A personalidade é herdada? Saiba o que a ciência tem a dizer sobre isso

Temos uma chance de 40-50% de herdar um determinado traço de personalidade. Agora, por que eles são transmitidos? Como eles se manifestam? Quais são as características mais fáceis de herdar?
A personalidade é herdada? Saiba o que a ciência tem a dizer sobre isso
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A personalidade é herdada? Talvez tenhamos alguns vestígios do jeito de ser de nossos pais? E mais… nossos filhos podem desenvolver nossa introversão, insegurança ou aquela autossuficiência que nos define? Muitas pessoas já se fizeram essas perguntas.

Algo que devemos deixar claro em primeiro lugar é que a personalidade é multifatorial. Inclui múltiplas variáveis, tanto ambientais quanto sociais, as relacionadas às nossas experiências e, é claro, as genéticas. Portanto, a resposta para essa pergunta, a priori, é afirmativa: herdamos a personalidade da nossa família, mas apenas alguns traços, apenas algumas pinceladas.

Ninguém é um decalque de sua mãe ou um clone de seu pai. Somos pessoas que vão moldando sua personalidade ao longo dos anos, tomando como referência, acima de tudo, a experiência acumulada. Vamos mergulhar um pouco mais fundo nesse aspecto.

“A variedade de personalidades individuais é a maior fortuna do mundo.”
– Julian Huxley –

Pai e filho

A personalidade é herdada, mas existem nuances

Haverá quem se sinta orgulhoso de ter a perseverança da sua mãe. Outros, por sua vez, apreciam ter do pai aquela abertura social e a facilidade de se relacionar com os outros. Porém, diante dessas características, alguns podem se perguntar: esses fatores são realmente “genéticos” ou nos limitamos a imitar o que vimos em nossos primeiros anos?

Na verdade, quando se trata de construir a nossa personalidade, nossos pais costumam servir de modelo. Ou seja, integramos o que vemos, e muitas vezes nos comportamos da mesma forma que eles porque é isso que as crianças fazem: imitam o que veem. Agora, existem nuances. Estima-se que cerca de 40-50% da personalidade seja herdada.

O restante dos fatores está no ambiente social e no acúmulo de experiências. Há um estudo realizado pela Universidade de Minnesota na década de 90 que se aprofunda nessa ideia. A pesquisa foi feita com gêmeos monozigóticos separados. O objetivo era entender se, mesmo tendo crescido em ambientes diferentes, eles tinham semelhanças na personalidade.

A resposta foi sim. Eles não apenas compartilhavam o mesmo temperamento e personalidade, mas também tinham hobbies semelhantes e até um QI muito parecido. Ou seja, o componente genético está muito presente em nossa personalidade.

Criatividade, cordialidade, neuroticismo… Fatores que podem ser herdados

Herdamos de nossos pais a cor dos olhos, da pele, a altura e a vulnerabilidade a certas ameaças. No entanto, não tínhamos certeza sobre os fatores que mais condicionam essa herança, bem como os traços com maior probabilidade de serem herdados.

Parece que a criatividade é um deles, assim como as dimensões que aparecem na teoria dos “Cinco Grandes” de McCrae e Costa, ou seja, extroversão, neuroticismo, cordialidade, abertura à experiência e responsabilidade. Assim, uma das variáveis frequentemente observadas é aquela relacionada ao neuroticismo.

A instabilidade emocional e a tendência de experimentar estados como a ansiedade com mais frequência são aspectos que (às vezes) herdamos de nossos pais.

A personalidade é herdada, mas o fator ambiental tem um impacto maior

Sabemos que a genética é importante. A cada dia aprendemos mais sobre essa área, sobre nosso genoma e seus mistérios. No entanto, quando se trata de entender como a personalidade humana é construída, as variáveis ambientais são mais importantes do que as genéticas. Os genes não nos determinam 100%, mas o ambiente em que crescemos sim.

O que isso significa? Que tudo que acontece conosco nos torna únicos. Isso implica que o lugar onde vivemos, o que nos acontece e como interpretamos o que nos acontece, moldam nossa personalidade ano após ano.

Um estudo realizado na Universidade de Zagreb indicou algo notável. Às vezes, fatores genéticos herdados da personalidade de nossos pais podem se intensificar ou enfraquecer com o tempo. Isso nos lembra, mais uma vez, que a personalidade não é uma entidade estável e permanente. As pessoas evoluem, e isso pode envolver uma aproximação de como nossos pais são (ou eram) ou, ao contrário, o abandono de muitos traços e padrões.

Irmãos gêmeos

Se a genética é importante, isso significa que já nascemos com os fundamentos da nossa personalidade?

A personalidade é herdada; já sabemos que podemos exibir algumas características de nossos pais. Isso significa que todo bebê vem ao mundo com base em uma personalidade específica? Na verdade, não. Quando um bebê nasce, o que ele mostra é o temperamento, não um tipo de personalidade.

Estes temperamentos definem e explicam a forma como reagem ao ambiente: adaptam-se às rotinas, são mais ou menos enérgicos, choram com mais ou menos frequência, reagem mais ou menos aos estímulos, são mais ou menos exigentes, etc. Existem, portanto, crianças com temperamentos mais fáceis (adaptáveis) e outras que reagem com maior ansiedade, apreensão, etc.

Essas características podem, posteriormente, estabelecer a base para a sua personalidade. No entanto, a forma como os criamos, como os ajudamos a gerir as emoções e os orientamos no seu dia a dia, é o que vai construir – em parte – o seu modo de ser. Concluímos destacando algo importante: embora herdemos os genes dos nossos pais, não herdamos 100% a sua forma de ser, sentir, agir e reagir às coisas. A experiência e o ambiente são os fatores mais determinantes.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Baker, C. (2004). Behavioral genetics: An introduction to how genes and environments interact through development to shape differences in mood, personality, and intelligence. [PDF]  http://www.aaas.org/spp/bgenes/Intro.pdf
  • Bouchard, T. J., Lykken, D. T., McGue, M., Segal, N. L., & Tellegen, A. (1990). Sources of human psychological differences: The Minnesota study of twins reared apart. Science, 250(4978), 223–228.
  • Church, A. T. (2000). Culture and Personality: Toward an Integrated Cultural Trait Psychology. Journal of Personality, 68(4): pp. 651 – 703.
  • Vukasović, T., & Bratko, D. (2015). Heritability of personality: A meta-analysis of behavior genetic studies. Psychological Bulletin, 141(4), 769–785. https://doi.org/10.1037/bul0000017

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.