Ubuntu, a palavra emocional sul-africana que reflete na vida
Ubuntu é um princípio ético, um valor existencial que nos impele à interconexão, convivência e respeito. É um termo de origem africana e, especificamente, das línguas Zulu e Xhosa. De fato, entre os nativos da África Austral existe um belo ditado popular que diz “umuntu, ngumuntu, ngabantu” e que pode ser traduzido como ‘uma pessoa é uma pessoa por causa dos outros’.
A verdade é que é sempre interessante entrar em contato com esses legados linguísticos de outras culturas. Afinal, uma forma de entender e representar o mundo também está instalada nas línguas de cada país. Assim, no caso da palavra ubuntu, deve-se notar que ela evoca o próprio conceito de humanidade e que foi um símbolo da revolução que Nelson Mandela iniciou em 1990.
O clérigo e político Desmond Tutu também fez sua esta palavra para integrá-la naquela bússola moral que tentou trazer ao país africano ao longo de sua vida. Humildade, empatia, respeito, coesão… Estamos diante de uma ideia tão evocativa quanto filosófica, na qual vale a pena aprofundar um pouco.
“Uma pessoa com ubuntu é aberta e disponível para os outros. Ela apóia os outros porque porque acredita nela mesma. Ela sabe que pertence a uma grande totalidade que diminui quando outras pessoas são humilhadas ou menosprezadas, quando outras são torturadas ou oprimidas.”
-Desmond Tutu-
Ubuntu, o bem comum é o próprio bem
Muitos de nós tendemos a refletir sobre o sentido da vida quando chega uma certa idade. No entanto, seria mais enriquecedor e prático começar a fazê-lo desde muito jovem. Daí o papel da filosofia, dos conceitos que encerram em si todo um compêndio de valores, abordagens e nobres significados para pensar e fazer nossos o mais rápido possível.
Ubuntu significa ‘eu sou porque nós somos’ e poucas ideias resumem o que a humanidade é (ou deveria ser) tão bem. Como disse Desmond Tutu, este termo procura nos lembrar que a essência do ser humano está ligada à comunidade e à conexão respeitosa com os outros. Todos nós importamos, cada vida é importante e merecemos dignidade, respeito e consideração.
Juntos formamos uma unidade significativa quando nos respeitamos e, portanto, se prejudicarmos alguém, cada um de nós também se desumaniza. Desta forma, e se relembrarmos a época do apartheid e o sistema de segregação racial vivido no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 na África do Sul, podemos compreender o significado desta ideia.
A bondade nos conecta e dá verdadeiro sentido à vida
A bondade é a cola emocional que nos conecta uns aos outros, e é isso que dá verdadeiro sentido à vida. A pessoa com ubuntu não apenas pratica a bondade, mas também a sente e entende que sem ela nada se sustenta. O dano intencional prejudica a todos nós, e o horror de todas as formas de agressão vive dentro de nós por gerações.
Recordemos a reflexão de Erich Fromm sobre a sociedade desumanizada e seu medo de que o progresso tecnológico nos traga um mundo mais frio, mais egoísta e menos empático. A salvação ou a estratégia para que isso não aconteça é praticar o ubuntu, é lembrar que somente quando buscamos o bem comum, o nosso também prevalece.
Além disso, trabalhos de pesquisa, como o realizado na Case Western Reserve University, destacam que o altruísmo causa a própria felicidade. Como a filosofia ubuntu enfatiza, “eu sou porque somos e como estamos juntos, então eu sou”.
Ubuntu é um tipo de filosofia que enfatiza a unidade da humanidade. Este é um valor que está presente há gerações em muitos povos africanos.
A filosofia ubuntu para superar a divisão entre nós
Somos uma humanidade regida pela tecnologia, também pelas diferenças sociais, pela incerteza e por um profundo sentimento de solidão. Estamos mais conectados do que nunca, mas ao mesmo tempo nos sentimos vazios e até sem sentido na vida. Às vezes olhamos para o futuro com esperança e quase sempre com medo.
Neste mundo diverso governado por interesses infinitos e com grandes deficiências, precisamos mais do que nunca desse conceito, dessa filosofia. Ubuntu é o exercício da tolerância e do cuidado com o outro. Não podemos tratar os outros como seres descartáveis, porque assim criamos divisões e construímos muros que nos separam.
O sentido da vida é alcançar a unidade com os que nos rodeiam, respeitar, saber ouvir, ter empatia e criar pontes. Essa é a verdadeira felicidade, a solução que tempera e dissolve nossos medos e solidão. “Eu sou porque nós somos” é uma mensagem linda e esperançosa que vale a pena tornar em nosso mantra.
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