A intuição é a alma que nos fala

Como explicam figuras como Howard Gardner e Daniel Goleman, confiar na nossa intuição pode nos ajudar a tomar decisões melhores.
A intuição é a alma que nos fala
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

Para Albert Einstein, a única coisa realmente importante era a intuição. Não é magia nem feitiço, mas aquela habilidade sutil que nos faz pender a balança para o lado, aquela que em pouco mais de dois segundos nos permite avaliar se uma pessoa é confiável ou não.

Apesar de haver uma grande quantidade de bibliografia que envolve a parte mais psicológica, pura e interessante da intuição, você ficará interessado em saber que este é um assunto amplamente estudado e analisado pela ciência.

Tanto é assim que um notável especialista em teorias da mente, Howard Gardner, fala sobre a necessidade de desenvolver um tipo de inteligência intuitiva, aquela com a qual podemos ser mais receptivos ao nosso mundo interior.

Se o estudo da intuição sempre despertou interesse, é porque é essa estratégia que norteia grande parte das nossas decisões diárias. Percorrer um caminho e não outro, desconfiar de alguém, recusar uma oferta de emprego, aceitar um projeto… Há quem medite muito diante das coisas; outros, por outro lado, se deixam levar pela intuição.

Nenhum marinheiro consulta um livro para saber enfrentar um oceano agitado. Ele se deixa levar pela sua intuição, por aquela voz interior que sabe ler os perigos e antever o melhor caminho, a melhor estratégia.

A intuição é a alma que nos fala

Intuição: o caminho do inconsciente para o mundo consciente

Ninguém pode garantir que, seguindo a nossa intuição, tomaremos as decisões mais bem-sucedidas. Porém, o que vamos conseguir é um aspecto igualmente importante: agir de acordo com nossas essências, valores, emoções e avaliações obtidas de acordo com nossas experiências anteriores. Daremos um passo com o equilíbrio interno adequado.

“Duvido que um computador ou robô se iguale à intuição do intelecto humano.”
-Isaac Asimov-

Um dos maiores nomes relacionados a este assunto é o do sociólogo e ensaísta Malcolm Galdwell. Por meio de seus estudos, ele mostra como corretores da bolsa, médicos, psicólogos, anunciantes, mecânicos e donas de casa são capazes de tomar as decisões certas em poucos segundos. Estamos, então, diante de um tipo de poder que vai além das habilidades psíquicas comuns? De forma alguma. Explicaremos melhor a seguir.

Características essenciais da intuição

Notamos que o interesse pela área da intuição vem crescendo. Você ficará interessado em saber que o Centro para o Estudo da Intuição (CAI) foi criado há 40 anos nos Estados Unidos. Este órgão é liderado pelo Dr. William H. Kautz, do Stanford Research Institute. O objetivo deste centro é estudar esta dimensão de uma forma científica e válida.

Poderíamos, portanto, dizer que hoje já encontramos um consenso sobre as seguintes conclusões:

  • A intuição é parte do que é conhecido como “inconsciente adaptativo”. Cada coisa aprendida, sentida, internalizada, pensada e vivenciada cria um conjunto único e particular de sabedoria que nos define. É a nossa essência, é um “capital mental” que usamos quase sem perceber todos os dias.
  • O poder da pessoa intuitiva está em saber usar esse capital como canal. O bom intuitivo saberá separar todos os galhos da floresta para encontrar o caminho no meio da encruzilhada. Porque decidir é a arte de descartar, e acredite ou não, a intuição é uma ferramenta formidável.
  • Existem pessoas mais intuitivas do que outras. A diferença está no foco, em quem se deixa levar mais por esse capital mental interno do que pelo filtro da lógica e da análise consciente da realidade.
  • Isso ocorre de repente e imediatamente. A intuição atua instantaneamente e sem o raciocínio do mediador. Nesse sentido, é uma reação que ocorre no indivíduo a um determinado estímulo ou situação. Muitas vezes, esse tipo de resposta é vantajoso, especialmente quando decisões rápidas são necessárias.
  • Pode ser desenvolvida. Graças à neuroplasticidade cerebral, o aprendizado da intuição é possível. Diferentes maneiras de conseguir isso foram propostas, incluindo técnicas como meditação e relaxamento.
Flor dentro de bolha

Como desenvolver nossa inteligência intuitiva

Antes de saber como podemos aprimorar nossa inteligência intuitiva, você pode se perguntar por que devemos fazer isso e como isso é útil. Temos que lembrar como funciona a inteligência tradicional, ou seja, por meio da reflexão e de um processamento mais lógico.

Graças a Howard Gardner, sabemos que existem muitos outros tipos de inteligência e todas são igualmente úteis. A inteligência intuitiva, por sua vez, nos permitirá trazer à tona nossa consciência e nossas emoções para podermos tomar decisões mais rápidas, ou pelo menos nos permitirá ter aquele outro tipo de informação “mais íntima” para poder contrastá-la com um ponto de vista mais racional ou convergente.

“Ouça mais a sua intuição do que a sua razão. As palavras moldam a realidade, mas não a são.”
-Alejandro Jodorowsky-

Conforme indica um estudo da University of New South Wales realizado pelos psicólogos Galang Lufityanto, Chris Donkin e Joel Pearson, a intuição e a vontade de desenvolvê-la e aprimorá-la podem nos ajudar a tomar decisões mais acertadas. Se não forem mais acertadas, pelo menos levarão em conta nossas necessidades autênticas, e algo assim já é importante.

Chaves para desenvolver inteligência intuitiva

Homem pensativo

A intuição é mais sentida do que pensada. Portanto, é necessário saber ouvir nossas emoções, entender o que acontece em nosso mundo interior para encontrar a calma e o equilíbrio.

  • Daniel Goleman recomenda que, após controlarmos e compreendermos as nossas emoções, nos permitamos pensar em Zen, que nada mais é do que alcançar um estado mental de profunda calma para ser mais receptivo ao nosso interior e, por sua vez, ao nosso entorno.
  • As mensagens que a intuição costuma enviar podem ser complexas: sensações, formas, palavras… É nosso trabalho saber interpretá-las. Quanto mais liberdade dermos à nossa mente, sem preconceitos ou barreiras, mais a nossa intuição irá emergir.

Por que é importante desenvolver a nossa intuição?

A intuição nos ajuda a nos relacionar com o mundo por meio de nossos valores, experiências passadas e informações armazenadas em nosso inconsciente. Além disso, esse tipo de conhecimento envolve sensações, emoções e o que é comumente conhecido como “palpites”, que representam contribuições inestimáveis para a avaliação da realidade.

Por sua vez, é uma capacidade que nos permite tomar decisões rápidas e automáticas. Além disso, permite-nos resolver problemas com base nas nossas características, sempre visando o desenvolvimento pessoal e a busca pelo bem-estar.

Por ser uma fonte irracional, em muitos casos a intuição desperta desconfiança, não é levada em consideração ou é rebaixada em prol do conhecimento intelectual, que geralmente é concebido como mais confiável ou correto. No entanto, é importante ter em mente que a intuição serve de guia para a tomada de decisões, e implica ter confiança e autoestima para confiar e acreditar nela. Porém, é sempre bom equilibrá-la com informações que vêm de outras fontes.

Para concluir, a inteligência intuitiva pode ser treinada todos os dias, desde que nos permitamos estar mais livres de pensamentos e, ao mesmo tempo, receptivos às nossas emoções.

A intuição não é só para mulheres, todos nós temos aquelas explosões de luz mental, aqueles palpites que nos orientam para uma opção específica que, no fundo, pode ser a certa. Vale a pena nos deixarmos guiar por essa linguagem especial…


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  • Gladwell, Malcolm (2017) Inteligencia intuitiva: ¿Por qué sabemos la verdad en dos segundos?. Madrid: Taurus.
  • Jiménez-Picón, N., Romero-Martín, M., Ponce-Blandón, J. A., Ramirez-Baena, L., Palomo-Lara, J. C., & Gómez-Salgado, J. (2021). The relationship between mindfulness and emotional intelligence as a protective factor for healthcare professionals: systematic review. International Journal of Environmental Research and Public Health18(10), 5491.
  • Hogarth, Robin M. Hogarth (2002) Educar en intuición. Paidós.
  • Lufityanto, G., Donkin, C., & Pearson, J. (2016). Measuring intuition: nonconscious emotional information boosts decision accuracy and confidence. Psychological science27(5), 622-634.

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