Vício em substâncias: a tolerância e a síndrome de abstinência

Vício em substâncias: a tolerância e a síndrome de abstinência
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Todos já ouvimos falar do vício em substâncias, da tolerância e da síndrome de abstinência. Mas o que significam exatamente estes termos?

De forma genérica, entende-se que o transtorno pelo vício em substâncias se aplica a todas aquelas substâncias que, introduzidas no organismo, afetam ou alteram o estado de humor e o comportamento. Entre elas, podemos encontrar drogas legais como o álcool ou o tabaco, ou substâncias ilegais como a maconha, cocaína, LSD, etc.

Hoje em dia temos dados impactantes sobre a prevalência do consumo de substâncias psicoativas. Acima dos 15 anos, 91% da população já consumiu álcool, e 64% consumiu tabaco. É ainda mais preocupante se observarmos o consumo de substâncias entre os 14 e os 18 anos: 66% consumiram álcool no último mês, e 37% consumiram tabaco.

Alguns aspectos fundamentais para entender por que ocorre o vício em substâncias são os processos de tolerância e abstinência. Ambos estão muito vinculados entre si, já que aparecem pela resposta compensatória do corpo. Mas antes de explicar isso, precisamos entender o que acontece em nosso cérebro quando consumimos uma droga.

Mulher aflita e angustiada

O consumo de substâncias e o sistema de recompensa

A maioria das substâncias psicoativas estão altamente relacionadas com o sistema de recompensa do cérebro e a dopaminaA dopamina é um neurotransmissor que é liberado quando realizamos comportamentos desejáveis, e sua função é que estes sejam reforçados para repeti-los em um futuro. Basicamente, a dopamina é o “prêmio” que o corpo nos dá na forma de prazer por fazer algo que parece legal.

As drogas provocam ou até mesmo chegam a simular a liberação de dopamina em nosso sistema de recompensa. Algumas, como o álcool, o fazem através de mecanismos indiretos, e outras, como as anfetaminas, têm uma composição química similar e agem como a dopamina.

Esta liberação falsa ao consumir drogas faz com que nosso sistema de recompensa se ative. Um conjunto de mecanismos que permite a associação de certas situações com uma sensação de prazer. Deste modo, nosso cérebro pensa que o consumo é benéfico para o corpo, apesar de ser, na realidade, muito prejudicial.

Agora, essas grandes descargas de “dopamina falsa” também provocam um desequilíbrio forte na homeostase do indivíduo. Isso leva o corpo a ativar seus mecanismos regulatórios para solucionar essa defasagem. Esta situação causa a tolerância e a síndrome de abstinência, processos que explicamos a seguir.

A tolerância e a síndrome de abstinência no vício em substâncias

Os mecanismos regulatórios de nosso corpo modulam a química cerebral para evitar que apareça um desequilíbrio interno. O consumo de substâncias é um exemplo em que isso acontece. Vejamos no que consiste.

Imagine que todo sábado você sai para uma festa e toma algumas doses de qualquer bebida alcoólica. Como o álcool é uma droga que simula as endorfinas, seu sistema opioide endógeno está hiperativado, o que gera uma liberação de dopaminas e uma sensação gratificante. O que acontece é que se este comportamento se repete, seu corpo aprende o que irá acontecer e gera uma resposta compensatória. 

É neste momento que entra a tolerância às drogas. No próximo sábado que você voltar a sair, seu cérebro, como já sabe que você vai consumir álcool e isso provocará um desequilíbrio, reduzirá os níveis basais de endorfinas. Isso fará com que seu sistema opioide endógeno se deprima, mas depois do consumo de álcool, voltará ao normal. Sua sensação subjetiva será de que o álcool não lhe provoca nenhum efeito, e terá que beber mais para compensar a queda compensatória devido à tolerância.

Agora veja bem, o que acontece se de repente você deixa o álcool? O que acontece com essa resposta compensatória? Apesar de você ter diminuído ou eliminado o consumo, a resposta compensatória segue aparecendo. Se voltarmos ao exemplo anterior, quando você sai em um sábado sem intenção de beber álcool, o cérebro pensará que sim, já que é o que tinha aprendido. Portanto, seu nível de endorfinas cairá muito, e ao não ser compensado pela ingestão de álcool, provocará uma ansiedade elevada. Isso é o que se conhece como síndrome de abstinência.

Homem enfrentando vício

Conclusão

A presença da tolerância e da síndrome de abstinência são sintomas evidentes de um transtorno pelo vício em substâncias. Quando começa aparecer a tolerância, também existirá abstinência ao deixar de consumir a substância. Além disso, o aparecimento da síndrome de abstinência costuma levar ao consumo da substância, para reduzir a ansiedade que provoca. Temos que levar em consideração estes mecanismos biológicos para entender os processos de vício.

O transtorno pelo vício em substâncias é um problema de saúde global. É necessário entender que ele causa uma variedade problemas sociais, de trabalho, pessoais e de saúde. Além disso, se o que queremos é melhorar a qualidade de vida das pessoas, é imprescindível conhecer os mecanismos de ação das drogas para tornar a população consciente dos riscos por trás do seu consumo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.