagal que descreve o processo pelo qual os circuitos neurais são capazes de ler indícios de perigo em nosso entorno como neurocepção. Seria essa neurocepção o que nos faz experimentar o mundo explorando involuntariamente as pessoas e o entorno para determinar se elas são seguras ou se, pelo contrário, supõem uma ameaça para nós.
Esse é um processo totalmente inconsciente produzido em nosso sistema nervoso autônomo, da mesma maneira que respiramos sem precisar fazer nenhum esforço voluntário. É um sistema de varredura automática que procura por sinais de perigo.
Escaneando nosso entorno
Essa varredura involuntária em busca dos sinais de algum perigo em potencial ocorre desde que nascemos e é extremamente importante para a nossa sobrevivência. Nossos corpos estão projetados para observar, processar e responder desde que viemos a este mundo.
Os bebês respondem aos sentimentos de perigo, de segurança ou de proximidade com seus pais e cuidadores. Isso acontece desde o instante em que nascemos e passamos o resto de nossas vidas examinando esses sinais de perigo ou segurança inconscientemente.
As três etapas de desenvolvimento de resposta
Na Teoria Polivagal, Porges descreve três etapas evolutivas envolvidas no processo. A Teoria Polivagal considera que a interação entre o sistema nervoso simpático e parassimpático não é apenas uma questão de equilíbrio.
Porges acredita que existe uma hierarquia de respostas integrada ao nosso sistema nervoso autônomo que ocorre em três etapas.
- Imobilização. A via mais básica. A resposta de imobilização aos sinais de perigo envolve o nervo vago, cuja parte dorsal responde aos sinais de perigo extremo e faz com que fiquemos completamente imóveis. É quase como se nosso sistema nervoso parassimpático fosse ativado a toda velocidade e a resposta do corpo nos congelasse.
- Mobilização. Produz-se a partir do sistema nervoso simpático, que é o que nos ajuda a nos mobilizar em situações perigosas e, assim, combater a ameaça. A Teoria Polivagal sugere que essa via se desenvolve como uma hierarquia evolutiva.
- Compromisso social. Essa seria o último aspecto que o ser humano desenvolveu na hierarquia de respostas. Responde ao lado ventral do nervo inferior, que é a parte desse nervo que responde aos sentimentos de segurança e conexão. O compromisso social é um processo que nos permite nos sentirmos baseados em sentimentos de compromisso, segurança e tranquilidade.
O impacto do trauma
Nas pessoas que sofreram um trauma, principalmente naquelas em que a imobilização foi parte importante do mesmo, pode haver uma distorção grave na capacidade de examinar o entorno em busca de sinais de perigo.
Uma das funções desse sistema é que a pessoa não retorne a uma posição vulnerável, de modo que o corpo fará o que for necessário para evitá-la. Isso pode aumentar bastante a sensibilidade, interpretando sinais neutros como falsos positivos.
Assim, muitos dos sinais que são interpretados como inofensivos, até benignos por outras pessoas, são interpretados como uma ameaça por pessoas que sofreram algum trauma anterior. Como resultado, uma mudança em uma expressão fácil, um tom de voz específico ou determinadas posturas corporais podem, de maneira inconsciente, levar a uma resposta de proteção.
O nervo vago e a teoria polivagal
Nosso nervo vago está ramificado por muitas áreas do nosso corpo. Tem um papel fundamental na influência dos nervos cranianos que regulam o compromisso social através da expressão facial e da vocalização.
Como seres humanos, ansiamos por sentimentos de segurança e confiança em nossas interações com os outros e aprendemos rapidamente a interpretar os sinais que nos dizem que não estamos seguros.
Precisamente por isso, à medida que vamos fortalecendo nosso relacionamento com outras pessoas, podemos estabelecer vínculos saudáveis e experimentar uma intimidade de maior qualidade com os outros mais facilmente.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
Clarke, Jodi (2019) Polyvagal Theory and How It Relates to Social Cues. How the Body and Brain Are Impacted by Your Environment. Verywell Mind
Porges S. W. (2009). The polyvagal theory: new insights into adaptive reactions of the autonomic nervous system. Cleveland Clinic journal of medicine, 76 Suppl 2(Suppl 2), S86–S90. doi:10.3949/ccjm.76.s2.17
Maercker, A., & Hecker, T. (2016). Broadening perspectives on trauma and recovery: a socio-interpersonal view of PTSD. European journal of psychotraumatology, 7, 29303. doi:10.3402/ejpt.v7.29303