O conceito de generosidade a partir de uma perspectiva psicológica

Neste artigo, analisamos os benefícios psicológicos da generosidade. Cada vez conhecemos mais consequências positivas desta atitude de entrega que não espera retorno.
O conceito de generosidade a partir de uma perspectiva psicológica
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Nos últimos anos têm surgido estudos com dados que apoiam os benefícios de praticar a generosidade. Alguns autores humanistas-existencialistas, especialmente Erich Fromm e Vikor Frankl, destacam os valores éticos e o amor em suas diferentes variantes.

Nesse sentido, Fromm afirma que os valores éticos e o amor constituem uma fonte de bem-estar psicológico e uma característica de pessoas emocionalmente saudáveis (Oberst, 2005).

A generosidade e a gratidão são dois conceitos importantes que denotam a excelência do caráter pessoal (Emmons & Sheldon, 2002). Além disso, de certa forma, são complementares.

A relação entre estes dois conceitos se inicia com um processo afetivo de “dar” um bem material, conselho ou ajuda a outra pessoa sem esperar reciprocidade; a generosidade é um comportamento pró-social que proporciona bem-estar para a outra pessoa (beneficiada).

Maslow (2001) fala da “natureza generosa” do ser humano como oposta ao egoísmo. Ele afirma que existe uma relação entre o comportamento generoso e a saúde psicológica, já que o comportamento generoso procede da “abundância” e da “riqueza interior”.

Por outro lado, o comportamento egoísta é um fenômeno de pobreza interior, típico de pessoas neuróticas.

“A virtude e a generosidade são recompensadas de uma forma inescrutável”.
-Nelson Mandela-

Mão segurando coração de vidro

O conceito de gratidão a partir de uma perspectiva psicológica

A partir do ponto de vista ético, a gratidão é definida como uma virtude moral que, como tal, denota um bom comportamento (McCullogh, Kilpatrick, Emmons & Larson, 2001).

No entanto, a definição, como comportamento moral, obriga a agradecer por mandatos impessoais os benefícios recebidos (Blumenfeld, 1962).

Reconhecer e apreciar a pessoa que nos ofereceu ajuda não significa que estamos em dívida com ela. Embora muitos tenham sugerido que a gratidão e a dívida são equivalentes, eles são essencialmente diferentes (Watkins, Scheer, Ovnicek & Kolts, 2006). A dívida obriga o endividado a efetuar um pagamento ao credor.

É importante destacar que a ação do credor deve ser necessariamente generosa, e não um comportamento voltado para oferecer um benefício em busca de uma recompensa. O ato generoso não pode ter finalidades egoístas.

“A generosidade é um presente que cada um pode dar a si mesmo. Não há nada melhor para se sentir bem”.
-Franz-Olivier Giesbert-

A generosidade é um indicador de saúde mental?

A generosidade foi estudada especialmente no contexto da busca científica da origem do altruísmo. Além disso, atualmente vários estudos empíricos estimam que ela é um bom indicador de saúde mental.

O sentimento de comunidade também reside na base do bem-estar psicológico, razão pela qual a sua ausência constitui um indicador de um ajuste psicológico deficiente e de transtorno mental.

Quando a criança não consegue desenvolver um certo grau de sentimento de comunidade – como resultado, por exemplo, de uma educação excessivamente autoritária ou permissiva, entre outros fatores – surgem sentimentos de não pertencimento, de insuficiência, de inferioridade, e o famoso complexo de inferioridade (Oberst, 2005).

Estes sentimentos de inferioridade são difíceis de tolerar. Por isso, a tendência habitual é a de compensá-los com o que Adler chama de “afã de superioridade” ou “afã de poder”, aspecto que, segundo a Psicologia Adleriana, estaria na base de qualquer transtorno psicológico.

Mulher triste com a mão na janela

O indivíduo com sentimentos de inferioridade – e, portanto, com um sentimento de comunidade deficiente – desenvolveria o que Adler chama de “disposição neurótica” (Adler,1912/1993).

A disposição neurótica pode ter várias manifestações, que hoje ficariam definidas, com mais precisão, no neuroticismo – como traço de personalidade – e nos transtornos psicossomáticos e transtornos de personalidade.

A partir desta suposta inferioridade, nasce uma distorção da vida emocional: o neurótico não é mais capaz de se relacionar com os demais de maneira natural, espontânea. Pelo contrário: para compensar seu sentimento de inferioridade, tenta alcançar triunfos constantemente.

Quando esta disposição se acentua ou nela convergem problemas psicossociais, podem surgir deformidades de caráter, como a avareza, o rancor, a malícia, a crueldade, etc. Tudo isso para escapar do sentimento insuportável de se sentir inferior ou menosprezado.

“A generosidade aprecia a felicidade alheia como se fosse a responsável por ela”.
-Conde de Lautréamont-


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  • Adler, A. (191211993) El carácter neurótico. Barcelona: Paidós.

  • Blumenfeld, W. (1962). Los fundamentos de la ética y el principio generalizado de gratitud. Lima: Universidad Nacional Mayor de San Marcos.

  • Emmons, R. & Sheldon, C. (2002). Gratitude and thescience of positive psychology. En C. Snyder & S. Lopez (Eds.). Handbook of positive psychology (pp. 459-471). London: Oxford
    University Press.

  • Maslow, A. H. (2001) Visiones del futuro. Barcelona: Kairós.

  • McCullough, M., Kilpatrick, S., Emmons, R. & Larson, D. (2001). Is gratitude a moral affect? Psychological Bulletin, 127, 249-266.

  • Oberst, Ú. E. (2005). Las conductas prosociales,¿ un indicador de salud mental?. Aloma: revista de psicologia, ciències de l’educació i de l’esport Blanquerna, (16), 143-153.

  • Rodríguez, T. C. EL CONCEPTO DE GRATITUD DESDE UNA PERSPECTIVA PSICOLÓGICA. Rev. Psicol. Vol. 13 Nº 1-Enero-junio 2011, 105.

  • Watkins, P., Scheer, J., Ovnicek, M. & Kolts, R. (2006). The debat of gratitude. Dissociating gratitude and indebtedness. Cognition & Emotion, 20(2), 217-241.


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