A arte de não amargurar a vida

A arte de não amargurar a vida

Última atualização: 14 janeiro, 2016

Um belo dia chegou às minhas mãos, por meio de uma amiga também psicóloga, o livro “A arte de não amargurar a vida” de Rafael Santandreu. Ela me emprestou dizendo: “Leia este livro, vocâ vai aprender bastante. Eu melhorei minhas terapias graças a ele e também cresci como pessoa.”

Comecei a lê-lo com entusiasmo e com altas expectativas, e ele certamente não me decepcionou. Na verdade, me impressionou. Logo percebi que estava apoiado na terapia racional-emotiva do famoso psicoterapeuta Albert Ellis, terapia com a qual eu me sentia identificada desde que descobri autores como o próprio Ellis ou Auger, mas era ainda mais radical e profunda. Era a torta na cara que eu precisava nesse momento e me fez abrir os olhos para muitos aspectos da minha vida.

“A arte de não amargurar a vida” não é o típico livro de autoajuda que apresenta a você o que quer ou precisa ler para que se sinta bem naquele determinado momento.

É um livro cujo propósito principal é nos tornar fortes emocionalmente. É limpar a sujeira dos seus óculos, das lentes que estão tão sujas que distorcem a autêntica realidade, criando uma realidade subjetiva apoiada nas próprias crenças irracionais da pessoa e provocando um mal-estar emocional importante.

Quando falamos de crenças irracionais, os psicólogos se referem a afirmações, avaliações, verdades e valorações subjetivas que nós vamos construindo desde a mais tenra infância, sobre nós mesmos, os outros e o mundo.

É a maneira como interpretamos o que nos acontece. Se os óculos estão limpos, teremos crenças racionais, apoiadas na razão e na realidade, que serão acompanhadas de emoções saudáveis.

Se os deixamos sujos, abrigaremos crenças irracionais, falsas, que não correspondem à realidade, que não nos ajudam a alcançar nossos objetivos e que provocam um grande sofrimento na pessoa. Ainda assim, para quem as tem, se convertem em verdades absolutas e indiscutíveis, e é então que surgem os problemas emocionais.

O livro nos ensina, como já dizia Epícteto, que não são as situações as que provocam nosso sofrimento emocional, mas sim nós mesmos, com nossas crenças irracionais e autodiálogo interno.

Temos uma tendência a pensar que há uma relação direta entre situação e emoção, mas se fosse assim, todo mundo reagiria da mesma forma diante das mesmas situações, e podemos comprovar que isso não é verdade. Portanto, a equação é mais complexa do que imaginamos.

Há um ingrediente intermediário que são as crenças e os pensamentos. Que boa notícia! Se eu com meus pensamentos acredito nas minhas perturbações, eu mesmo tenho também o poder para me sentir bem! Tudo depende de mim!

No livro podemos descobrir que algumas dessas crenças são exigências direcionadas a nós mesmos, aos outros e ao mundo, necessidades das quais ninguém realmente precisa, e angústias em relação a coisas que nem aconteceram e talvez nem irão acontecer.

Quando acreditamos que precisamos do que não nos faz falta para sobreviver, como a aprovação dos outros, o sucesso, um parceiro que goste de nós, o trabalho dos nossos sonhos, criaremos muita ansiedade. Se nunca conseguirmos ter estas coisas, nos sentiremos uns fracassados, mas se as tivermos, estaremos sempre angustiados pela possibilidade de perdê-las, portanto também não aproveitamos.

Não nos damos conta de que o único que realmente é necessário são a comida e a bebida, e que se temos isso resolvido, já podemos desfrutar muitíssimo da vida. O resto das necessidades é uma armadilha, coisas que acreditamos precisar, mas são uma mentira.

Quando estamos doentes de “terribilite” tendemos a avaliar tudo o que nos ocorre como terrível, insuportável, catastrófico, o mais dramático que poderia acontecer. Algo que poderia ser avaliado como “um pouco ruim” é qualificado automaticamente como “terrível” sem que intermedie um processo de raciocínio, por isso, evidentemente, provocaremos emoções de acordo com essa forma de processar a realidade: ansiedade e depressão.

A arte de não amargurar a vida

Utilizando a razão, nós podemos perceber que alguns dos nossos pensamentos e crenças são falsos e irreais, e que estamos fazendo mal a nós mesmos por “acreditarmos com convicção” em algo que não é verdade. Se usarmos bem a lógica, poderemos comprovar como nossas emoções se acalmam.

O primeiro passo será identificar o que acontece na sua cabeça. O que você está dizendo a si mesmo para se sentir tão mal? Que precisa da aprovação da sua mãe? Que se não trabalhar com algo relacionado ao curso que estudou é um fracassado? Que se não voltar a ter um parceiro a vida não terá sentido?

Uma vez identificadas suas crenças irracionais, você deverá lutar contra elas, combatê-las mediante questionamento e confrontação. Para isso, você terá que demonstrar a si mesmo que essas ideias são irreais. Algumas questões que o livro propõe são:

– Existem outras pessoas que são felizes na mesma situação? (ou em situações piores )

– Mesmo com esta adversidade, poderia realizar objetivos interessantes por mim e pelos demais?

– Em um universo infinito de planetas e estrelas que nascem e morrem sem cessar, existe algo realmente dramático? Isso que me acontece é tão importante? Realmente é terrível?

Quanto mais argumentos encontrarmos, mais facilmente poderemos estabelecer a crença racional e aprofundar-nos nela, até torná-la nossa.

Poco a pouco, elas irão se automatizando até se tornarem sua nova filosofia vital. Lembre-se de que as emoções negativas não desaparecem por completo, pois isso não é possível e nem recomendável, já que todas as emoções têm uma função importante para a sobrevivência.

O que irá desaparecer são as emoções desadaptativas, exageradas e insanas. Pode-se sair da prisão do mal-estar. Você já tem a chave. A liberdade e a felicidade estão garantidas.


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