A distância compassiva como uma chave para o bem-estar

Se quisermos ajudar uma pessoa que está sofrendo, é necessário proteger o nosso próprio equilíbrio emocional para melhor apoiarmos o outro. A distância compassiva é um dos recursos que precisaremos utilizar para esse fim.
A distância compassiva como uma chave para o bem-estar
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A distância compassiva tem a ver com nos colocarmos em um espaço psicológico protetor, onde será mais difícil sermos impregnados pelas emoções dos outros. Implica dar apoio por meio da compreensão e da empatia, mas sem sermos tomados pela tristeza, angústia ou raiva alheia. Essa separação saudável e necessária é algo que nem todos sabemos aplicar ou desenvolver.

A maioria de nós já ouviu falar da síndrome da fadiga por compaixão. Ela consiste em uma forma de esgotamento físico, mental e emocional que se origina quando nos colocamos no lugar dos outros. Conectar-se com as realidades traumáticas ou complicadas das outras pessoas sempre deixa um rastro, um resíduo emocional que se aloja dentro de nós.

Profissionais como médicos, enfermeiras, psicólogos ou assistentes sociais vivenciam esse tipo de desgaste todos os dias. E isso acontece basicamente porque somos humanos. Porque é quase inevitável não se identificar com o sofrimento alheio, a ponto de sentir como se ele também fosse nosso. Assim, quando essa dinâmica se torna uma constante, as consequências podem ser graves.

Há poucas ideias mais importantes do que saber separar o próprio fardo do alheio. Afinal, só quando conseguimos nos distanciar adequadamente de quem sofre, é que podemos dar o melhor de nós para ajudar.

“O amor e a compaixão são necessidades, não luxos. Sem eles a Humanidade não pode sobreviver.”

-Dalai Lama-

mãe aplicando distância compassiva com sua filha

O que é a distância compassiva?

Talvez em algum momento possamos ver um animal sofrendo. Diante dessa circunstância, muitos se sentem tão comovidos que sentem um bloqueio: não sabem o que fazer. A dor emocional é tão intensa que se torna difícil reagir. O mesmo pode acontecer com um amigo que é diagnosticado com uma doença ou com um familiar que está passando por um momento difícil.

A capacidade de sentir empatia pela dor física e emocional dos outros é um processo que às vezes desativa os nossos recursos e mecanismos de ação. Experimentar essa realidade psicológica não é útil. Além do mais, pesquisas como as conduzidas pelo Dr. Paul Gilbert, do departamento de saúde mental do Kingsway Hospital em Derby, indica algo muito importante.

A compaixão surge no ser humano como uma vantagem evolutiva orientada para um único propósito: ajudar os outros. Portanto, ficar bloqueado por causa dessa sobrecarga emocional vai contra esse princípio fundamental. É aqui que deve agir a distância compassiva.

Entender sem fazer parte do drama

A distância compassiva é um recurso que funciona como compensação para a empatia , permitindo-nos filtrar a sobrecarga emocional. Trata-se de se colocar em um espaço de proteção a partir do qual podemos compreender a realidade mental do outro, mas sem sermos tomados pelo sofrimento alheio.

É importante notar que essa distância psicológica não significa ser frio ou excluir os nossos sentimentos. Quando alguém fica preso na sua dificuldade ou drama pessoal, passa a viver em um buraco negro no qual também podemos cair muito facilmente. Ainda mais se essa pessoa for alguém próximo.

Empatia é compaixão em ação, e algo assim só é possível quando aplicamos um pouco de distância. Somente a partir dessa situação, um pouco mais distante, poderemos alcançar clareza mental suficiente para sermos úteis. O importante é evitar essa overdose emocional que subtrai recursos e nos coloca no mesmo nível daqueles que estão sofrendo diante de nós.

A distância compassiva implica nos colocarmos no lugar do outro, mas sem nos apropriarmos da sua dor

Podemos nos colocar no lugar de um amigo ou parceiro que estiver sofrendo, mas devemos voltar para o nosso lugar em seguida. Não é bom ficar em um lugar que não seja nosso, pois vamos levar esse lugar para o nosso dia a dia. As consequências podem ser muito exaustivas. São as seguintes:

  • Reviver o drama da outra pessoa de forma contínua. Lembramos do sofrimento alheio como se fossem flashes, como uma forma de estresse pós-traumático.
  • Surge a fadiga por compaixão.
  • É comum sentir embotamento emocional. Quase sem nos darmos conta, começamos a nos sentir mais irritáveis, mal-humorados e tristes.
  • Surge também a exaustão física.
  • Temos dificuldade para tomar decisões e pensar com clareza.
  • A isso se acrescenta outro fator: sentir que não estamos sendo úteis para aquela pessoa que está passando por um momento ruim.

Chaves para aplicar a distância compassiva e emocional

Ao ouvir a palavra compaixão, é comum evocarmos qualidades como gentileza, piedade ou pena. Porém, essa é uma visão equivocada desse termo: a compaixão requer força, determinação e coragem para agir em benefício do outro e ajudar de forma autêntica.

O segredo é se conectar com as emoções dos outros sem deixar que elas nos dominem. Veremos qual é a manobra mental que devemos aplicar para que isso possa acontecer.

1. Uma viagem empática de ida e volta: a sua dor não é minha dor, mas eu a compreendo

Vamos visualizar essa imagem: uma viagem de ida e volta. A distância compassiva envolve se deslocar para o universo emocional do outro para então retornar ao nosso posteriormente.

Para isso, é bom repetir um mantra simples: a sua dor não é minha dor, mas eu a compreendo e também a sinto… Porém, ela não me bloqueia.

2. Sua obrigação não é salvar quem está sofrendo, mas sim acompanhar

A distância compassiva nos lembra que não é nosso trabalho carregar a dor do outro ou ser o seu salvador. Ainda que quiséssemos, não podemos resolver problemas que não são nossos. Não podemos fazer o trabalho do outro.

Porém, o que está ao nosso alcance é acompanhar, estar perto, ser um refúgio cotidiano e dar apoio sincero.

3. Estabelecer limites emocionais

Os limites emocionais nos permitem definir bandeiras vermelhas que os outros não devem ultrapassar. Por exemplo, a nossa disponibilidade emocional não pode ser ilimitada; não podemos ficar disponíveis 24 horas por dia, sete dias da semana, para os outros.

Devemos ter tempo para nós mesmos e temos todo o direito de dizer “não” quando não estivermos com disposição para ouvir alguém que está passando por um momento ruim.

mulher na montanha pensando em aplicar distância compassiva

4. Recarregar as emoções positivas depois de dar apoio aos outros

A distância compassiva funcionará sempre que mantivermos as nossas emoções de carga positiva em um nível ideal. Algo assim requer “reabastecer” a nossa mente com experiências e momentos significativos. Portanto, ter momentos de qualidade, desfrutar do lazer e satisfazer as nossas necessidades é a chave.

Além disso, outra estratégia ideal é fazermos uma pequena pausa quando acabarmos de dar o nosso apoio para alguém que está passando por um momento difícil. Fazer isso não é um ato de egoísmo, mas sim de autocuidado.


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