Você sabe o que você ama?

Você sabe o que você ama?

Última atualização: 28 outubro, 2017

A escolha de carreira e profissão passa muitas vezes por uma crise de questionamento: você sabe o que você ama? Sabe o que gosta de fazer?

Você é tomado por um desespero. Do que adianta querer fugir de onde se está se não se sabe sequer para onde ir? Depois de passar por isso por anos, hoje consigo trazer uma luz que pode servir pra quem está nesse momento.

Primeiro, a educação tradicional não valoriza individualidades e particularidades. É uma educação massificadora, voltada a criar mão de obra antes de seres humanos satisfeitos e autoconscientes. Não se respeitam aptidões, interesses, inclinações, autoconhecimento. Segundo, muitas vezes já sabemos as respostas mas não admitimos porque elas não terão o apoio das outras pessoas (assunto para outro texto).

Ansiosos e imediatistas que somos, principalmente a minha geração em diante, entramos em pânico. Queremos a resposta o quanto antes, pra agora, pra anteontem. E então sofremos… sentimo-nos impotentes, sem conseguir tomar uma decisão pra nos tirar do sofrimento. E nesse desespero, menos ainda vemos a resposta.

Você sabe o que você ama fazer?

Descobrir o que você ama não é um processo imediato

Não é de hoje que se fala muito que os  grandes inventores tiveram suas idéias geniais num momento de não pensar. Não é novidade que muitas inspirações artísticas surgiram de momentos de ócio, de relaxamento. Cada dia mais cresce a corrente do mindfulness e da meditação no ocidente, cultuando a necessidade desses espaços de vazio mental. E há grande razão nisso: sobrecarregar nosso mental com preocupações e pânico drena energia da tarefa principal de resolver efetivamente o desafio.

Então, num primeiro momento, RELAXE. Não se cobre as respostas todas de súbito. Cultive a paciência, como a natureza tem, de aguardar o tempo dos ciclos e processos naturais. Cada ser tem seu tempo pessoal e particular, que se move com um relógio muito único. Então cobranças, na maioria das vezes de origem externa, não podem encurtar a cronologia dos nossos processos interiores.

Apaziguada a mente, vem o segundo passo: não pense que sentar embaixo de uma árvore e esperar cair uma maçã na sua cabeça irá (pelo menos na maior parte das vezes) fazer brotar o insight mais incrível do nada. Serenidade mental não quer dizer passividade mórbida. Defendo que temos que ter uma ESPERA EM MOVIMENTO: ter paciência, mas se colocar em contato com ambientes, pessoas e materiais que vão te fazer caminhar para as respostas.

Muitas vezes sabemos de coisas que amamos muito, mas não exercemos suficientemente essas habilidades e interesses para ter aquela certeza firme de que é o que queremos, de que temos aptidão e de que conhecemos como é o cotidiano profissional da função. Em outras, gostamos de algumas atividades mas nunca pudemos, por mil razões, realmente exercê-las com algum grau de dedicação. Em qualquer dessas situações, faz-se essencial entrar em contato com cursos, eventos, vivências ou mesmo conversas com profissionais daquela área, tentar atuar como freela (ou até sem cobrar) para validar suas suspeitas (positivas ou negativas) sobre a atividade. Dessa forma, mais materializado e menos imaginado, é dado corpo e concretude suficiente pra perceber se os caminhos são esses ou não.

Então se jogue: no tempo livre que tiver, envolva-se em um pouco de tudo que seu coração e intuição disserem que faz sentido. Tenha coragem de se enfiar em ambientes totalmente novos e desconhecidos. No caminho, algumas suspeitas serão abandonadas, outras confirmadas, outras sofrerão mutações. O caminho é orgânico e dinâmico, e vai se moldando naturalmente conforme você segue a trilha dos interesses. E o mais lindo: você percebe que tem respostas que você não concluía porque sequer sabia que existiam. O mundo, diverso e veloz de hoje, tem um milhão de novas funções, profissões e atividades que sequer temos conhecimento. Como chegar a uma delas, se você nunca ouviu sobre? Quanto mais você está em contato com ambientes e assuntos que envolvem o que você ama, mais informações dessas, privilegiadas e certeiras, chegarão a você, de uma forma ou de outra. Nesse processo, você vai descobrir muita coisa de si mesmo e do mundo. E vai, enquanto ainda estiver sem decidir, pelo menos achar uma razão pra suportar a rotina difícil de não fazer o que gosta.

Você ama seu caminho profissional?

A escolha não precisa ser definitiva

No fim disso, também pode ser que já tenha vindo a luz. Ou pode ser que aconteça o que aconteceu comigo: Me vi interessada, igualmente, em uma multiplicidade de coisas. E entrei na segunda crise: será que a resposta nunca vai chegar? Como escolher?

Primeiro, uma crença limitante que eu tinha teve que ser extirpada: “nós temos que escolher e viver pra sempre com a escolha que fizermos”.

Qual o problema de mudar de caminhos mais de uma vez no percurso da vida? É uma crença ainda muito comum a de que a profissão e o emprego que escolhermos são para a eternidade; influência de gerações anteriores, que não tiveram tanta escolha pelas circunstâncias do tempo em que viveram. Mas isso não faz mais sentido (a não ser que você busque essa estabilidade, o que é possível). Talvez sem esse peso de uma decisão para a vida toda, sem a cobrança (muito grande) de perfeição (não valorizamos resiliência, pregamos a cultura de rejeitar os erros), tomaríamos decisões mais genuínas e muito mais leves. Então, se quiser ser algo hoje e depois de um tempo uma outra coisa, entenda que não há nada de errado com isso, isso não significa falhar ou desistir.

Por outro lado, algo que pode ajudar a esclarecer essa “multifacetariedade” de interesses é tentar observar o padrão entre todas as coisas que fazem pulsar seu coração, que te trazem o flow*: quais situações, nessas atividades diversas que você ama, causam uma satisfação particularmente palpável? Quando identificá-las, muito provavelmente você perceberá quais são os valores essenciais pra você numa carreira. Isso amplia possíveis funções e profissões, e por isso mesmo te deixa menos tenso em estar escolhendo algo em detrimento de outra coisa.

Dou meu exemplo para ilustrar: me vejo cada dia mais apaixonada por escrever minhas poesias e textos, feliz por fazer canecas personalizadas pintadas à mão, revitalizada com os voluntariados com que me envolvo, motivada pelo meu trabalho organizando viagens personalizadas para outras pessoas, inspirada pelos cursos de educação democrática, psicologia e terapias de cura com que me envolvo, cada dia mais certa do sentimento que flui quando eu canto e componho. Momentos todos em que me sinto VIVA, pertencente e inserida de fato nesse mundo, que não vejo o tempo passar e nem ligo de estar cansada ou com sono.

Você me perguntará: o que há em comum entre tanta coisa diferente? Pois é, não foi tão fácil identificar de primeira, mas hoje, depois de refletir sobre tudo isso (agradeço à amiga Camila pelo insight!), percebi: em todas essas práticas, os momentos “uau”, de plenitude e satisfação, envolviam 3 coisas: oportunidade criativa (criar no sentido amplo, artístico ou não), utilização da minha sensibilidade e visualização clara do impacto positivo gerado pela minha atividade na vida de outras pessoas.

Ou seja: há uma linha mestra nesse caos que parece desconexo (é caórdico!) Hoje, fico tranquila em saber que existe um universo enorme de atividades profissionais e de hobbies, desde os mais simples até os mais complexos, que podem preencher esses valores, fazer-me sentir completa e ainda trazer um retorno financeiro.

Abrace o (suposto) caos, mergulhe nas profundezas das suas paixões, e extraia as respostas que sempre estiveram dentro de você.

Saiba mais sobre o trabalho de Marian Koshiba, autora deste artigo, em sua página Sentimentos Errantes.


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