A psicologia do rancor

O rancor é um sentimento que te acorrenta a tudo que te feriu, e a dor nunca acaba.
A psicologia do rancor
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 30 março, 2022

Rancor é um sentimento profundo e persistente de raiva; um ressentimento profundo que desequilibra e adoece o corpo e a mente. A origem do ressentimento pode ser devido a vários motivos: insulto, quebra de confiança, engano, ofensas, maus-tratos.

O ressentimento cresce até que finalmente se transforma em desejo de vingança. Um desejo que se alimenta e o faz crescer a ponto de começar a ser insuportável. Dessa forma, pouco a pouco, o rancor se forma e a partir daí não é difícil passar para o ódio. Um ódio que nos impede de nos acalmar e observar as coisas à distância. Como afirma Alberto Acosta, Professor de Psicologia da Universidade de Granada, “o ressentimento requer experiências anteriores de raiva com a mesma pessoa que nos ofendeu”.

Todos nós já sofremos com isso em algum momento, às vezes adotando comportamentos que vão contra nossa verdadeira personalidade, para suportar os desequilíbrios e angústias que esse sentimento gera. Geralmente, todos nós vivemos fiéis aos nossos padrões de comportamento, mas estes nem sempre coincidem com o comportamento dos outros.

Onde alguns veem uma ofensa imperdoável, outros podem considerá-la algo sem importância. E embora o ato ofensivo em si tenha sido o mesmo, aquele que pensa que foi menos importante receberá menos danos.

O rancor te aprisiona

Mulher chorando agarrada a um arame farpado

Há uma fábula que exemplifica muito bem o que é o rancor e como uma pessoa o vivencia:

Dois homens dividiram injustamente uma cela de prisão por vários anos, suportando todos os tipos de maus-tratos e humilhações. Uma vez liberados, eles se encontraram anos depois. Um deles perguntou ao outro:

– Você se lembra dos carcereiros?

– Não, graças a Deus já esqueci tudo – respondeu – E você?

– Continuo a odiá-los com todas as minhas forças – respondeu o outro.

Seu amigo olhou para ele por um momento, então disse:

– Sinto muito por você. Se for esse o caso, significa que eles ainda estão afetando você.

“Crescer é aprender a amar, a sentir saudades em silêncio, a recordar sem rancor e a esquecer lentamente”.

Frida Kahlo

Como vimos na fábula, o rancor acaba se tornando uma prisão. Mas não uma imposta por outros, mas por nós mesmos. Esse sentimento de ódio profundo não nos permite avançar, porque continuamos arrastando tudo o que ficou no passado e que deveria ficar lá.

Mulher com pensamentos negativos

Uma arma perigosa que nos fere

Se você sente que alguém o prejudicou injustamente, é a vida que vai ordenar isso, mas ninguém deve se tornar um juiz. Só temos que ser responsáveis por nós mesmos, modificando os padrões de associação e tendo em mente que se alguém nos engana, isso não significa que outras pessoas também nos enganarão.

Somos únicos, não cometamos o erro de tentar fazer os outros pensarem como gostaríamos. A outra pessoa nunca pode ser o que precisamos que ela seja. Existem, portanto, inúmeras possibilidades de sermos enganados muitas vezes. É preciso aprender que tudo muda, e que também somos capazes de decepcionar mesmo sem querer.

Se tomarmos a decisão de transformar a amargura e a raiva profunda em ressentimento duradouro, estaremos fabricando uma pena maior. Sem dúvida, uma arma perigosa que desequilibra e adoece o corpo e a mente, impedindo-nos de aproveitar a vida. E não esqueçamos que, muitas vezes, o ressentimento causa mais danos do que as ofensas recebidas.

O ressentimento acaba, às vezes, se somatizando em nosso corpo, dando origem a doenças inexplicáveis que têm a ver com aquele sentimento muito negativo que arrastamos e guardamos dentro de nós. É claro que as pessoas podem nos decepcionar e que podemos ficar com raiva disso. Há muitos que nos machucarão e nos frustrarão e nos farão sentir impotentes.

“Guardar rancor é como pegar um carvão quente e se recusar a deixá-lo ir. O único que se queima é você.”

-Anônimo-

mãos soltando

Reflexão final

Continuar odiando quando tudo já aconteceu e não deixar de lado toda aquela dor que os outros nos causaram, será uma faca de dois gumes. Uma arma que se voltará contra nós e que as únicas pessoas que vai ferir seremos nós mesmos. Por que queremos fazer esse mal a nós mesmos?

O rancor reside dentro de nós e faz crescer o desejo de que as coisas dêem errado para a outra pessoa. Mas, se não pararmos esse ódio e se não o deixarmos ir, sofreremos muito.

Como o Mestre Thich Nhat Hanh descreve, “O momento que você ficar com raiva, você tende a acreditar que sua miséria foi criada por outra pessoa, e você a culpa pelo seu sofrimento. Mas olhando mais profundo, você pode achar que a principal causa do seu sofrimento é a semente da raiva em você. Muitas outras pessoas, enfrentando a mesma situação, não ficarão tão feridas quanto você.”

Ele acrescenta ” Se outras pessoas ouvem as mesmas palavras, veem a mesma situação e, no entanto, conseguem manter a calma e não se deixam levar pelas emoções. Por que você fica com raiva tão facilmente?”. Ele mesmo nos dá a resposta: “talvez aconteça com você porque a semente da raiva em você é muito forte. E como você não praticou métodos para cuidar da sua raiva, no passado a semente da raiva  cresceu”.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.