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Ambivalência afetiva: o que eu quero e o que devo

6 minutos
Você sente emoções opostas como amor e ódio ao mesmo tempo? Você não entende por que isso está acontecendo com você? Sentir emoções contraditórias faz parte da complexidade do ser humano.
Ambivalência afetiva: o que eu quero e o que devo
Laura Rodríguez

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Rodríguez

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Todos nós sofremos de ambivalência afetiva em algum momento de nossas vidas, pois somos seres complexos e cheios de emoções, sentimentos e contradições. É um estado em que é possível sentir alegria e tristeza ao mesmo tempo, bem como amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo. Você já amou alguém e sentiu um grande ressentimento pela forma como ele o tratava? Você já se sentiu feliz ao ver um parente, mas sentiu uma tristeza pelo comportamento dele?

A ambivalência afetiva faz parte da gama emocional do ser humano. Em sua justa medida, a ambivalência é considerada adaptativa, uma vez que sentir emoções opostas nos ajuda a tomar decisões diante das dúvidas que vivemos e a enfrentar situações que geram conflitos. No entanto, viver cheio de contradições e dúvidas gera angústia e mal-estar.

O que nos faz sentir ambivalência emocional? Qual é a origem do fato de experimentar emoções opostas? Estamos realmente cientes dos motivos que nos levam a nos sentir assim? Os padrões familiares e nosso aprendizado familiar nos influenciam? Essas questões evidenciam a enorme complexidade emocional do ser humano, conforme destacado por Daniel Goleman em sua teoria da inteligência emocional.

Mulher pensativa

O conceito de ambivalência

Bleuer foi o primeiro a adotar esse termo em 1911 para se referir ao estado de espírito em que duas emoções opostas coexistem, como amor e ódio.

A ambivalência é definida como um estado de conflito de emoções, onde são vivenciados pensamentos e/ou emoções que são de natureza oposta. A ambivalência afetiva é experimentada como desagradável ao perceber duas emoções contraditórias ao mesmo tempo.

“Ambivalência é a atitude emocional sublinhada em que coexistem impulsos contraditórios, geralmente amor e ódio, que derivam de uma fonte comum e, portanto, são considerados interdependentes”.
-Bleuler-

De onde vem a ambivalência afetiva?

Partimos do princípio de que nossa forma de sentir e pensar está associada ao nosso conhecimento do mundo, à forma como o vivenciamos. Serge Moscovici, em sua teoria das representações, explica que nosso comportamento é regido por um código com o qual classificamos tudo o que nos acontece e damos sentido a tudo o que vivemos.

Da mesma forma, de acordo com a corrente sistêmica, a forma como vivemos o que nos rodeia é influenciada por um fator essencial: a família. O sistema familiar nos transmite certas informações, inconscientemente ou conscientemente, sobre o mundo e sobre como se comportar nele.

Em suma, podemos afirmar que nossa maneira de nos relacionarmos com as emoções e com os nossos pensamentos está fortemente relacionada a dois elementos fundamentais: o sistema familiar e nossas próprias crenças baseadas em nosso próprio conhecimento do que nos rodeia. 

O sistema familiar, um fator chave

Segundo Salvador Minuchina família é um sistema formado por uma rede de relações que, por sua vez, compõem outros subsistemas. É concebido como um todo diferente da soma de suas partes, que passa por um ciclo de vida no qual evolui por diferentes estágios aos quais o sistema se adapta.

Cada família implica certas normas, regras, padrões, limites e hierarquias que determinam sua adaptação e funcionalidade. Um padrão é composto por três áreas: o pensamento sobre o mundo, a emoção desse pensamento e, por fim, o comportamento que temos nas duas áreas anteriores. Consequentemente, a educação recebida em nosso sistema familiar transmite intrinsecamente certos hábitos e crenças aos quais estamos acostumados.

“A família é o sistema que define e configura o desenvolvimento da pessoa em maior medida desde a sua concepção”.
-Bronfenbrenner-

A família nos define

Para uma família pode haver comportamentos normalizados que, para outra, podem não ser. Por exemplo, uma família em que o jantar é feito em um determinado horário, todos juntos e comendo a mesma comida, e outra em que cada um janta no seu horário, ninguém espera para comer e cada um come o que quiser.

Já aconteceu com você de, ao visitar alguém, observar certos padrões que são diferentes na sua casa? Outra situação comum pode ocorrer em reuniões de amigos, quando alguém relata um episódio na família que seria impensável para a sua.

“A família funciona como um todo, onde o comportamento de cada um está relacionado e depende dos demais”.
-Salvador Minuchin-

“Não tenho certeza do que quero e do que eles esperam de mim”

O que eu quero? Certamente todos nós já nos fizemos essa pergunta em algum momento. Da mesma forma, questionamos o que esperam de nós. Ao longo de nossas vidas, formamos nosso conhecimento do mundo e tomamos decisões. Decidimos, por exemplo, o que queremos ser, onde morar, quem amar.

O conflito surge quando o que queremos contradiz os preconceitos dos nossos padrões familiares. Ou seja, o que acreditávamos ser a coisa certa a fazer pode não ser mais. Aprendemos que deveríamos seguir uma crença instilada que até recentemente era nossa e não é mais. Por um lado, você acha que precisa, mas por outro, uma parte de você diz ‘não’ e você se sente em contínua contradição.

Homem preocupado

Viver em constante contradição

As contradições nos paralisam e geram um grande desconforto emocional. Sentir-se ambivalente perturba nosso equilíbrio psicológico. O desgaste que produz é de grande magnitude, fazendo com que nos sintamos bloqueados e superados por esses sentimentos. Ser constantemente indeciso nos esgota, afetando nossa autoestima e nosso estado de espírito.

A vida é cheia de decisões, e é comum sentir medo e estresse ao enfrentá-las. Agora, quando esse desconforto nos inunda, nós nos bloqueamos.

O que fazer se estiver em um estado de ambivalência afetiva?

  • Pare. Devemos ouvir a nós mesmos para entender o que está acontecendo conosco. O que está acontecendo para nos sentirmos assim? Em que situação nos encontramos?
  • Questione, pense a respeito de onde vêm essas dúvidas. Pensar na origem das dúvidas que vivemos pode ser uma forma de esclarecê-las.
  • Tome consciência da sua realidade, das melhores decisões para você. Pese o que você quer e o que não quer. Estar ciente do que nos acontece é a forma mais adequada de definir e aceitar determinadas situações.
  • Controle suas emoções, tente identificá-las. O que eu sinto? O que eu faço com o que sinto? Identifique suas emoções para canalizá-las corretamente, uma vez que gerenciá-las de maneira errada faz com que o que sentimos seja ampliado.
  • Expresse o que sente, busque ajuda no seu entorno. Diga o que acontece com as pessoas ao seu redor. Comunicar o que nos preocupa para liberar toda aquela angústia que sentimos pode nos ajudar a dissipar todas as incógnitas.

Como disse Goleman: “Cada emoção nos predispõe à ação de uma maneira diferente; cada uma delas nos aponta uma direção que, no passado, nos permitiu resolver adequadamente os inúmeros desafios a que foi submetida a existência humana”. É por isso que até mesmo a ambivalência afetiva deve ser ouvida e administrada. 


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Bronfennbrenner, U. (1987). La Ecología del Desarrollo Humano, Barcelona, Paidos.
  • Minuchin, S. (1986). Familias y Terapia Familiar, Barcelona, Gedisa.
  • Goleman, Daniel (1996). Inteligencia Emocional. Kairós.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.