Implicações psicológicas da alopecia em mulheres

A sociedade ainda não se acostumou com as mulheres sem cabelos. Dessa forma, muitas delas, além de terem que lidar com uma doença, também devem enfrentar olhares de desaprovação ou mesmo um diálogo interno que as reprime pois consideram ter um grande defeito.
Implicações psicológicas da alopecia em mulheres
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Enquanto a calvície é bastante comum para pessoas do sexo masculino – e relativamente bem aceita – a queda de cabelo ou alopecia em mulheres costuma gerar um problema complexo.

Se analisarmos os padrões de beleza que imperam na nossa sociedade, podemos compreender facilmente as consequências psicológicas que a alopecia pode gerar nas mulheres.

A alopecia se refere à perda de cabelo temporária ou permanente, que pode ser moderada ou grave. Uma perda de cabelo é considerada anormal se supera a queda de 100 fios de cabelo ao dia. Esse problema estético e psicológico também pode ser um dos primeiros sinais de alguma patologia subjacente.

Além disso, a perda de cabelo pode alcançar todo o couro cabeludo ou apenas uma área bem definida. As mulheres afetadas pela alopecia costumam ter problemas para buscar ajuda. Isso porque entram em jogo a vergonha, o mal-estar e a baixa autoestima.

Mulher com muita queda de cabelo

Tipos de alopecia em mulheres

Existem vários tipos de alopecia que podem afetar as mulheres, com diferentes níveis de gravidade. A etiologia é muito heterogênea, o que faz com que o tratamento médico e estético possa variar bastante.

Alopecia androgenética feminina

A alopecia androgenética pode atingir quase 50% das mulheres, sendo mais comum com a chegada da menopausa e a diminuição do estrogênio – hormônio feminino. Esse tipo de alopecia afeta majoritariamente a área superior da cabeça, deixando a linha frontal do cabelo inalterada.

No entanto, em casos muito avançados o transtorno pode afetar todo o cabelo de forma difusa.

A realização de um diagnóstico diante dos primeiros sintomas da doença consegue, na maioria dos casos, deter o processo de queda, aumentar a densidade capilar (os cabelos podem recuperar a sua textura habitual) e a regeneração dos fios que foram perdidos.

Alopecia cicatricial

A alopecia cicatricial é caracterizada pela aparição de um tecido fibroso cicatricial onde antes existiam folículos pilosos. A presença dessas cicatrizes impede o crescimento normal do cabelo. A alopecia cicatricial pode ser congênita ou adquirida.

As principais causas da adquirida são traumatismos mecânicos (como queimaduras, cirurgias, etc), infecções autoimunes (lúpus eritematoso, esclerodermia, etc), infecções bacterianas (foliculites), infecções por fungos (tinha), processos virais (herpes zóster) e tumores.

Para conseguir um diagnóstico preciso, é fundamental realizar uma análise tricológica e um exame histológico com profissionais competentes.

Alopecia areata

A alopecia areata se caracteriza pela aparição de placas de calvície de formato redondo em qualquer parte do corpo, ainda que o mais comum seja que sua aparição se dê no couro cabeludo.

Diferentemente dos outros tipos de alopecia, a região afetada pela perda de cabelo apresenta um aspecto saudável, sem descamações, inflamações ou vermelhidão.

O estresse ou determinadas situações de conflito podem desencadear a aparição de placas de alopecia areata, mas não são a origem da doença. Essa condição é reversível, já que os folículos pilosos não foram destruídos e se encontram saudáveis debaixo da pele.

O diagnóstico principal pode ser realizado diante de uma análise tricológica, sendo necessário, em alguns casos, realizar também uma biópsia ou um outro estudo imunológico. Muitas vezes, a alopeia areata evolui para se tornar uma alopecia universal.

Alopecia universal

A alopecia universal afeta 2% da população. Ela pode estar associada a muitas outras condições, como problemas na tireoide, diabetes tipo 1, alergias e asma. Também similar a outras doenças dermatológicas, como o eczema, a psoríase ou o vitiligo.

Existe uma predisposição genética para a condição. Entre o que se acredita serem os gatilhos ou causas para a condição, destacam-se como os mais prováveis o estresse, infecções virais e o consumo de medicamentos.

Em geral, a alopecia começa com uma pequena área redonda ou falha no couro cabeludo, que fica sem cabelo. Essa doença é imprevisível. Assim como o cabelo pode desaparecer subitamente, ele também pode voltar a crescer ou inclusive cair de novo.

O problema surge porque o sistema imunológico ataca as células dos folículos capilares, que se fecham e deixam de produzir pelos visíveis. No entanto, os folículos se mantêm ativos, por isso que a qualquer momento, se receberem o estímulo adequado, podem voltar a produzir pelos, inclusive sem tratamento e após vários anos.

Enquanto esperam que isso aconteça, os pacientes buscam ativamente uma cura. No entanto, nem a terapia com células-tronco, nem os fatores de crescimento, nem os transplantes robóticos de cabelo funcionam para eles. Atualmente, infelizmente não existem tratamentos que forneçam a cura para esta condição.

Mulher com queda de cabelo

Fatores psicológicos da alopecia em mulheres

No caso da alopecia feminina, as repercussões são quase sempre negativas. Diferentemente do que acontece com os homens, a sociedade não admite que uma mulher possa ficar calva, e por isso as repercussões psicológica são maiores, podendo chegar a, por exemplo, isolamento e depressão.

Um cabelo bonito e volumoso é valorizado inclusive como um atributo sexual e símbolo da alma feminina. A queda de cabelo é associada com a menopausa e a perda da fertilidade.

As mulheres que sofrem desta condição costumam usar penteados que camuflam um pouco a baixa densidade de cabelo que apresentam. Mas isso também faz com que elas deixem de frequentar piscinas, praias, academias, e se retraiam socialmente.

A psicologia e a dermatologia sempre foram muito unidas. Temos que lembrar que o sistema nervoso e a pele se originaram da mesma camada embrionária.

Ainda que a origem e patogenia da alopecia areata seja de etiologia autoimune, foi constatada a importância dos fatores psicológicos na origem e na perpetuação desse tipo de alopecia. Muitas pacientes relatam episódios de estresse agudo durante a realização do histórico clínico.

O estresse, derivado da perda de um emprego, de um término traumático de relacionamento ou da morte de um familiar, pode causar alterações imunológicas.

Por isso, a partir desse tipo de fato pode ocorrer uma fraqueza ou um descontrole no sistema que nos protege. Os linfócitos, assim, podem atacar os folículos pilosos.

Se somarmos a isso o fato de que a pessoa vê a sua imagem alterada e tem uma avaliação negativa da mudança, entenderemos como muitas ficam desequilibradas e sem recursos para gerir de maneira inteligente o impacto emocional que se deriva de todo esse cenário.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.