The Rocky Horror Picture Show: revolução e libertação sexual

The Rocky Horror Picture Show: revolução e libertação sexual
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 05 novembro, 2022

The Rocky Horror Picture Show é um musical criado por Richard O’Brien que foi adaptado para o cinema em 1975. É considerado um filme cult e é acompanhado por uma banda que se converteu, por si só, em outro clássico. Além disso, deu visibilidade aos atores Susan Sarandon e Tim Curry.

The Rocky Horror Picture Show é um filme peculiar desde seu início. Vai desde o cômico até a ficção científica, faz uma paródia de filmes de segunda categoria e dos antigos filmes de terror. Sua classificação vai do mistério ao terror, mas com aquele ar cult, surrealista e cômico que transforma o musical em um ligação de estilos muito especial.

Não foi um filme que teve grande popularidade em sua estreia, mas com o passar do tempo se converteu em um mito que dura até atualmente nos nossos dias. Trata-se de uma produção que não devemos levar muito a sério, já que nos submete a um ambiente carnavalesco e atípico. Podemos gostar ou não, mas sem dúvida ninguém fica indiferente a ele.

Veja só a loucura

Chamativos lábios vermelhos cantam a canção que dá início ao filme. Uma introdução quase hipnótica que chama a atenção de qualquer um, porque lembra os antigos filmes de terror amadores. Essa abertura nos envolve no que está por vir.

A história conta com um narrador criminologista, o mesmo que nos adverte que vamos presenciar algo assustador e totalmente fora do normal. Ele nos apresenta um jovem casal que está prometido um ao outro, Brad e Janet. Esses dois personagens são o claro exemplo do que era bem visto e socialmente aceito e desejado naquela época. Tudo isso levado ao extremo, porque estamos em um filme em que o normal brilha por sua ausência.

O jovem casal já fez a promessa de não manter relações sexuais até o dia do casamento chegar. Brad pede Janet em casamento na boda de outros amigos. Vemos esses dois personagens bastante ridicularizados, declarando seu amor um ao outro de forma bastante brega, que resulta em uma cena cômica e nada romântica. Ambos decidem ir visitar um antigo professor, chamado Dr. Everret Scott, para dar a ele a feliz notícia.

Em seu caminho, acabam encontrando uma forte tempestade e são obrigados a interromper a viagem, perdidos no meio de uma estrada. Avistam ao longe uma luz, e respiram aliviados diante da possibilidade de pedir ajuda. Mas essa não era exatamente a realidade: o destino os conduz a um estranho e sinistro castelo repleto de habitantes mais que peculiares.

Aqui conheceremos Magenta e Riff Raff, dois serventes do castelo, Columbia e Dr. Frank-N-Furter, um estranho travesti cientista. Frank-N-Furter, uma clara alusão ao Frankenstein, convida os recém-chegados para sua grande festa. Eles haviam chegado em um dia muito especial porque o cientista apresentaria ao mundo sua nova criação: Rocky, um homem jovem, ruivo e musculoso.

Brad e Janet tentam desesperados compreender a situação, pois se veem mergulhados em uma espécie de festa em que todos são extraterrestres provenientes do planeta Transexual na galáxia de Transilvânia. Tudo muito normal.

A libertação sexual em The Rocky Horror Picture Show

O sexo foi um tema tabu durante muito tempo. Inclusive ainda o é atualmente em alguns meios. Mas o sexo é algo inato e natural, algo que vai muito além de qualquer tabu que se imponha. A repressão e a libertação sexual têm um papel fundamental no filme, assim como a aceitação da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade.

Tudo isso é mostrado desde o começo, em um mundo como que ao contrário, onde a maioria não é heterossexual. Brad e Janet, socialmente aceitos em seu mundo, são os estranhos do castelo. Ou seja, a história transforma tudo que era considerado “normal” em estranho, e normaliza o diferente.

Trata-se de uma contraposição, de um choque brutal entre dois mundos, dois extremos totalmente opostos. Devemos pensar que o filme é de 1975 e que, para sua época, foi algo totalmente inovador. Era diferente de tudo visto até então, e mesmo hoje nos parece bastante peculiar. Foi um musical que abriu caminho para a exploração cinematográfica de outras realidades e permitiu a criação de outros musicais. ‘Priscilla, rainha do deserto’ é um deles.

A normalização e a libertação da sexualidade foi tardia. Chegou apenas no final do século XX e, ainda hoje, há muito o que ser feito nesse sentido. Pois muito preconceitos, tabus e discriminação continuam existindo, como contra os homossexuais, bissexuais e transexuais. Mas sempre foi assim?

É curioso que, atualmente, fiquemos escandalizados com obras como ’50 tons de cinza’, que geram polêmica e são vistas como algo novo. Na verdade, já na Idade Média encontrávamos contos cuja leitura era muito mais incômoda e escandalosa que as sombras de Grey. No mesmo sentido, e ainda mais horripilante, temos o Marquês de Sade e sua obra “Os 120 dias de Sodoma” do século XVIII. Nela, tortura, sexo, coprofagia e tudo que a mente humana pode imaginar estão muito presentes. Michel Focault explora tudo isso em sua obra “História da sexualidade”, dividida em três volumes, com bastante profundidade.

“Se o sexo está reprimido, ou seja, destinado à proibição, à inexistência e ao mutismo; o puro fato de falar de sexo e de falar de sua repressão já dá um ar de transgressão deliberada.”
-Michel Foucault, História da sexualidade-

Da invisibilidade ao cult

Podemos dizer que havia uma certa invisibilidade do assunto sexo na década de estreia do filme. Para tratar do tema da sexualidade, The Rocky Horror Picture Show fez uso da paródia, do cinema e da música. O musical nem sequer passou em todos os cinemas e não teve uma grande aceitação dada a polêmica. Com o tempo, no entanto, se tornou uma importante referência.

O apelo popular foi tanto que alguns cinemas projetavam o filme, e ainda o faziam de forma bastante peculiar. A audiência participava e imitava algumas cenas das personagens. Converteu-se em uma tradição, em que eram contratados atores e o público também interagia com o próprio filme.

Cabe destacar que essa tradição se mantém até hoje, que esse filme segue vivo e segue passando em alguns cinemas ao redor do mundo. Essas noites de interação ainda são organizadas, as pessoas parecem estar apenas assistindo mas atiram arroz no cinema quando aparece uma cena de casamento. Ou o público cobre a cabeça com um jornal quando Brad e Janet o fazem também para se proteger da chuva. Existem clubes de fãs do filme, que foi transmitido de geração para geração.

The Rocky Horror Picture Show

O espetacular é que nada disso aconteceu por propaganda da mídia, e sim pelo boca a boca, pelas próprias pessoas que começaram a interagir, a dançar e a interpretar disfarçadamente as projeções da tela.

A repercussão de The Rocky Horror Picture Show foi tão grande que em 2016 foi feita uma adaptação para a televisão. A novidade foi a inclusão de uma atriz transexual, Laverne Cox, no papel de Frank-N-Furter. Além disso, contou também com a intervenção de Tim Curry, o Frank-N-Furter de 1975. Além disso, a série Glee teve um episódio em que o filme era homenageado. Poderíamos seguir nomeando uma infinidade de homenagens e referências a essa peculiar obra.

The Rocky Horror Picture Show é um musical que nunca sai de moda, que segue sendo atual, que antecipou uma revolução e libertação sexual cuja essência segue perdurando até nossos dias. É um daqueles filmes que, a cada vez que vemos, conseguimos enxergar algo novo que antes havia passado batido. Criou um novo jeito de ir ao cinema e de ver um filme, sua banda deixou uma marca e abriu caminho para toda uma série de filme musicais que continuaram na mesma linha. Sem dúvida, é um filme que devemos ver pelo menos uma vez na vida.

“Os humanos são apenas insetos se arrastando pela superfície do planeta”
-Criminologista, The Rocky Horror Picture Show-


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