Qual é a relação entre ansiedade e sedentarismo?

O sedentarismo prolongado compromete o humor e a saúde mental pouco a pouco. Isso também ocorre com os estados de ansiedade, que nos mergulham no desânimo e geram uma inatividade física perigosa. Os efeitos são altamente nocivos.
Qual é a relação entre ansiedade e sedentarismo?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

A ansiedade e o sedentarismo andam de mãos dadas. Já está comprovado que estilos de vida definidos por pouca atividade física aumentam a probabilidade de sofrer mudanças no humor. Da mesma forma, também foi visto que os transtornos de ansiedade diminuem a motivação para se movimentar e se exercitar .

Estamos, portanto, diante de um círculo vicioso alarmante e perigoso. Não se pode ignorar um fato ressaltado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): a inatividade física é um problema de saúde pública que afeta mais da metade da população. Além disso, essa é uma realidade que afeta não apenas boa parte da população adulta, mas também crianças e adolescentes que apresentam níveis elevados de sedentarismo.

Como sabemos, os efeitos disso são claramente nocivos. Arteriosclerose, obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão… A maioria de nós está ciente dos riscos para a saúde física. Entretanto, é importante ter em mente que a falta de atividade prejudica significativamente o nosso humor e bem-estar psicológico.

Homem ansioso tendo crise

Ansiedade e sedentarismo: uma vinculação dupla

Desânimo, pensamentos negativos, ideias irracionais, insônia, esgotamento… A ansiedade é um transtorno de humor evidenciado por uma sintomatologia ampla e complexa. Além disso, há um fato inegável: não é fácil definir quais são os gatilhos dessa condição psicológica. Com frequência, podem ser vários: o estilo de vida, a genética, os fatores ambientais, a falta de estratégias de enfrentamento…

Entretanto, existe um fator que não pode ser descartado: o sedentarismo. Trabalhos de pesquisa como o que foi realizado na Universidade de Deakin, na Austrália, evidenciam como a inatividade física contínua se relaciona com maiores riscos de sofrer tanto com estados de ansiedade quanto com a depressão. Isso se manifesta tanto em adultos quanto na população mais jovem.

Agora, o problema é ainda mais complexo porque, na realidade, ansiedade e sedentarismo possuem uma relação dupla. Ou seja: o fato de não nos mexermos durante o dia compromete o nosso humor, mas os transtornos de ansiedade também nos levam a fazer menos atividade física. Estamos, portanto, diante de uma questão de saúde pública sobre a qual deveríamos ser mais conscientes.

O sedentarismo e seu efeito na saúde mental: um inimigo feroz

Vivemos em uma sociedade que demanda cada vez mais da mente e cada vez menos do corpo. É muito provável que, quando ouvimos a palavra “sedentarismo”, imaginemos uma pessoa afundada no sofá enquanto olha para a televisão e come batata frita. Nem sempre é assim. Podemos ver executivos, cientistas ou administradores de empresas levando uma vida evidentemente sedentária, mas, ao mesmo tempo, sendo altamente produtivos.

Nossas crianças e adolescentes também evidenciam este fato. O tempo que gastam diante das telas, videogames ou redes sociais como Tik Tok os leva a essa falta de atividade crônica da qual nem sempre estamos conscientes. Esse estilo de vida, definido pela imobilidade moderna, corrói progressivamente a saúde mental.

A ansiedade é um imobilizante mental e físico

Ansiedade e sedentarismo formam um vínculo duplo, pois ambas se retroalimentam. E o fato de que isso aconteça é problemático. Frequentemente, recomendamos às pessoas que sofrem de transtornos de ansiedade ou depressão que pratiquem esportes e que mantenham uma vida mais ativa. Entretanto, as pessoas nem sempre conseguem fazer isso.

Em um estudo da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, pesquisadores falaram sobre essa relação: as pessoas com ansiedade têm até o dobro de chances de ter uma vida mais sedentária. Não é simples recomendar a uma pessoa que ela comece a sair de casa para fazer caminhada, jogar tênis, fazer aulas de dança ou zumba para reduzir os efeitos da ansiedade.

As causas que estão por trás disso podem ser as seguintes:

  • A ansiedade leva ao aumento da exaustão física, da sensação de sufocamento e da taquicardia. Qualquer esforço, para quem sofre, é vivenciado de um jeito superdimensionado; 
  • Por outro lado, muito além da sintomatologia física, existe o desânimo e a falta de compromisso. A pessoa pode até começar a praticar esportes durante dois ou três dias seguidos, mas abandona a prática logo em seguida.
  • Esses transtornos de humor também se associam com baixos níveis de motivação e constante frustração. Além de não terem interesse pelo movimento, tampouco enxergam utilidade nisso.
Mulher correndo em parque

Como lidar com a ansiedade e o sedentarismo?

Ansiedade e sedentarismo andam de mãos dadas pois refletem nosso atual estilo de vida. Deixamos de nos movimentar com nossa realidade pois ela se tornou estática e atrelada às novas tecnologias. Não exigimos esforço de nossos corpos porque já temos que lidar sucessivamente com os intricados (e exaustivos) labirintos mentais.

A preocupação nos esgota e, quando nossa mente chega ao limite, não resta energia para o corpo. O que podemos fazer nesses casos? A estratégia é dupla. É necessário cuidar do corpo e motivar a mente para que a ansiedade e o sedentarismo percam força, dissolvendo-se e, assim, otimizando nossa qualidade de vida. Estas podem ser algumas estratégias:

Cuidar da mente

  • Praticar uma boa higiene mental: racionalize as preocupações, domine os pensamentos negativos e as ideias irracionais, não alimente seus problemas com angústias e procure soluções;
  • Saber lidar com suas emoções;
  • Dê a si mesmo momentos de calma e de silêncio, permitindo que sua mente relaxe;
  • Estabeleça metas que o motivem todos os dias;
  • Cerque-se de pessoas que te tragam paz;
  • Procure novos hobbies e paixões para motivar o cérebro.

Motivar o corpo

  • Crie uma rotina diária na qual você comece dedicando 30 minutos ao exercício físico;
  • Inicie, em casa, alguma prática como yoga, pilates ou zumba;
  • Procure um amigo para começarem a praticar algum tipo de esporte ao longo do dia, ou ao longo da semana;
  • Comece a organizar saídas para a natureza (ou à praia), onde você possa realizar alguma atividade física. É preciso que nossa ideia de tempo livre também inclua nosso movimento com a vida.

Não hesite em pedir ajuda profissional se não conseguir fazer mudanças. Os efeitos do sedentarismo, como a ansiedade crônica, são altamente nocivos.


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