Acompanhamento do luto, em que consiste?

O luto não é uma patologia e não precisa de cura. No entanto, o acompanhamento pode ajudar a pessoa que está de luto a processar melhor a perda. Veja porquê.
Acompanhamento do luto, em que consiste?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 16 abril, 2023

Sofrer uma perda significativa pode ser devastador, com certeza. Inúmeros processos psicológicos e emocionais são acionados na pessoa de luto, que, por algum tempo, vivenciará uma fase de reajuste. No entanto, por mais dolorosos e desconcertantes que sejam esses momentos, é preciso saber que eles não constituem nenhuma patologia, mas sim uma reação natural. Por esse motivo, a psicoterapia não é necessária, mas o acompanhamento do luto pode ser benéfico.

Isso não necessariamente é feito por profissionais, mas a rede de apoio próxima à pessoa pode exercer um papel fundamental. Acompanhar é criar um espaço seguro para as emoções, respeitar a desordem e a confusão e oferecer presença. Não é uma tarefa fácil e, por isso, muitas vezes não sabemos como ajudar alguém de luto. No entanto, existem algumas chaves que contribuem para isso.

Acompanhamento do luto ou intervenção psicoterapêutica?

Como dissemos, o luto é uma reação natural do organismo frente à perda. É um processo que ocorre para nos ajudar a superar a dor, integrar o que aconteceu em nossa história e seguir em frente. As emoções que o acompanham podem ser desagradáveis, mas não são patológicas. É por isso que, em circunstâncias normais, o luto pode ser tratado sem a necessidade de ajuda profissional.

No entanto, em certos casos, aparece o chamado «luto patológico». Isso ocorre quando a adaptação à perda é alterada e surgem emoções excessivamente intensas ou prolongadas ou, ao contrário, reprimidas e mascaradas. Nesse caso, as tarefas do luto ficam bloqueadas e a pessoa fica impossibilitada de seguir em frente. É aqui que a psicoterapia é necessária.

Por sua vez, um luto não patológico não precisa ser vivido na solidão. Na verdade, a presença, a companhia e o apoio de outras pessoas são fundamentais para superar a perda e seguir em frente. Esse acompanhamento deve ter uma série de características e elementos que o tornem adequado.

Mulher acompanhando seu amigo de luto
Durante o acompanhamento do luto, a pessoa não deve ser forçada a sair do escuro, ela é amparada com empatia e respeito.

Em que consiste o acompanhamento do luto?

Ao lidar com uma pessoa em luto, é difícil saber o que fazer ou dizer. Nossos medos vêm à tona, tornando-se um obstáculo para que atuemos como suporte. Para realizar um bom acompanhamento, os seguintes elementos devem estar presentes:

Respeito ao processo de luto

A maioria de nós não foi ensinada a lidar com as emoções. E, por isso, ver o outro sofrer é extremamente incômodo e perturbador; tanto que procuramos fazer o que for preciso para que sua dor desapareça.

No entanto, acompanhar o luto é entender que não podemos eliminar a dor do outro, nem dando soluções, nem tentando raciocinar ou intelectualizar sua situação. O maior apoio nesse caso não consiste em tirá-los dessa escuridão, mas em acompanhá-los, com empatia e respeito, enquanto passam por ela.

Interesse e foco pela pessoa de luto

Em consonância com o exposto, é necessário que saibamos sair da nossa própria realidade para focar na do outro. No acompanhamento, o que importa é o que a pessoa de luto sente e exige, não o que consideramos ser o melhor.

Dessa forma, temos que entender quando alguém quer falar e quando precisa de silêncio; quando procura um abraço e quando prefere um momento de solidão. Trata-se de saber ler quem temos diante de nós para poder dar-lhes o que necessitam, mesmo que isso não venha espontaneamente.

Ausência de julgamento

Se nos comprometemos a navegar no luto com outra pessoa, estamos concordando em trilhar esse caminho com ela, e não conduzi-lo. Cada um de nós é diferente e lida com a perda com suas próprias estratégias. É muito humano avaliar e julgar o outro, mas isso não contribui em nada de positivo. Cada pessoa é especialista em si mesma e sabe o que funciona melhor para ela; não somos ninguém para impor como devem se sentir ou agir, então a crítica deve sair do nosso repertório.

Espaço para a expressão emocional

Ventilar as emoções é uma tarefa fundamental no luto, mas para isso é necessário um espaço seguro. Não é fácil se abrir para outras pessoas, ficar vulnerável e arrasado. Se quem temos à nossa frente acolher nossos sentimentos com abertura e empatia, fica mais fácil.

O acompanhamento do luto também consiste em oferecer aquele espaço seguro no qual a pessoa pode se expressar sem medo, demonstrar sua raiva, sua tristeza ou seu sentimento de culpa. Um espaço onde possa contar sua história e falar da pessoa que ama o quanto precisar. É especialmente positivo se ela for encorajada a lembrar como aquela pessoa enriqueceu sua vida e que legados e ensinamentos lhe proporcionou.

Apoio concreto e específico

Quando acompanhamos outra pessoa em sua dor, tendemos a proferir frases vagas como “estou aqui para o que você precisar” ou “conte comigo”. Mas, nesses momentos, pode ser mais benéfico oferecer uma ajuda concreta e específica. Por exemplo, apoiar a organização da papelada, procedimentos ou documentos ou preparar alimentos para garantir que a outra pessoa coma bem.

Além disso, é positivo que tomemos a iniciativa de telefonar para covnersar ou propor algumas atividades que distraiam a pessoa de luto.

Permitir-se sentir a dor é essencial, sim, mas também é preciso encontrar momentos para esquecê-la temporariamente. É nessa dança entre se aproximar e se afastar da dor que se consegue processar a situação e seguir em frente. Por isso, sem forçar ou ser insistentes ou invasivos, podemos oferecer pequenas atividades que ajudem a pessoa a ativar-se novamente.

Grupo de apoio que acompanha o homem de luto
Juntar-se a um grupo que passa por circunstâncias semelhantes pode ser um ambiente mais fácil para se expressar.

O acompanhamento do luto também pode ser realizado por um profissional

Uma vez identificadas as necessidades da pessoa de luto, entende-se que o importante é que ela seja atendida; ou seja, que tenha apoio social. Às vezes, familiares e pessoas próximas realizam esse trabalho de uma boa maneira; no entanto, podem não ter sensibilidade, disponibilidade ou ferramentas para acompanhar corretamente.

Nesses casos, pode ser apropriado buscar o apoio de um profissional. Não estritamente porque o luto se tornou patológico, mas porque a pessoa precisa desse espaço seguro e dessa escuta empática que talvez não encontre em seu entorno. Nesse cenário, o profissional não se dedicará tanto a traçar diretrizes, mas sim, seu papel será o de acompanhar um processo natural do ser humano.

Além disso, para algumas pessoas de luto, pode ser positivo fazer parte de grupos de apoio. Nesses ambientes, expressar-se é mais fácil; desde que saibamos que os outros entendem e compartilham nossa dor, que podemos nos sentir identificados e apoiados.

Em suma, o acompanhamento do luto é um processo que pode ser realizado por diferentes pessoas e de diferentes instâncias, desde que seus princípios sejam adotados. Respeito, empatia, presença e sensibilidade às necessidades dos enlutados podem ser o bálsamo que necessitam nessa difícil situação.


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