A síndrome das pernas inquietas e o córtex motor: como eles se relacionam?

A síndrome das pernas inquietas afeta a qualidade de vida de quem sofre desse distúrbio devido à alteração da qualidade do sono. Mas, em que consiste? Por que as pessoas sentem uma enorme necessidade de mover as pernas?
A síndrome das pernas inquietas e o córtex motor: como eles se relacionam?
Francisco Javier Molas López

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Javier Molas López.

Última atualização: 18 maio, 2023

O que é a síndrome das pernas inquietas? São 00:25 da madrugada. Eu tento dormir, mas é impossível. Toda vez que o meu corpo e minha mente tocam o sono, um formigamento começa a percorrer minhas pernas. Eu preciso movê-las. Eu levanto uma perna e a agito no ar. Eu levanto o outra e repito o mesmo movimento. Parece que tudo se acalma.

Eu tento dormir, mas o formigamento começa novamente. Levanto-me, dou algumas voltas ao redor do quarto, massageio minhas pernas e até mesmo dou pequenos golpes. Parece que o formigamento diminuiu. Eu consegui suavizar os sintomas da Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) o suficiente para deixar o sono tomar conta de mim.

A síndrome das pernas inquietas não é fácil de descrever. De fato, há uma crença de que as pernas se movem sozinhas. No entanto, o que realmente acontece é uma necessidade constante de mover as extremidades inferiores para parar o formigamento desagradável que passa por elas. Algumas pessoas o definem como formigas subindo e descendo ao longo das pernas, mas em que consiste essa síndrome e quais são as suas principais características? E finalmente, como ela se relaciona com o córtex motor? Vamos começar!

Síndrome das pernas inquietas

O que é a síndrome das pernas inquietas?

De acordo com a Associação Espanhola do Sono (ASENARCO), a síndrome das pernas inquietas consiste em um distúrbio sensorial e motor que é definido de acordo com quatro critérios diagnósticos principais:

  • Necessidade de mover as pernas. Normalmente acompanhada ou causada por uma sensação desagradável, dor ou desconforto.
  • Os sintomas se manifestam e se tornam mais intensos em situações de inatividade. Por exemplo, quando sentado, deitado ou pouco antes de dormir.
  • Os sintomas desaparecem ou melhoram com o movimento ou o estiramento das pernas. Enquanto a atividade dura, há uma melhora, embora possa reaparecer logo após o término dos movimentos.
  • Influência do ritmo circadiano. Os sintomas aparecem ou pioram à tarde ou à noite.

“Os movimentos periódicos das pernas aparecem em uma porcentagem muito alta de pacientes com SPI. Também chamadas de mioclonias noturnas, elas são caracterizadas por movimentos de flexão das extremidades inferiores no nível do joelho e tornozelo, com extensão do dedão do pé e relaxamento lento”.
– Francisco Aguilar, neurologista –

A Associação Espanhola do Sono também destaca vários critérios de apoio ao diagnóstico:

  • Aparecimento de distúrbio do sono.
  • Histórico familiar.
  • Exame neurológico normal.
  • Movimentos involuntários das pernas durante o dia.
  • Movimentos periódicos das pernas durante o sono.

SPI e o córtex motor

O neurologista Francisco Aguilar (2007), destaca entre as possíveis causas dessa síndrome a deficiência de ferro e a ingestão de antidepressivos tricíclicos, assim como os inibidores da recaptação seletiva de serotonina, lítio e cafeína. No entanto, novas descobertas relacionam a síndrome das pernas inquietas com o funcionamento anormal do córtex motor.

“A SPI também é observada em pacientes com lesões da medula espinhal e neuropatias periféricas. Em algumas ocasiões, tem sido vista em casos de osteoartrose vertebral sem danos neurológicos conhecidos”.
– Boned e Gonzalo, 2002 –

As pesquisas da Universidade Americana Johns Hopkins lançaram luz sobre a possível causa dessa síndrome. Aparentemente, poderia ser uma hiperatividade do córtex motor cerebral.

Dessa forma, novas vias de pesquisa podem ser abertas para ajudar a tratar essa síndrome de forma mais eficaz. Rachel Salas, professora de neurologia da Universidade Johns Hopkins, diz que “a região do cérebro que controla as pernas mostra uma maior excitabilidade cortical no córtex motor”.

Pés de mulher na cama

Tratamentos para a síndrome das pernas inquietas

Tratamento farmacológico

No campo da farmacologia, podemos destacar diferentes tipos de medicamentos para tratar a síndrome das pernas inquietas:

  • Os agonistas de dopamina, como o ropinirol, pergolida ou pramipexol, costumam ser os tratamentos mais aplicados.
  • Benzodiazepinas são geralmente prescritas para acalmar a sensação de formigamento e ajudar a adormecer.
  • Os antiepilépticos também estão entre os medicamentos utilizados para tratar esta síndrome, com destaque para a gabapentina e a carbamazepina.
  • Os opioides também são considerados pelo seu poder analgésico.

Tratamento não farmacológico

Fazer mudanças no estilo de vida poderá ajudar a aliviar os sintomas dessa síndrome, especialmente aqueles relacionados aos hábitos de sono. Alguns dos mais recomendados são:

  • Manutenção de um horário regular de sono.
  • Reduzir ou eliminar o consumo de substâncias como café, álcool e tabaco.
  • Fazer exercícios físicos com frequência.

Conclusão

Apesar dos avanços da ciência, ainda há muito a investigar. Com relação à síndrome das pernas inquietas, há muito a descobrir. Os pacientes afetados por esta síndrome não só deixariam de sentir uma desagradável sensação de formigamento nas extremidades inferiores, mas recuperariam a sua qualidade de vida.

Eliminar ou pelo menos reduzir os sintomas associados a esta síndrome é equivalente a adormecer adequadamente e poder descansar. Assim, durante o dia, o sono associado a uma noite mal dormida desapareceria, assim como o cansaço, a fadiga e a alterações do humor.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.