Agamia, uma nova forma de viver as relações
Novos tipos de relacionamentos vêm inundando a esfera social. Poligamia, relações abertas e anarquia relacional são apenas algumas das definições mais recentes. Mesmo assim, surgiu um novo termo que antecipa os já mencionados e que promete nos dar o que pensar: a agamia.
Este conceito, que surgiu pela primeira vez em 2014, abandona a ideia do gamo (união, casamento) para focar em um novo modelo social e relacional. Aqueles que defendem essa ideia sugerem que isso vai além do amor livre (mas sem um sentimento de necessidade exclusiva e castradora).
Agamia é a prevenção de que um determinado estereótipo de relação, que denominamos como romântica ou amorosa, inclua o resto sob seu padrão. Portanto, defende o não estabelecimento de modelos de relação.
A partir desta perspectiva, o conceito de amor que reina em nossa sociedade é entendido como um subsistema ideológico que serve aos interesses patriarcais e de classe. Isso significa que esse sentimento nos foi imposto como uma forma de alienação por parte do sistema para nos controlar. Espera-se que todos nós queiramos a mesma coisa, que classifiquemos como lógicas algumas definições antiquadas que muitas vezes nos escravizam e nos deixam infelizes.
Muitos dos praticantes da agamia o fazem por desencanto. Alguns deles fogem das relações devido à alta toxicidade que, infelizmente, vivenciaram. Os ciúmes, a possessividade, os abusos e a dependência sufocante são frequentemente sintomas perigosos de um amor que não é assim.
Por outro lado, há aqueles que preferem desfrutar de uma autonomia total e da liberdade para viver sua sexualidade como quiserem. Os críticos afirmam que isso põe em perigo a sobrevivência do amor tradicional. A nalisar os princípios básicos da agamia pode nos ajudar a entender este novo modelo social.
A substituição da sexualidade pelo erotismo
De acordo com a agamia, o sexo não é visto como algo sagrado, exclusivo das relações (sejam elas monogâmicas ou poligâmicas). É uma parte natural e saudável que deve ser experimentada, exaltando-se como uma forma de liberdade e amor próprio.
A agamia substitui a sexualidade pelo erotismo, evocando assim a germinação de novos tipos de relações não específicas que transcendem a heterossexualidade. Nesse sentido, jamais se deve fazer algo que não se queira, e muito menos se sentindo obrigado.
A renúncia ao amor e à opressão causada
A partir dessa perspectiva, o amor romântico e sua idealização são uma quimera. Os ciúmes, a possessividade e a obsessão não possuem espaço em seres humanos racionais. Esses sentimentos negativos nos prejudicam e diminuem nosso bem-estar. A agamia aposta no desapego das emoções de exclusividade em troca de uma sociabilidade harmoniosa.
Assim, a opressão nunca deveria estar ligada ao conceito de amor. A razão, o bom senso e os impulsos naturais prevalecem sobre as canções da sereia e seu drama correspondente.
Alternativas à família tradicional
A agamia propõe uma redefinição da ideia de família, considerando-a como “a formação de um grupo de indivíduos com relações consensuais de erotismo, companhia e confluência de interesses”. Além disso, para a agamia a paternidade é muito mais do que ter um filho. O amor, o respeito e o carinho devem ser as únicas coisas que são julgadas quando se avalia a capacidade de um pai.
Os seguidores dessa filosofia fogem das convenções sociais e desejam formar uma família que se adapte às suas necessidades.
“Ninguém pode pertencer ao outro. O amor é um contrato livre que se inicia com uma faísca e pode terminar da mesma maneira”.
-Isabel Allende-
A agamia não é poligamia
A poligamia defende a ideia de ter dois ou vários parceiros, e há alguns relacionamentos mais estáveis do que outros. A agamia foge do conceito de casal porque o considera vazio e carente de realismo. Também não tem nada a ver com a poligamia, o sexo sem compromisso ou as relações esporádicas: é muito mais complexo.
À medida que vivemos, as relações com as pessoas que conhecemos são decisivas. Essa filosofia nos permite estabelecer qualquer tipo de ligação com os indivíduos que nos cercam, sem a necessidade de um rótulo ou uma definição.
A agamia, mais do que uma ideologia ou um modo de vida, coloca sobre a mesa um tema recorrente: o modo de viver as relações. Agora, mesmo que esse termo seja evitado, qualquer tipo de contato com os outros implica o estabelecimento de uma relação. Negar isso não fará com que desapareça, mas sempre podemos respeitar a forma como os outros se relacionam.