Perigo, birras à vista!

Perigo, birras à vista!
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 25 fevereiro, 2018

A criança diz: “Eu quero bala!”. Como pais, vocês acham que esse não é o momento certo para um doce. Mas vocês também sabem que a negação com certeza vai trazer uma consequência inevitável: a birra. Mas espere um pouco! Será que elas são realmente incontroláveis? Como acabar com as birras?

Você diz que agora não tem bala e, então, vê aparecer todos os sintomas… A criança começa a chorar e gritar, repetindo incansáveis vezes que quer uma bala. Vocês tentam conversar. Primeiro, com calma. Mas, em seguida, vocês vão ficando mais e mais nervosos e acabam gritando também… O que podemos fazer para que a situação não saia do nosso controle? Continue lendo e descubra!

“Um comportamento indisciplinado se parece com uma nevasca de inverno de curta duração.”
-Epicuro de Samos-

É normal que as crianças façam birra?

Quando somos crianças, não sabemos expressar de maneira adequada as nossas ideias. Ninguém parou para nos ensinar isso ou, se fizeram, nós ainda não temos capacidade suficiente de controle para colocar em prática. Por isso, entre um ano e meio e os cinco anos de idade é comum que as birras surjam como resposta às regras impostas que não estão de acordo com nossos desejos. Geralmente, chegam ao auge aos 2 ou 3 anos, sendo esse o período em que são mais frequentes.

Embora seja uma conduta de desobediência própria do estágio evolutivo das crianças, isso não quer dizer que não se pode colocar em prática medidas para que sua frequência diminua. Na verdade, se não for feito nada para que parem, as birras podem levar ao aparecimento de outros problemas de conduta mais graves à medida que os pequenos vão crescendo, como, por exemplo, o transtorno desafiador de oposição ou o transtorno de personalidade antissocial.

Para evitar que as crianças acabem recorrendo à agressão como habilidade para resolver conflitos e conseguir o que querem, é importante que os pais entendam uma coisa importante: o choro que aparece quando estão fazendo birra não aparece porque estão sofrendo muito, mas porque é a única ferramenta que possuem para conquistar seus objetivos.

“Uma conduta desalinhada aguça a inteligência e falseia o julgamento.”
-Louis de Bonald-

Menino fazendo birra

A extinção: nossa grande aliada para acabar com as birras

Dado que a birra é uma conduta que a criança apresenta, uma parte essencial para conseguir eliminá-la é reforçar outras condutas ou atitudes que são adequadas. Nessa linha de raciocínio, falar para a criança que gostamos quando ela está calma ou que gostamos quando ela nos pede as coisas sem gritar vai estimulá-la a agir assim mais vezes. O caso é que a atenção está na base da manutenção e do aumento da frequência das condutas.

Por isso, é preciso não dar atenção quando a birra acontecer e voltar a dar atenção quando a criança apresentar comportamentos que consideramos adequados. Essa retirada corresponde à extinção que explicaremos passo a passo a seguir. Mas antes de colocar em prática, é bom ter bem claras algumas ideias. Em primeiro lugar, é muito importante aplicar esse método de forma sistemática e continuar no nosso lugar, mesmo que a birra aumente de intensidade num primeiro momento.

Porque é isso que acontece quando a criança percebe que passa a ser ignorada nessas situações: ela vai fazer mais birra ainda e com mais intensidade, para ver se assim consegue a atenção que perdeu. Nesse momento em que a intensidade da birra aumenta, podemos fazer duas coisas: dar atenção ou ignorar. Se dermos atenção, estaremos reforçando o comportamento da criança. Estaremos dizendo: para conseguir o que você quer, você só precisa gritar mais. E com certeza nós não queremos isso.

O segundo cenário requer toda a nossa paciência porque, além de tudo, devemos ser sistemáticos com a nossa atenção. O objetivo é fazer a criança parar sozinha com a birra porque ela entende que assim não vai conseguir nada. Nesse caso, a mensagem que ela recebe é a seguinte: pode gritar o quanto quiser, você não vai conseguir nada assim. Essa mensagem vai ficar guardada na sua memória e ela vai marcar essa conduta como um fracasso. Assim, da próxima vez que quiser alguma coisa, é pouco provável que escolha o caminho da birra.

Por fim, é importante interiorizar que quanto mais tempo a criança estiver praticando essa conduta, mais difícil vai ser extingui-la. O caminho para conseguir que nosso filho pare de se comportar assim é difícil, mas se não começarmos em algum momento, as consequências a médio e longo prazos serão piores.

“São aqueles com quem vivemos e que amamos que sabem como nos enganar.”
-Norman Maclean-

Menino brincando com dentadura

A extinção passo a passo para acabar com as birras

Sabendo de tudo o que foi explicado até agora, é importante saber também que é preciso trabalhar o autocontrole na hora de aplicar a extinção para acabar com as birras. Outra ferramenta que podemos adquirir e que pode nos ajudar nesse aspecto é relaxar.

Então, como aplicar a extinção corretamente? Vamos ver como fazer isso passo a passo.

  • Quando a criança fizer birra, devemos ignorar esse comportamento e continuar com o que estamos fazendo como se não estivéssemos ouvindo.
  • É relevante falar para a criança apenas uma vez como nos sentimos em relação ao que ela está fazendo: “Eu estou ficando irritado(a)”, e explicar a conduta alternativa que queremos que ela adote “quando você estiver mais calma, a gente conversa”.
  • Então, devemos nos retirar da situação e esperar um tempo em minutos correspondente a cada ano de idade da criança. Se a criança continuar, devemos voltar ao que estávamos fazendo sem prestar atenção nela (ou seja, sem falar nem olhar para ela).
  • Assim que ela ficar mais calma, devemos dizer que gostamos quando ela está assim tranquila.

A verdade é que, quando a birra acontece, é muito difícil ignorar os gritos, os chutes ou os xingamentos. Mas conseguir fazer isso é essencial para que essas condutas desapareçam. Por isso, é muito importante conseguir se armar com paciência e agir com inteligência. Vamos acabar com as birras!

Imagens cortesia de Vance Osterhout, Hunter Johnson e Eddie Kopp.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.