Aflição: uma epidemia silenciosa
São tantas as manifestações de aflição, e tão frequentes as buscas por sua causa, que vários especialistas já a classificam como uma verdadeira epidemia. É possível senti-la de várias formas: dificuldades para dormir, ataques de pânico, uma ampla gama de fobias, etc. O que há em comum é um medo dissimulador que surge cotidianamente.
Diante deste fenômeno, o mundo da saúde desenvolveu várias respostas. Há uma importante oferta de medicamentos tradicionais: todo um exército de ansiolíticos desenvolvidos em laboratórios farmacêuticos, que prometem diminuir a dose de aflição. No entanto, estes fármacos, além de terem efeitos colaterais perversos, geralmente só oferecem soluções passageiras. Ou seja, só fazem efeito enquanto são tomados.
“Mais pessoas se afogam em copos do que em rios.”
-Georg Christoph Lichtenberg-
Também há uma enorme oferta de medicamentos alternativos: “Naturais”, homeopáticos e soluções bioenergéticas. Isso, é claro, sem contar com todos os remédios caseiros contra a aflição: valeriana ou água de melissa, banhos de água morna e todo tipo de truques tradicionais. No entanto, nenhum deles parece funcionar completamente.
A epidemia de aflição nasce no consciente coletivo
Todos os fenômenos que acontecem na mente se refletem, de alguma forma, no corpo. A maioria das vezes acontece na seguinte ordem: primeiro mente, então no corpo. Apenas em uma baixa porcentagem de casos acontece o contrário: primeiro no corpo e então na mente. Acontece quando, por exemplo, você tem uma febre muito alta ou ingeriu uma substância que altera sua percepção, entre outros casos.
Assim, o sucesso da intervenção com medicamentos é limitado. Reduzem os sintomas, é claro, mas não solucionam a causa que origina a aflição. Os medicamentos, de qualquer tipo, só devem ser vistos como uma ajuda limitada e temporária, não como uma solução definitiva.
A verdadeira solução só aparece quando a real causa da aflição é atacada. O problema é que, de acordo com muitos especialistas, os tempos atuais estão gerando muita aflição nas pessoas. Tudo acontece com uma rapidez incrível, e as ferramentas psicológicas que nós temos não conseguem processar a realidade do ritmo. Por isso, a angústia não é um problema individual, e sim uma epidemia.
Por que dizem que é uma epidemia “silenciosa”?
Um dos aspectos mais complexos dessa epidemia é o fato de que é muito difícil verbalizá-la. Cada indivíduo sente, em seu interior, um desgosto diário que o impede de dormir, causa-lhe mau humor ou leva a pessoa a se submergir em rotinas tirânicas. Mas, ao mesmo tempo, é muito difícil colocar em palavras o que ele sente.
Cada pessoa sente como se algo estivesse sobrando. Um peso do qual querem se livrar, mas não sabem como identificá-lo. “De onde vem esta sensação de peso, de excesso? Onde está o peso? Será que estou num trabalho que não me convém? Será que, talvez, as relações que tenho com os demais são negativas? Que direção devo seguir para me sentir melhor?” – Estas são algumas das perguntas que chegam sem ser convidadas.
É como se a existência estivesse completamente lotada de algo que não precisa. A sensação se parece com aquela que surge quando entramos em um quarto amontoado, apertado, com objetos desnecessários. Sabemos que deve ser colocado em ordem, mas há tantas coisas para organizar que não conseguimos nem identificar a porta de saída.
Da epidemia ao indivíduo
A ciência se empenhou em projetar soluções genéricas ou padronizadas Apesar de tudo, ela é isso: extrair soluções universais para problemas particulares. No entanto, no que tem a ver com a subjetividade humana, este tipo de foco costuma ser muito infeliz. Porque, no fim das contas, não resolve nada.
Por isso há uma epidemia de aflição e, por isso, a epidemia acontece com a cumplicidade do silêncio que nasce do drama vivido por cada um. A resposta para essa inquietude só pode ser encontrada individualmente, pessoa por pessoa. Não há uma solução aplicável para todos os casos. Não existe uma fórmula mágica ou universal que se aplique com igual eficácia para todos. Cada deve encontrar seu próprio caminho para resolver sua falta de sono, sua sensação de tensão e falta de ar, seu aborrecimento recorrente…
Da mesma forma que cada um deve entender que, para solucionar a aflição, a primeira coisa a ser feita é enfrentar o novo, o vazio. É absolutamente necessário fazer rupturas com o habitual: é a única forma de começar a abrir o espaço no “quarto mental” que está lotado. Uma terapia que libere a expressão também é uma boa opção, da mesma forma que os exercícios de relaxamento que contribuem para abrir a janela em uma mente que está muito sobrecarregada.
Créditos das imagens: César Biojo