Amor em tempos de pandemia: a nova realidade dos relacionamentos
O amor em tempos de pandemia pode se parecer muito com qualquer um dos romances de Arthur C. Clarke. Aqueles encontros em que, depois de alguns drinques, algumas risadas e flertes, chegam as carícias e o primeiro beijo, agora são dificultados por uma máscara ou até limitados, até que tenhamos um teste que mostre que estamos livres do coronavírus.
Pensar em um futuro com esse panorama nos assusta. E, no entanto, isso já está acontecendo. A realidade caminha muito mais rápido do que as hipóteses dos especialistas e, se há algo que raramente termina, é a nossa necessidade de estabelecer relacionamentos, de buscar o amor. Não importa o contexto ou o cenário, o ser humano é capaz de conceber mecanismos, apesar dos muros e labirintos que temos em nosso caminho.
Um exemplo disso é o projeto original Love is Quarantine. Dois jovens do Brooklyn criaram essa plataforma para ajudar as pessoas confinadas pela pandemia a encontrar um parceiro à distância na privacidade de suas casas. Algo que foi comprovado com essa ideia é que, no contexto atual, as pessoas têm uma maior necessidade de iniciar relacionamentos.
A solidão e o fato de ter mais tempo para pensar na vida nos levam, mais do que nunca, a usar essas plataformas online para conhecer outras pessoas, para encontrar “a alma gêmea” nesses tempos difíceis e lidar com o dia a dia com outras perspectivas, com sonhos e esperanças renovados.
Amor em tempos de pandemia: como encontrar um parceiro nos próximos dias ou meses?
O amor em tempos de pandemia faz o seu trajeto de outras formas, com mecanismos conhecidos, mas reformulando normas, espaços e momentos. Além disso, as novas tecnologias continuam sendo a nossa ferramenta para conhecer, entrar em contato, falar, seduzir, compartilhar…
No entanto, agora estendemos o momento em que nos descobrimos cara a cara, pele com pele. A distância de segurança de dois metros e o desinfetante para as mãos não ajudam, não são românticos e quebram completamente a liberdade que tínhamos antes.
Além disso, há algo curioso sobre esse cenário. O amor em tempos de pandemia nos leva de volta, de alguma forma, às relações dos séculos passados. Aquelas em que as cartas que os apaixonados enviavam uns aos outros ajudavam a criar paraísos de intimidade e namoro para se conhecerem melhor. O primeiro encontro entre os casais podia levar meses, mas graças a essa longa correspondência, a atração e o carinho já haviam sido construídos.
Se os amantes do século XIX aguardavam ansiosamente essa carta em sua caixa de correio, nós temos um pouco mais de sorte. Os tempos são mais curtos e só precisamos aguardar a notificação no celular.
Como os relacionamentos são construídos durante o confinamento?
Os aplicativos de relacionamentos online estão tendo um aumento da sua utilização. A atividade dos usuários dobrou em muitos casos. É por tédio, talvez? A resposta é não. Este é um fenômeno muito mais profundo e relevante a partir do ponto de vista psicológico.
Muitas pessoas vivem sozinhas. Os índices de solidão aumentam a cada ano e isso não é uma realidade apenas para os adultos idosos. A população mais jovem e os membros da Geração Y também sofrem com isso. Durante essas semanas de confinamento, muitos têm a necessidade de encontrar alguém com quem conversar, de iniciar um relacionamento…
- Em relação à forma como os relacionamentos e o amor são construídos nos tempos do coronavírus, Liesel L. Sharabi e Tiffany A. Dykstra-DeVette têm um trabalho que se aproxima da realidade atual. Sempre começamos a procurar temas nos quais coincidimos, hobbies comuns, paixões afins.
- Atualmente, a conversa mais comum é sobre o coronavírus. Falamos sobre como enfrentamos o dia a dia, os nossos pensamentos, medos, necessidades, nossos sonhos para quando tudo isso acabar… São estabelecidas pontes de conexão emocional muito catárticas para o momento atual.
Amor em tempos de pandemia: mais tempo para um namoro = relacionamentos de maior qualidade?
O amor em tempos de pandemia está diminuindo o que conhecíamos como relacionamentos descartáveis. Os encontros sexuais de uma noite e o silêncio subsequente estão sendo reformulados à força. O medo do contágio possivelmente criará barreiras para essa espontaneidade no contato físico, na liberdade de tocar sem precisar se limpar antes com uma boa quantidade de álcool gel.
Não sabemos quanto tempo essa realidade vai durar, mas o que está claro é que a necessidade de se apaixonar e encontrar um parceiro não acaba, continua a se expandir e agora está procurando mais do que nunca canais e cenários em que possa se concretizar.
Além disso, algo que estamos vendo é que os tempos de namoro estão se prolongando. Há mais tempo para conversar, escrever, conectar-se de maneira mais íntima e compartilhar os momentos que estamos vivendo.
Agora, as “chamadas de vídeo” substituem as nossas reuniões nas cafeterias, restaurantes ou bares. Nós nos encontramos e seduzimos através de uma tela e, embora seja verdade que todo esse universo não é o mesmo de antes, é a única coisa que temos no momento. Será necessário se adaptar, ser criativo, cuidadoso e habilidoso para cuidar desse relacionamento, para garantir que, quando possível, possamos nos encontrar cara a cara, pele com pele.
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- Sharabi, Liesel L., and Tiffany A. Dykstra-DeVette. 2019. “From First Email to First Date: Strategies for Initiating Relationships in Online Dating.” Journal of Social and Personal Relationships 36 (11–12): 3389–3407. doi:10.1177/0265407518822780.