A decisão de não ter filhos e seus efeitos

A decisão de não ter filhos é uma opção crescente no mundo de hoje. Geralmente, isto se deve a fatores socioeconômicos ou ao pessimismo informado. Somente em alguns casos é o resultado de dificuldades em assumir compromissos.
A decisão de não ter filhos e seus efeitos
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

A decisão de não ter filhos, assim como a decisão de tê-los, é correta se obedecer a uma motivação bem fundamentada. Um filho muda completamente a vida individual e o relacionamento do casal. Portanto, este é um assunto sobre o qual somente o indivíduo pode decidir, e é melhor fazê-lo de forma consciente e sem qualquer tipo de pressão.

Lembre-se de que a decisão de não ter filhos é reversível, ao contrário da decisão de tê-los. Uma criança não pode ser apagada da realidade, mesmo que os pais decidam se afastar dela ou virar as costas para ela. Por causa disso, sempre será mais difícil escolher trazer uma nova vida para o mundo.

Uma criança proporciona sentimentos que nenhum outro vínculo desperta tão profundamente. Também implica compromissos inalienáveis que duram para sempre, isso se quisermos ser bons pais. Nem todo mundo se sente preparado para experiências tão profundas com outro ser humano, então a decisão de não ter filhos seria a mais acertada.

Nem todo mundo com útero precisa ter um filho, assim como nem todo mundo com cordas vocais precisa ser cantor de ópera.”

-Gloria Steinem-

Casal conversando na sala

A decisão de não ter filhos é respeitável

Antes de continuar esta reflexão, é importante notar que até um tempo atrás um forte tabu pesava sobre quem tomava a decisão de não ter filhos. No caso dos homens, de uma forma ou de outra, estava associada a uma determinada deficiência. No caso das mulheres, era visto como uma demonstração de egoísmo ou extrema frieza.

Embora o número de casais que têm filhos continue a ser maior, aumenta também o número dos que decidem não os ter. Atualmente, há mais liberdade para tomar esse tipo de decisão. A procriação não é mais vista como uma obrigação na vida de toda pessoa “normal”.

Insistimos que o que torna esta decisão certa ou errada são as motivações. Apesar disso, é até provável que seja cada vez maior a decisão de não ter filhos como mecanismo de adaptação a um mundo de condições hostis. A superpopulação nos induz, de uma forma ou de outra, a nos inclinarmos para as opções que melhor garantem nossa sobrevivência como espécie.

As condições econômicas

Uma das motivações para a decisão de não ter filhos é a situação econômica de cada um. Foi estabelecido que quem mais resiste à procriação são os homens das classes mais desfavorecidas e as mulheres das classes média e alta com sucesso profissional.

Em ambos os casos, o fator central na decisão são as condições econômicas. Num caso, porque as circunstâncias não permitem responder aos compromissos que ter um filho implica em aspectos básicos como a alimentação ou a educação. No outro caso, porque o asopecto profissional é absorvente e gratificante o suficiente para não deixar espaço para mais nada.

É impressionante, porém, que as mulheres de baixa renda não relutem tanto em não ter filhos quanto os homens das classes abastadas. Provavelmente, para elas um filho substitui a satisfação que não encontram em sua atividade econômica. E talvez eles não sintam que um filho represente uma grande mudança, na medida em que se assume que sua participação na gravidez e na educação não é tão exigente.

Casal conversando

Pessimismo como perspectiva

A decisão de não ter filhos também é muito típica de quem vê o futuro com pessimismo. Esta não é necessariamente uma resposta neurotizada às vicissitudes da realidade, mas muitas vezes obedece a uma avaliação objetiva de muitos fatores que pesam sobre a humanidade hoje. Existem tantas ameaças latentes no mundo de hoje que é muito difícil olhar para o futuro com esperança.

Um dos indicadores de que a sociedade vê o futuro de forma positiva é o aumento da taxa de natalidade. Foi o que aconteceu após a reconstrução de muitos países, após a Segunda Guerra Mundial: o famoso baby boom. Eram tempos em que um novo amanhecer se avistava no horizonte, exigindo uma aposta no amanhã.

Hoje está acontecendo quase o contrário. As notícias nos falam de crises, de deterioração, de declínio. Nos movemos diariamente por um mar de incertezas e mudanças negativas que nos pegam de surpresa. É o terreno fértil ideal para um pessimismo razoável, baseado em dados objetivos.

Seja como for, o importante na decisão de não ter filhos é que seja acompanhada de uma reflexão profunda e saudável. O mesmo vale para quem decide constituir família. Os filhos devem ser fruto do desejo de formar uma família e eles primeiro são gestados na cabeça e no coração para depois se tornarem um símbolo de amor à vida.


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