A falta de tempo: uma nova forma de "pobreza" que nos atinge
A falta de tempo gera um sofrimento psicológico gradativo e evidente. Somos quase como aquele coelho branco da Alice no País das Maravilhas que corre com um relógio repetindo sem parar: “Estou atrasado, estou atrasado para um compromisso muito importante, não tenho tempo, não tenho tempo…”. A sensação de que sempre faltam horas para quase tudo já é constante em muitos de nós.
Viver sujeito a obrigações, a uma rotina rígida e àquelas tarefas que se estendem ao infinito e ao indizível impõe barreiras ao nosso bem-estar e crescimento pessoal. Às vezes estamos tão focados em um tipo de realidade que não vemos que, ao nosso redor, existem mais portas, mais mundos e oportunidades. Tempo não é dinheiro, é vida, e acabamos perdendo-a de várias maneiras.
Nossa saúde está indo embora por causa daquela falta endêmica de descanso, satisfação e aquele bem-estar psicológico que faz parte dos momentos de lazer. Perdemos cota existencial porque os anos às vezes passam em um suspiro e, com eles, os sonhos que não podem mais ser realizados, experiências que não viveremos mais na nossa própria pele e, o mais importante, perdemos momentos com as pessoas que amamos.
A falta de tempo já é uma nova forma de “pobreza”
Todos nós já ouvimos em algum momento da vida que não existe falta de tempo, existe falta de interesse. É verdade que às vezes essa realidade pode acontecer. Porém, nos últimos anos, assistimos a um cenário tão complexo quanto problemático. Em primeiro lugar, vivemos em uma sociedade que concebe estar “ocupado” como ser “produtivo”.
Desde cedo integramos a ideia de que ocupar o dia com múltiplas tarefas nos dignifica. Quanto mais você faz, mais toma cuidado para não ficar ocioso, pois quem se deixa descansar pode estar deixando responsabilidades de lado. Todas essas ideias têm prejudicado a nossa saúde física e psicológica há anos.
Porém, nos últimos tempos, outro fator foi adicionado: as condições de trabalho são mais complexas, e um exemplo disso é o teletrabalho. Essa modalidade de trabalho, ainda carente de regulamentação adequada, nos sujeita (em média) a uma situação de alta sobrecarga em que as horas se diluem e podem se estender além das jornadas estipuladas.
Se adicionarmos também as responsabilidades familiares e domésticas, a falta de tempo não é apenas evidente, é um fato esmagador.
O sentimento de culpa
Ocupamos grande parte das nossas horas com o trabalho. Além dessas horas, aproveitamos o tempo restante para obrigações inevitáveis, como fazer compras, cuidar dos filhos ou cumprir outras tarefas que são essenciais. Depois de tudo isso, só nos resta o cansaço e a vontade avassaladora de ir para a cama e descansar.
Quando essa dinâmica se repete dia após dia, o sentimento de culpa surge inevitavelmente. Culpa por não cuidarmos de nós mesmos como gostaríamos, por não termos mais tempo para o companheiro, amigos, filhos, animais de estimação… Da mesma forma, esse sentimento também se projeta sobre nós mesmos.
Lamentamos a falta de tempo para fazer o que gostamos, o que nos identifica. Adiamos escapadas, viagens, cursos que nunca faremos, livros que se acumulam e que não vamos conseguir ler… Todas essas realidades minam a autoestima e minam o nosso estado de espírito.
As redes sociais e as vidas que gostaríamos de ter
A falta de tempo e a sua relação com o sofrimento psicológico, por sua vez, se intensificam com o uso da tecnologia. Apesar de quase sempre estarmos ocupados e com uma lista de tarefas pendentes a cumprir, sempre encontramos um momento para navegar nas nossas redes sociais.
A felicidade tende a brilhar nesses universos virtuais, imagens de lugares que gostaríamos de visitar, experiências a viver, coisas a descobrir, pessoas a conhecer… Essas janelas virtuais podem nos motivar em determinados momentos, mas também nos afundar. Porque essa realidade não é a nossa realidade, porque nem sempre as nossas obrigações nos permitem essas fugas, essas oportunidades…
A falta de tempo e a pobreza pessoal
Você pode ter um excelente emprego, ter um bom salário e ainda ser pobre. Porque a pobreza de tempo é outro tipo de miséria emocional, pessoal e psicológica que penetra profundamente na sociedade atual. Vamos pensar um pouco… uma boa conta bancária não adianta de nada se não tivermos tempo para curtir, para descansar, para nos relacionar…
A falta de tempo nos rouba a felicidade e também a vida. Tomemos, por exemplo, o termo karoshi, aquela palavra japonesa que designa as pessoas que morrem devido ao excesso de trabalho. Mas tenha cuidado, nem todos sofrem disso devido a um esgotamento ou a ataques cardíacos ou cerebrais. Por trás de muitas dessas perdas estão os suicídios.
Como começar a ganhar tempo para ganhar vida?
A falta de tempo tem um custo para a saúde mental, e isso é algo que exige mudanças. O complexo é que nem tudo depende de nós. A forma como a sociedade e os nossos horários se articulam nem sempre nos permite conciliar o trabalho com a vida pessoal, o profissional com o familiar e o obrigatório com o desejável.
Uma pesquisa realizada pela Dra. Therese Macan, da Universidade de Missouri, indica que, nesses contextos, nem sempre as estratégias de gerenciamento do tempo são úteis. Isso pode nos permitir liberar alguma tensão, mas o esgotamento, por exemplo, ainda estará presente.
É verdade que é necessária uma reformulação profunda do nosso estilo de vida. Porém, na medida do possível, também podemos refletir sobre alguns aspectos. Estas seriam algumas ideias:
- Diferencie entre o urgente e o importante.
- Procure organizar o dia assim que você se levantar, procurando colocar o lazer e o descanso na agenda. É fundamental ter uma ou duas horas para fazer o que gostamos.
- Aprenda a delegar responsabilidades.
- Encontre tempo durante a semana para compartilhar com a família e os amigos.
Para concluir, não nos esqueçamos de refletir mais uma vez sobre esta ideia: a falta de tempo também é pobreza, e esse tipo de miséria emocional e existencial também vai roubando nossas vidas aos poucos.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Macan, T. H. (1994). Time Management: Test of a Process Model. Journal of Applied Psychology, 79(3), 381–391. https://doi.org/10.1037/0021-9010.79.3.381
- How do I improve my time management skills?