3 tipos de dislexia

3 tipos de dislexia
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A dislexia é um transtorno que afeta a capacidade de leitura e a compreensão da linguagem escrita. Ela envolve uma dificuldade em recitar o alfabeto, nomear letras e analisar e classificar os sons. Além disso, na dislexia são frequentes as omissões, substituições, distorções, inversões ou adições, lentidão, hesitação, além de problemas de monitoramento visual e déficits na compreensão. No entanto, nem todos se apresentam da mesma forma, portanto, podemos falar sobre vários tipos de dislexia.

Para entender os diferentes tipos de dislexia, é necessário entender que na leitura há um processo de duplo caminho. Isso quer dizer que nosso cérebro tem duas maneiras de ler palavras, uma visual e outra fonológica. A primeira delas, a rota visual, consiste em ler as palavras como um todo, recorrendo à memória através de seus aspectos superficiais; isso só pode ser feito com palavras familiares, uma vez que as palavras desconhecidas não estão armazenadas na memória. A rota fonológica implicaria a leitura através de uma transformação grafema-fonema uma por uma, muito útil para ler palavras desconhecidas.

Agora, se alguma dessas rotas está danificada, isso resultará em uma dislexia particular. Neste artigo, vamos falar sobre os diferentes tipos de dislexia que surgem quando diferentes funcionalidades de leitura são danificadas. Em particular, trataremos da dislexia superficial, da dislexia fonológica e da dislexia profunda.

Tipos de dislexia

Tipos de dislexia

Dislexia superficial

As pessoas que sofrem de dislexia superficial têm uma deficiência seletiva na capacidade de ler palavras com pronúncia irregular. Este é um tipo de dislexia que não aparece em todos os idiomas, porque nem todos os idiomas possuem palavras com pronúncia irregular. Por exemplo, o espanhol não tem, mas o inglês sim. Uma manifestação desta dislexia seria encontrada na dificuldade de pronunciar “steak” (irregular) frente a “speak” (regular).

A dislexia superficial se encaixa com um dano na rota visual ou de acesso direto às palavras. Podem ler perfeitamente as palavras regulares, através de uma tradução de cada grafema a fonema, mas com as palavras irregulares, essa estratégia não é útil. Eles também não têm problemas para ler palavras inexistentes ou pseudopalavras, o que é mais uma evidência de dano na rota de acesso direto.

Outro aspecto chave desta dislexia é que a capacidade semântica não está danificada. Inclusive, se não são capazes de ler a palavra corretamente, ainda podem compreendê-la se lhes dizem em voz alta e pronunciam corretamente. Assim, o dano é restrito apenas à capacidade de leitura do indivíduo.

Dislexia fonológica

Os indivíduos que sofrem de dislexia fonológica têm um distúrbio seletivo da capacidade de ler palavras desconhecidas ou pseudopalavras, enquanto mantém sua capacidade de ler palavras familiares. Por exemplo, teriam dificuldade em ler “amoroso”, mas poderiam ler a palavra “amor” sem qualquer problema.

Isso nos mostra que a rota danificada é o caminho fonológico. Portanto, as pessoas que sofrem de dislexia fonológica seriam incapazes de traduzir as palavras de grafema a fonema. E, portanto, teriam dificuldade em ler as palavras, desconhecidas ou inexistentes, que não sejam familiares. Por outro lado, uma vez que a rota direta está intacta, não terão nenhum problema para ler palavras conhecidas ou familiares.

Nesses pacientes também há uma dificuldade adicional para ler palavras funcionais (o, a, um, ante…). Provavelmente, isso acontece porque elas são muito abstratas e não têm conteúdo. Mas os resultados das pesquisas são confusos, e devemos ter cuidado com a dislexia fonológica; uma vez que pode haver mais danos do que aqueles que afetam diretamente a via fonológica.

Pessoa lendo livro

Dislexia profunda

À primeira vista, parece que a dislexia superficial e a fonológica esgotam as possibilidades das consequências de uma lesão em um modelo de duplo caminho. No entanto, há mais um modelo dentro dos tipos de dislexia: a dislexia profunda. Apesar da sua semelhança com a dislexia fonológica, possui uma característica que a define: as paralexias semânticas.

A paralexia semântica ocorre quando o sujeito, ao invés de ler a palavra escrita, produz uma palavra diferente, mas com um significado relacionado com a original. Por exemplo, diante da palavra escrita “filha”, é provável que o paciente diga a palavra “irmã”. É um fenômeno muito interessante, que nos indica a existência de lesões na hora de determinar a semântica das palavras.

Outro aspecto chave que nos mostra o dano semântico é que a imaginação da palavra mostra o grau de dificuldade de leitura. Quer dizer, em conceitos para os quais é difícil construir uma imagem mental haverá uma pior performance de leitura; em vez disso, nos conceitos que são fáceis de representar mentalmente o desempenho de leitura será melhor. Isso nos mostra que existem dificuldades na hora de buscar a palavra dentro da rede semântica. E, por isso, quanto mais dados mentais tivermos disponíveis sobre ela, mais fácil será localizá-la e lê-la.

A dislexia é um distúrbio complexo que nos fornece muitas informações sobre como funciona nossa capacidade de se relacionar com a linguagem. Compreender os diferentes tipos ou categorias nos ajuda a entender a estrutura e a funcionalidade do idioma. Por esta razão, o estudo e a pesquisa exaustiva são essenciais se quisermos compreender em profundidade os fundamentos da comunicação e detectar a origem de possíveis falhas na mesma.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.