5 conceitos fundamentais na obra de Byung-Chul Han

A obra de Byung-Chul Han é um chamado à resistência frente a fenômenos como a produtividade sem limites, a digitalização da vida e a servidão consentida, realidades contemporâneas que estão nos deixando doentes.
5 conceitos fundamentais na obra de Byung-Chul Han
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 02 julho, 2020

A obra de Byung-Chul Han é uma das mais interessantes da atualidade. No entanto, embora já seja muito famosa e aclamada, ainda não se popularizou o suficiente. Por isso, vale a pena fazer uma análise de seus postulados, sobretudo se estamos interessados em refletir sobre o estilo de vida atual e o rumo que estamos tomando.

Esse filósofo e escritor sul-coreano também é especialista em estudos culturais e se transformou em uma das vozes mais reconhecidas do pensamento contemporâneo. A obra de Byung-Chul Han está centrada em fenômenos muito atuais, como a tecnologia, a cultura do trabalho desmedido ou os efeitos da globalização do capitalismo.

“Quem fracassa na sociedade neoliberal do rendimento se acha responsável por isso e se envergonha, em vez de questionar a sociedade ou o sistema. É nisso que consiste a especial inteligência do regime neoliberal. (…) No regime neoliberal da autoexploração, a pessoa direciona a agressão a si mesma. Essa autoagressividade não transforma o explorado em revolucionário, mas em depressivo”.
– Byung-Chul Han-

Alguns dos títulos mais famosos na obra de Byung-Chul Han são Sociedade do Cansaço, Agonia do Eros, Topologia da Violência e Psicopatia: neoliberalismo e novas formas de poder, entre outros. Nessas obras, há alguns conceitos que se sobressaem e se configuram como eixos principais de sua forma de ver o mundo. Vamos nos aprofundar um pouco mais em alguns deles.

Conceitos fundamentais da obra de Byung-Chul Han

1. Autoexploração

Grande parte da obra de Byung-Chul Han se alicerça na reflexão sobre como trabalhamos hoje em dia. Em uma entrevista concedida ao jornal El País, resumiu seu pensamento em uma frase: “Agora as pessoas exploram a si mesmas e acreditam que estão se realizando”.

Para Byung-Chul Han, o homem atual segue um mandato social: fazer tudo o que PUDER. Até pouco tempo, as pessoas faziam o que DEVIAM. Agora, o ser humano acredita que deve alcançar o “sucesso”, mesmo às custas de si mesmo, e fica seriamente angustiado se não triunfa. O poder não precisa açoitá-lo. Cada um se submete a esse regime de trabalho e consumo de forma completamente voluntária.

Mulher estressada

2. Comunicação

Na obra de Byung-Chul Han, também há constantes referências aos fenômenos de comunicação da maneira como os conhecemos hoje em dia. Para ele, as relações têm sido substituídas pelas conexões. O que se estabelece é uma ligação entre fontes de informação dispersas pelo mundo.

Byung-Chul Han afirma que sem a presença física do outro não há comunicação, e sim troca de ideias. Todos os sentidos, exceto a visão, estão caindo em desuso. É por isso que, em partes, a comunicação se enfraqueceu visivelmente. Ao mesmo tempo, as pessoas só buscam seus “iguais”, aqueles capazes de dar likes nas suas ideias. Então, onde fica a diferença?

3. Jardim

Certamente, o conceito de jardim não é um dos mais trabalhados em filosofia. Na obra de Byung-Chul Han, ele tem a ver com a resistência às imposições do mundo digital. Essa esfera tem uma materialidade muito difusa e desprezível. Como afirma o filósofo: “o digital não pesa, não cheira, não opõe resistência, você desliza o dedo e pronto”.

Dessa forma, o conceito de jardim é um chamado a regressar às sensações concretas. Cheirar, sentir, apalpar… O pensador sul-coreano fala do “jardim secreto”, um espaço reservado no qual as pessoas voltam a entrar em contato com a realidade material, não mediada pelo digital. Na sua opinião, é uma forma de recuperar o que chama de “beleza original”.

4. O outro

O outro é um dos conceitos que está em crise na sociedade atual. Parece que o único lema é se igualar. As “tendências” e “o viral” são manifestações desse desejo de pertencer a um coletivo que marche em uníssono.

Byung-Chul Han diz que quanto mais iguais somos, mais a produção aumenta. Na sua opinião, a diferença é contrária aos objetivos do neoliberalismo. Se houvesse pessoas que utilizassem smartphones e outras que não, o mercado seria prejudicado. Atualmente, há um conformismo radical, uma enorme passividade que reduz o ser humano à condição de cliente ou de produtor.

Seguir o líder

5. O tempo

O tempo é outro desses elementos críticos no mundo atual. O filósofo afirma que é necessária uma revolução no uso do tempo. O que importa agora é a aceleração e o passageiro. Fazer tudo muito rápido e deixar ir embora assim que chega. É um atentado contra a permanência.

Para este pensador, é fundamental recuperar o tempo pessoal, ou seja, aquele no qual nos dedicamos a nós mesmos. Tempo próprio, para além do sistema produtivo. Recuperar os momentos de lazer e os momentos para a festa. Reservar tempo para o improdutivo, não para a “pausa” que torne o trabalho mais eficiente.

Sem dúvida alguma, a obra de Byung-Chul Han é uma das mais ricas e interessantes no mundo atual. E não é apenas uma obra. Ele mesmo vive de acordo com os postulados que professa. O que busca, acima de tudo, é defender seu ser e sua liberdade.


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  • Dow, S. R. (2015). Muchedumbre, artes y política. Byung-Chul Han y las racionalidades comunicativas contemporáneas. Palabra Clave, 18(2).

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