Trauma na infância: tudo o que você precisa saber

O trauma na infância é um dos assuntos mais desconhecidos pela opinião pública, mas também um dos mais pesquisados por causa da forma como esse tipo de fenômeno incide na vida dos pequenos que são afetados.
Trauma na infância: tudo o que você precisa saber
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O trauma na infância e na adolescência é bastante estudado. Algumas crianças crescem com a situação traumática e vivenciam o evento como uma porta de entrada para uma nova realidade. Enquanto isso, outras sentem que o evento traumático se instalou no seu corpo ou sua mente. Ele é vivenciado como um medo constante de que o fato terrível aconteça novamente, como um pensamento de que estão destruídas para sempre e que as coisas nunca mais serão as mesmas. Uma consequência frequente é a culpa ou a perda da confiança em outras pessoas.

As pessoas reagem de maneiras muito diferentes e não há forma certa ou errada de reagir. Uma vez que as crianças e os adolescentes reagem de formas diferentes, falamos de “eventos potencialmente traumáticos”.

Os eventos potencialmente traumáticos podem ser, por exemplo, abuso sexual, abuso, experiências de violência, testemunhar violência entre os pais, desastres, acidentes, morte súbita de familiares próximos, guerra e experiências relacionadas a refugiados.

Alguns tipos de bullying escolar também podem ter efeitos traumáticos. Além disso, as doenças crônicas que cursam com muita dor e experiências hospitalares assustadoras também podem causar traumas. Tais incidentes são avassaladores porque podem ameaçar a sensação de segurança e autoestima da criança e levar a uma experiência prolongada de perigo e desamparo.

menina triste chorando

Trauma na infância: como se expressa em diferentes faixas etárias

Acredita-se que o trauma na infância seja grave porque afeta os processos de desenvolvimento das crianças. Os sintomas podem se manifestar de diferentes maneiras, dependendo da idade da criança.

Muitos sintomas geralmente observados em crianças após um trauma são normais para crianças de determinadas idades, tais como dificuldades para dormir em bebês, pouca capacidade de prestar atenção e raiva em crianças pequenas.

Quanto mais jovem a criança, menos específicos podem ser os sintomas. Estudos mostraram que o estresse precoce e severo pode afetar o desenvolvimento do cérebro. É importante saber que o cérebro é constantemente afetado pelas nossas experiências e que é hábil em promover a sua autorreparação.

Assim, o mais importante é que as crianças que vivem em ambientes nocivos sejam identificadas e cheguem a um ambiente seguro onde possam receber apoio.

Trauma na infância em bebês e crianças em idade pré-escolar

Em bebês e crianças em idade pré-escolar, houve relatos de casos de ansiedade de separação, ansiedade fóbica, birras, enurese noturna, hiperatividade e dificuldade para dormir após um trauma.

Elas podem regredir na sua evolução e, por exemplo, querer dormir na cama dos pais, de repente, ou se recusar a brincar sozinhas. Além disso, elas também podem ter dificuldade para regular as emoções. O sentimento de insegurança pode dificultar a interação social, principalmente se os adultos mais importantes, por algum motivo, não puderem ajudá-las a compreender e interpretar as emoções.

Em crianças em idade pré-escolar é possível identificar dificuldades comportamentais e comportamentos de oposição, hiperatividade e dificuldades sociais. Elas também podem parecer excessivamente preocupadas com a própria segurança e a segurança dos outros, bem como parecer ansiosas.

As crianças mais velhas podem refletir sobre as próprias ações e responsabilidades. Portanto, elas podem sentir mais vergonha e culpa do que as crianças mais novas. Além disso, também podem manifestar problemas físicos de saúde, tais como dores abdominais e de cabeça, bem como dificuldade de concentração e problemas de aprendizagem.

O trauma na adolescência

Durante a adolescência, a identidade, a amizade e a separação dos pais são particularmente desafiadoras. A experiências traumáticas podem afetar esses processos de desenvolvimento.

Os jovens podem estar particularmente preocupados em não serem percebidos como diferentes, e é por isso que podem se afastar de amigos e familiares. Após desastres, eles podem desenvolver ansiedade de separação, o que pode interferir em seu desenvolvimento em direção à independência.

Além disso, também podem surgir dificuldades escolares e muitos desenvolvem pensamentos de vingança, bem como mudanças na percepção do mundo como previsível e das pessoas como boas ou más, o que aumenta o sentimento de insegurança.

Finalmente, crianças e adolescentes podem desenvolver sérias dificuldades neurofisiológicas, emocionais, sociais e psicológicas após eventos traumáticos. Eles podem desenvolver depressão, distúrbios comportamentais, psicose, abuso de substâncias, distúrbios alimentares e sintomas do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Fatores de risco para desenvolver um trauma

Os fatores de risco incluem gravidade, personalidade e dificuldades anteriores ao incidente. Além disso, a exposição a vários traumas, especialmente em combinação com a negligência, aumenta o risco de desenvolver sintomas.

Os primeiros dias

Durante os primeiros dias, o ambiente pode contribuir bastante para evitar dificuldades posteriores. Entretanto, é importante que a ajuda seja adaptada para que não interfira, mas sim apoie o “processo natural de cura” pelo qual a maioria das pessoas passa. As estratégias de ajuda na fase aguda devem ter como objetivo contribuir para cinco objetivos gerais:

  • Garantir a segurança.
  • Criar paz.
  • Facilitar o bom contato social com os outros.
  • Facilitar o controle.
  • Comunicar esperança.
menino triste

Tratamento se os problemas persistirem

Para alguns, esse apoio imediato não será suficiente para evitar o desenvolvimento de dificuldades e será necessária a psicoterapia. Atualmente, existem muitos métodos que foram estudados e que podem trazer bons resultados de tratamento.

O que a maioria deles tem em comum é o fato de que partem de uma avaliação criteriosa das dificuldades, recursos e desenvolvimento da criança. Assim, a intervenção se adapta aos problemas da criança e da família.

Os componentes principais que parecem se repetir na maioria dos métodos que se baseiam no conhecimento são os seguintes:

  • Fornecer à criança e à família boas informações sobre o trauma e a relação entre o que aconteceu e as dificuldades da criança.
  • Trabalhar para compreender e reduzir as reações de estresse e dor na criança e na família.
  • Ajudar a melhorar a regulação emocional e controle do medo, ansiedade e raiva.
  • Fortalecer o controle e manter rotinas diárias adequadas.
  • Falar sobre o que aconteceu e transformar pensamentos inadequados.
  • Se for relevante, trabalhar com experiências de luto e perda.
  • Trabalhar com os pais para fortalecer as habilidades parentais.
  • Garantir a segurança e praticar o reconhecimento e a gestão de situações de risco.

Terapia Cognitivo-Comportamental Focada no Trauma (TCC-FT)

Um modelo que contém esses componentes é a terapia cognitivo-comportamental focada no trauma (TCC-FT). As pesquisas mostram que a TCC-FT resolve com sucesso uma grande variedade de dificuldades emocionais e comportamentais associadas a experiências traumáticas únicas, múltiplas e complexas.

O trabalho clínico e a pesquisa de Judith Cohen, Anthony Mannarino e Esther Deblinger levaram ao desenvolvimento da TCC-FT.

Tendo como objetivo entender melhor as dificuldades que crianças e adolescentes traumatizados enfrentam, eles expandiram os métodos cognitivo-comportamentais tradicionais, ampliando assim o seu alcance ao incorporar a terapia familiar e usar uma abordagem sensível ao trauma na aplicação da terapia para crianças e jovens.

Na TCC-FT, as intervenções destinadas a atender às necessidades de crianças e adolescentes que vivenciam dificuldades emocionais e psicológicas como resultado de um trauma são integradas a estratégias humanísticas, cognitivo-comportamentais e familiares. Essa intervenção geralmente não costuma durar mais de 16 sessões, uma vez que mais de 80% das crianças traumatizadas apresentam melhora dentro desse espaço de tempo.


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