A amizade segundo a filosofia

O que é que a filosofia nos ensina sobre amizade? Descubra neste artigo através dos conceitos de virtude, reciprocidade, igualdade, amor, alegria e transformação.

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 23 abril, 2023

Todos nós temos amigos. Mas você já parou para pensar o que realmente é amizade? Estamos falando de um tema recorrente na filosofia, desde a antiguidade até os dias atuais. Neste artigo vamos explorar alguns dos principais conceitos filosóficos sobre a amizade.

Desta forma abordaremos um melhor entendimento deste tipo de relacionamento tão fundamental para o ser humano. E é que, desde a infância, cultivamos laços de amizade com outras pessoas. Com o passar do tempo, seu significado muda e tendemos a ter conceitos diferentes sobre amizade.

A filosofia sobre esse assunto também tem coisas a contribuir. Comecemos!

Amizade de acordo com a filosofia clássica

Aristóteles foi um dos filósofos antigos que mais refletiu sobre a amizade; Para ele, esse tipo de relacionamento tinha uma influência muito importante na moral de cada cidadão. Ou seja, por meio da amizade, a virtude individual poderia ser alcançada. Portanto, outras pessoas são necessárias para alcançar a melhoria ética ou de caráter.

Daí a importância da amizade para a filosofia, e para Aristóteles em particular, pois o mais relevante para este filósofo é cultivar a virtude de toda a sociedade. Isso se consegue por meio da amizade, pois a pessoa pode se conhecer melhor, sendo um estímulo para o aperfeiçoamento de suas virtudes éticas.

Amor mútuo na amizade

A reciprocidade é um dos pilares da amizade. É entendida como uma relação bilateral, dar e receber. Isso significa que o amigo está envolvido no vínculo de amizade e nele participa ativamente; caso contrário, é muito difícil manter uma relação de amizade.

Portanto, não haveria amizade se uma das pessoas envolvidas não se comprometesse com o relacionamento. Além disso, é um amor recíproco entre iguais e virtuosos. Ou seja, a amizade envolve igualdade de caráter e ações.

Igualdade na amizade

A igualdade é outra característica importante da amizade. O amigo é considerado  como outra pessoa que é igual a si mesmo. Ou seja, no outro você pode ver refletido sua pessoa e seu caráter.

Essa semelhança implica uma série de características comuns que compartilhamos com o amigo, como códigos, gostos e ideologias. Muitas vezes nos terá acontecido medir a amizade com base nas coisas em comum que compartilhamos com nossos amigos.

Em suma, a amizade é sobre reciprocidade e igualdade. Ela requer alguém além de mim através de quem eu possa me ver refletido.

Sentimentos de amizade

Os sentimentos que associamos à amizade podem ser diversos, mas com certeza há dois com os quais todos concordamos: amor e alegria. Ambos são conceitos que enriquecem ainda mais a definição de amizade segundo a filosofia.

O conceito de amor na amizade

O amor é entendido como o motor que torna duradoura uma amizade. Permite as diversas formas de existência e mantém a individualidade que cada pessoa possui. Ou seja, segundo essa perspectiva, podemos ter traços em comum com nossos amigos, mas a diferença sempre estará presente. Nesta desigualdade permanece o que é único para cada um de nós que nos distingue dos demais.

O que se busca destacar com o conceito de amor é que apesar das diferenças que possamos ter com nossos amigos, a amizade permanece. E isso porque o sentimento de amor subsiste. O sujeito humano tem permissão para continuar em sua individualidade e ainda pode ser amado e respeitado por outra pessoa. Isso é amizade verdadeira.

Alegria como um conceito de amizade

Quanto ao sentimento de alegria, a filosofia considera que une os indivíduos na amizade. São os momentos gratificantes que compartilhamos com nossos amigos que reforçam o vínculo de amizade.

Essa alegria exige que ambas as partes da amizade se alegrem uma com a outra. Ou seja, é na felicidade do outro que eu mesmo me contagio de alegria e a compartilhamos entre amigos. Nesse aspecto, a frase “bons amigos” faz sentido.

Mas e a amizade no sofrimento? Costumamos considerar que a “amizade em tempos ruins” é tão verdadeira quanto a amizade em tempos bons. Mas, apesar disso, algumas reflexões filosóficas sustentam que o sofrimento e a dor, se compartilhados com os outros, é difícil não ser infectado por eles.

Portanto, captamos a dor de nossos amigos porque é difícil não simpatizar com seu sofrimento. Para ser capaz de suportá-lo, é necessário um caráter forte. Além disso, em nossos relacionamentos deve predominar a busca pela alegria e não tanto pelo sofrimento. Portanto, amor e alegria são os sentimentos mais significativos da amizade.

Amizade como transformação

Às vezes pode acontecer de não valorizarmos o potencial transformador que pode nos fazer evoluir como pessoas. Neste aspecto, a amizade desempenha um papel muito importante, pois através dela se produz o estímulo necessário que permite o crescimento através da figura do amigo como desafio.

O que significa para um amigo ser um desafio? Trata-se da diferença que o outro representa, uma diferença fundada na individualidade de cada um. Nesse sentido, o amigo é considerado um inimigo, pois ele, com seus próprios ideais e gostos, vem colidir com a nossa própria subjetividade.

Ao mesmo tempo, o amigo considerado como inimigo, sendo uma pessoa diferente de mim, permite-me distanciar-me de mim para pensar em mim.  Nesse autopensamento pode ocorrer a transformação do sujeito que lhe permite crescer como pessoa. Dessa forma, esse amigo-inimigo vem me mostrar outras possibilidades de ser e agir.

Em suma, a amizade de alguma forma nos convida, segundo a filosofia, a refletir sobre uma das relações humanas mais fundamentais que temos. Talvez no dia a dia desconsideremos o fato de que laços de amizade trazem amor, alegria, reciprocidade e transformação. Retornar a eles pelo caminho da filosofia pode nos levar a refletir sobre nossas próprias amizades.