A controvérsia entre Freud e Jung

Existiu uma grande controvérsia entre Freud e Jung. Neste artigo, vamos explorar um pouco mais o relacionamento dos dois.
A controvérsia entre Freud e Jung
Paula Villasante

Escrito e verificado por a psicóloga Paula Villasante.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Se a figura de Sigmund Freud é importante para entender a origem da psicanálise, a figura de Carl Gustav Jung também é. Psiquiatra suíço nascido em 1875, ele foi um dos psicanalistas mais importantes no nascimento e constituição da orientação psicanalítica. Hoje falaremos sobre a controvérsia entre Freud e Jung.

Jung ficou interessado no trabalho de Freud. No entanto, em uma certa altura, suas posições teóricas seguiram caminhos diferentes. Carl Jung foi expulso da Sociedade Psicanalítica Internacional da época. Assim, a controvérsia existente entre Freud e Jung é de grande importância, principalmente para pesquisadores da psicanálise e outros historiadores intelectuais.

A controvérsia entre os dois psicanalistas é um evento concreto na constelação de ações que moldaram a psicanálise que conhecemos hoje (1). Nesse céu, as estratégias retóricas e legitimadoras adotadas por Freud e o movimento psicanalítico para instituir, perpetuar e controlar a prática psicanalítica são de especial importância. Além disso, a segregação e expulsão de dissidentes foi uma questão central.

Como começou a controvérsia entre Freud e Jung?

A hipótese mais sólida sobre a tolerância de Freud em relação às divergências claras e precoces de Jung destaca o papel estratégico do psiquiatra suíço na consolidação e disseminação do incipiente movimento psicanalítico (2).

Aparentemente, a importância estratégica de Jung e dos suíços para a sobrevivência da psicanálise já havia sido declarada por Freud anos antes (2). Assim, em maio de 1908, Sigmund Freud confessou a Karl Abraham que “foi apenas por causa da aparição de Jung que a psicanálise escapou do perigo de se tornar um assunto nacional judaico”.

Dizem que o período mais complexo do relacionamento pessoal entre os dois foi por volta de 1912. Freud, de algu ma forma, tentou refutar as teorias de Jung, assim como ele fez com Adler.

Este foi um começo claro da controvérsia entre os psicanalistas. Não concordando com suas teorias, Freud apontou as contribuições de Jung como desnecessárias. Aqui surgiu uma clara controvérsia entre os dois homens que afetou notavelmente a psicanálise.

Como começou a controvérsia entre Freud e Jung?

Na primeira carta em que Jung expõe sistematicamente seus pontos de vista sobre o caráter simbólico do tabu do incesto, Freud responde que considera a inovação regressiva e excessivamente adleriana.

Diante disso, Jung responde indignado por ter comprovado com tristeza “que intensas razões afetivas contrárias às minhas propostas surgem em você” (McGuire & Sauerländer, 2012).

Nesta mesma resposta, datada de 8 de junho de 1912, Jung menciona suas futuras conferências na América. Quando Freud responde, ele diz a Jung que as suas interpretações do tabu do incesto e da libido estão erradas.

Antes disso, Jung responde em 18 de julho em tom negativo. Ele comenta com Freud que o sucesso ou fracasso em relação ao seu julgamento negativo sobre a inovação em matéria de libido e incesto seria estabelecido no “sucesso ou fracasso do meu próprio trabalho” (2).

Freud interpreta o último como “uma renúncia formal das nossas relações até então amigáveis. Sinto muito, não tanto por razões pessoais, mas pelo futuro dos Verein (associação) e a causa da psicanálise”(3).

Quatro anos depois, em 1916, Jung publicou seu trabalho composto por estudos sobre simbolismo e libido. Esse trabalho não foi muito bem recebido por Freud e seus companheiros, como já era esperado.

As conferências na América

Outro evento que marcou as diferenças entre os dois foram as conferências na América, que ocorreram em setembro de 1912. Jung fez uma série de palestras na Universidade de Fordham, que foram tema da objeção de Freud.

Ele também expôs, naturalmente, as minhas opiniões, em partes divergentes em relação às opiniões mantidas até agora. Refiro-me principalmente à teoria da libido. Tenho observado que a minha concepção de psicanálise ganhou muitos amigos, que até agora duvidavam do problema da sexualidade na neurose”.
 Freud, 11 de novembro de 1912 –

No entanto, Jung foi rápido ao argumentar que esperava que Freud aceitasse gradualmente as suas inovações, sendo que elas representavam esforços intelectuais que requerem um julgamento objetivo.

Jung sustentou que ele não identificava Freud com um dogma. Como ele teria mencionado em suas próprias conferências em 1912 na América do Norte, os suíços consideraram que suas reformulações não implicavam uma divisão no movimento psicanalítico, uma vez que “tais terremotos só podem existir em questões de fé. Mas a psicanálise é dedicada ao conhecimento e suas formulações estão em constante mudança”. (4)

Assim, Freud e seus colegas da psicanálise, como Ferenczi, começam a falar mal de Jung. Eles o consideravam um “místico incompreensível, um ocultista e um teopsicólogo”.

Diante desta e das subsequentes desvalorizações do trabalho de Jung, este se manifesta:

“Uma grande parte dos psicanalistas usa mal a psicanálise para desvalorizar os outros e o seu progresso através das sugestões usuais de complexos”.
 Jung, dezembro de 1912.

Carl Jung

A proposta política de Freud para Jung

Em termos formais, Freud ofereceu a Jung uma posição como colaborador da nova revista que ele pretendia criar. Em 3 de dezembro de 1912, Jung respondeu a essa oferta e deixou escapar a fixação de Freud pela neurose. Diante disso, Freud o instruiu a “cuidar mais da sua própria neurose do que da do próximo” (2).

O descontentamento de Jung com a atitude freudiana em relação às suas inovações e às dos outros psicanalistas está condensado em uma frase que ele endereçou a Freud em uma carta de 18 de dezembro de 1912:

“Quando você mesmo se libertar completamente dos seus complexos e não brincar mais de ser pai dos seus filhos, cujas fraquezas você aponta constantemente, e você prestar atenção a si mesmo, então concordarei em extirpar a minha pecaminosa falta de unidade comigo mesmo na sua frente de uma vez por todas”.
 Jung, 18 de dezembro de 1912.

O fim de uma relação pessoal

A correspondência entre os dois profissionais começou a diminuir a partir deste momento. A controvérsia entre Freud e Jung se tornou mais clara. Em 1913, foi realizado em Munique o IV Congresso Internacional de Psicanálise, do qual ambos os psiquiatras participaram.

A historiografia psicanalítica, com Freud em seus fundamentos, destacou o comportamento inadequado e errático de Jung neste congresso (2). No entanto, outras fontes descrevem que o congresso ofereceu uma perspectiva diferente.

Entre outubro de 1913 e abril de 1914, várias críticas psicanalíticas ao trabalho de Jung surgiram. Foram essas críticas e a sua violência que causaram a demissão do presidente da IPA (Associação Internacional de Psicanálise) até aquele momento, Carl Jung.

As relações entre os dois, bem como entre ambos e o movimento psicanalítico, eram problemáticas. A relação pessoal e profissional começou como uma relação formal, evoluindo para uma tutela paternalista por parte de Freud. No final, o distanciamento de Jung se tornou evidente.

A decepção de Freud com Jung foi marcada por emoções intensas, o que pode ser visto claramente nas cartas que eles trocavam, criando assim a controvérsia entre os dois psicanalistas sobre a qual estamos falando. No entanto, é possível dizer que a relação que esses dois homens tiveram foi uma grande contribuição para a história (4).


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  • Sulloway, F. J. (1991). Reassessing Freud’s case histories: The social construction of psychoanalysis. Isis, 82(2), 245-275.
  • McGuire, W., & Sauerländer, W. (2012). Sigmund Freud & Carl Gustav Jung: Correspondencia.
  • Paskauskas, A. (2001). Sigmund Freud – Ernest Jones. Correspondencia completa, 1908-1939. Madrid: Síntesis.
  • Fierro, C. (2015). A Cien Años de’Historia del Movimiento Psicoanalítico’: La Controversia Freud-Jung desde la Historia Crítica de la Psicología. Revista Peruana de Historia de la Psicología, 1(1), 7-27.

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