Terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT): O que é?

Pessoas com transtorno bipolar sofrem mudanças drásticas em sua energia, motivação e humor. Isso tem um grande impacto em seus relacionamentos sociais. Uma maneira de oferecer ajuda e ferramentas é por meio de um tipo muito específico de terapia.
Terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT): O que é?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 03 julho, 2023

Viver com transtorno bipolar é viver em um espaço de grande instabilidade, sofrimento e frustração. Há dias em que a pessoa não consegue cumprir as tarefas que foram planejadas. Às vezes, elas mal encontram energia para sair da cama. Em outras ocasiões, no entanto, elas sentem que podem enfrentar o mundo e vencer qualquer batalha.

A esfera mais afetada neste tipo de quadros clínicos é a esfera social e relacional. Quando são submetidas a uma fase depressiva, evitam todo contato e responsabilidade. A vida inteira pesa sobre elas, assim como aquele pensamento em que o autodesprezo e até o desejo de desaparecer aparecem. São realidades muito difíceis.

Segundo a Organização Mundial da Saúde ( OMS), cerca de 2-3% da população em geral sofre de algum tipo de transtorno bipolar. Uma estratégia terapêutica altamente eficaz para seu tratamento é a desenvolvida pela Dra. Ellen Frank, da Universidade de Pittsburgh, no início deste século. É uma abordagem tão interessante quanto eficaz que vale a pena aprender.

A terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT) torna mais fácil para o paciente cuidar e regular seus padrões sociais e biológicos.

Mente fragmentada simbolizando o tratamento Interpessoal e Social Rhythm Therapy (IPSRT)
As pessoas diagnosticadas com transtornos de humor geralmente experimentam distúrbios em seus ritmos circadianos.

Terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT): definição e objetivos

A Terapia do Ritmo Interpessoal e Social (IPSRT) visa fazer com que as pessoas regulem seu humor por meio de suas rotinas biológicas e sociais. Essa definição, em linhas gerais, pode nos parecer um tanto singular. No entanto, para compreender a finalidade desse modelo, é preciso lembrar que o núcleo central dos transtornos de humor.

As pessoas com perturbação ciclotímica, com depressão, ansiedade ou perturbação bipolar, apresentam estilos de vida desregulados e dificuldades em integrar rotinas saudáveis. Por exemplo, em um estudo da Dra. Ellen Frank, foi demonstrado como os pacientes se beneficiavam de sua modalidade terapêutica, dando-lhes orientações para regular seus hábitos sociais.

O ritmo social e interpessoal nesta terapia remete para a necessidade de promover rotinas biológicas e relacionais mais ajustadas, constantes e saudáveis em pacientes com perturbações do humor. Com isso, facilita-se uma maior estabilidade emocional, bem como uma melhor qualidade de vida em todos os âmbitos.

Quais são os objetivos desta terapia?

O principal objetivo da Terapia de Ritmo Interpessoal e Social (IPSRT) é prevenir e regular melhor quaisquer distúrbios de humor e comportamento. É um modelo que capacita a pessoa por meio de novos conhecimentos e estratégias para que, por conta própria, adote hábitos mais regulares e benéficos.

Da mesma forma, é importante ressaltar que, no caso do transtorno bipolar, essa terapia não exclui o tratamento medicamentoso. Vejamos abaixo quais são seus objetivos:

  • Melhorar os hábitos de descanso e alimentação.
  • A terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT) facilita o gerenciamento e a prevenção do estresse nas relações sociais.
  • Facilitar que o paciente possa cumprir suas metas diárias e propósitos vitais.
  • Ajudar a pessoa a conhecer os fatores que afetam sua desestabilização do humor.
  • Curar e enfrentar possíveis eventos traumáticos do passado.

A terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT) assume que sempre existem gatilhos externos que ativam os sintomas dos transtornos do humor. Assumir novos hábitos e rotinas (ritmos sociais) melhora a qualidade de vida.

Paciente em terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT)
Durante a terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT), o paciente aprende técnicas e ferramentas para melhorar seus hábitos de vida e relações sociais.

Quais são suas características?

O presente modelo terapêutico consiste em três fases bem definidas. A Dra. Ellen Frank define as diretrizes de abordagem em seu trabalho de pesquisa publicado em 2000. Nós as analisamos.

Estágio inicial: compreensão

Nesta primeira fase de avaliação, o terapeuta tentará compreender as fases ou episódios de mudança de humor do paciente. Para fazer isso, ele coletará informações por meio de entrevistas, relatórios médicos etc.

  • Nesta fase, o paciente é informado de que as mudanças em seu humor não são sua responsabilidade. É importante libertá-lo da culpa.
  • Serão identificados seus hábitos de vida e rotinas disfuncionais: padrões de sono, alimentação, trabalho.
  • Da mesma forma, serão analisados os padrões relacionais da pessoa e a maneira como isso afeta seu estado emocional.
  • Estilos de comunicação, habilidades sociais, etc. serão analisados.

Estágio intermediário: criação de novos ritmos sociais

Na segunda etapa da terapia do ritmo social e interpessoal (IPSRT), é elaborado um formulário no qual são estabelecidas uma série de orientações sobre o ritmo social que a pessoa deve cumprir. Ou seja, novos hábitos e rotinas são estabelecidos tanto no campo biológico quanto no relacional.

Ao mesmo tempo, o terapeuta treina a pessoa em uma série de estratégias básicas que irão melhorar sua qualidade de vida. Estas são os eixos sobre os quais esta segunda fase se baseia:

  • Novos hábitos de sono que devem ser respeitados.
  • Melhorar os hábitos alimentares.
  • Cuidar das orientações de medicamentos.
  • Hábitos esportivos e vida ativa.
  • Aplicar as estratégias de comunicação que o paciente aprende na terapia para melhorar seus relacionamentos.
  • Aplicar técnicas de gerenciamento de estresse que são trabalhadas na terapia.
  • Saber como reagir quando o desânimo, a frustração, a raiva ou pensamentos negativos aparecerem.

Esses princípios geralmente definem o formulário que é projetado para cada paciente. A cada sessão, esses formulários são revisados, trabalhados e atualizados, se necessário.

Fase final: encerramento da terapia e estratégias de manutenção

O objetivo final da terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT) é que a pessoa integre os hábitos e estratégias que lhe permitem estabilizar seu estado de espírito. Uma vida marcada por rotinas e técnicas para lidar com momentos difíceis permite que um paciente abandone gradualmente a terapia.

A última etapa desse processo consiste no espaçamento das sessões. Em média, essa abordagem requer cerca de 16 sessões nas quais a pessoa vai percebendo gradativamente como, com o passar das semanas, tem maior controle sobre sua vida. No entanto, deve-se ressaltar que finalizar a terapia não significa abrir mão de tratamentos farmacológicos, essenciais em muitos casos.

Esse modelo terapêutico é altamente eficaz em pacientes com transtornos bipolares. Da mesma forma, benefícios interessantes também foram observados em outras condições de saúde mental, como transtorno depressivo recorrente (distimia). Esta terapia favorece uma melhor compreensão da sua condição e também otimiza ao máximo o seu estilo de vida. Este é um recurso clínico muito benéfico.


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