Terapia Brainspotting: um avanço para a psicoterapia
A terapia Brainspotting foi descoberta em 2003 por David Grand. O mesmo a define como uma proposta psicoterapêutica que utiliza o campo visual para localizar “posições oculares relevantes”. Essas posições oculares (ou brainspots) estariam relacionadas com determinadas áreas do cérebro ativadas em resposta ao trauma psicológico.
Ou seja, David Grand descobriu que através do campo visual e da posição dos olhos ele poderia acessar pontos específicos do cérebro onde os traumas de seus pacientes estavam escondidos. Uma vez localizadas as posições oculares relevantes, estes pontos são trabalhados através do mindfulness ou da consciência plena até que o paciente atinja um estado de resolução.
Como já podemos intuir, a terapia Brainspotting é um processo abstrato e complexo. Assim, para entender melhor os mecanismos sobre os quais se articula, vamos fazer uma pequena viagem ao passado, especificamente à sua origem.
Quando e como a terapia Brainspotting foi descoberta?
Em 2003, David Grand tratava uma patinadora de gelo de 16 anos de idade. Esta adolescente sofria de problemas dissociativos que prejudicavam seu desempenho.
Havia momentos em que ela não sentia as pernas ou não se lembrava da sequência que havia ensaiado tantas vezes sobre seus patins. Depois de descartar as diferentes hipóteses que poderiam situar a origem dessa sintomatologia no plano físico, suspeitando de uma origem dissociativa, os especialistas começaram a trabalhar com ela no plano mental.
David Grand trabalhava com ela há um ano quando começou a considerar a ideia de que o que acontecia com ela tinha a ver com uma rejeição por parte de sua mãe, além de uma longa história de lesões e fracassos esportivos.
Estabelecida a hipótese de trabalho, durante a intervenção, a patinadora deveria imaginar em câmera lenta algum exercício que era impossível de realizar. Enquanto imaginava, tinha que detectar em que ponto sentia e via que “se perdia” e congelar esse momento.
Era quando Grand encorajava o paciente a seguir seus dedos com os olhos, enquanto os movia de um lado para o outro. Em uma dessas práticas, os olhos da patinadora tremeram ligeiramente e houve um fluxo notável de processamento.
Após dez minutos, o processamento diminuiu e o bloqueio ocular parou. Na manhã seguinte, a patinadora ligou para David e disse que havia conseguido realizar o salto que imaginara várias vezes sem nenhum problema.
Foi assim que o autor começou a suspeitar de que poderia estar prestes a descobrir algo importante. Para comprovar sua hipótese, decidiu testá-la com outros pacientes com problemas semelhantes; para isso, entrou em contato com outros terapeutas que também participaram dos testes. Assim, acumulava-se evidência sobre a efetividade da terapia de brainspotting com uma ampla variedade de pessoas que apresentavam diferentes diagnósticos, histórias e sintomas.
Como funciona a terapia de brainspotting?
Como mencionamos anteriormente, a terapia Brainspotting baseia seu poder em uma primeira conquista: localizar, dentro do campo visual, o ponto em que a pessoa se sente mais conectada à sua experiência corporal. Uma vez alcançada, é promovida a observação com consciência plena dos processos internos (o afeto, a memória, as sensações corporais, etc.).
O paciente deve observar sem filtros críticos ou censuras o que acontece em seu interior, tal e como ocorre. Em vários momentos, o terapeuta intervirá produzindo pequenas discussões que revisam o processamento do paciente. Ao mesmo tempo, tenta-se reorientar a atenção para a experiência de seu próprio corpo ; o objetivo será alcançar um estado de resolução.
O processo ou a terapia continua até que o paciente consiga lembrar ou imaginar o motivo original da ativação, ou seja, o trauma, sem que isso cause qualquer tipo de perturbação. Neste momento, é solicitado que o processamento seja iniciado novamente, até que quase não produza ativação.
A resolução pode ocorrer a qualquer momento entre a primeira sessão e vários meses ou mesmo anos de tratamento. Tudo depende do diagnóstico, da complexidade da condição e da capacidade de processamento do paciente.
Por outro lado, para que a intervenção seja bem-sucedida, a presença, a especialização e o envolvimento do terapeuta são fundamentais, assim como uma relação de profundo respeito no âmbito da terapia.