Ansiedade flutuante: o vazio onde vivem meus medos e incertezas

Ansiedade flutuante: o vazio onde vivem meus medos e incertezas

Última atualização: 31 agosto, 2017

Não temo nada em particular, mas na realidade… tudo me assusta. Porque a ansiedade flutuante é assim, é a incerteza que me persegue e me pega, que me faz perder o ar e a vontade de sair de casa. É como viver em um quarto sem janelas e em solidão, é morar indefinidamente na concha das minhas preocupações, no novelo asfixiante dos meus desesperos sem solução…

Virginia Woolf disse nos seus diários que a vida é um sonho, mas é o próprio despertar que nos mata. É como se de algum modo chegasse um momento pontual na nossa existência em que é preciso “despertar”, abrir os olhos às responsabilidades, aos fardos, ao movimento irrefreável das nossas cidades, a esse som às vezes desafinado das relações humanas… Assim, quase sem nos darmos conta, percebemos que todo esse movimento não apenas nos vence, como também nos diminui.

“O medo sempre está disposto a ver as coisas pior do que elas realmente são.”
-Tito Lívio-

Despertar para a vida e descobrir que às vezes dói e que às vezes pode ser difícil é algo que milhares e milhares de pessoas sentem, sem dúvidas. Porém, há algo muito mais complexo que dia após dia inúmeros homens e mulheres vivem. Trata-se de um medo difuso e sem forma, medo de estar preso a um padrão comportamental de preocupação excessiva e recorrente sobre quase qualquer coisa, qualquer acontecimento.

Do mesmo modo, esse cenário emocional, no qual a incerteza crônica e o estresse constante só aumentam, dá forma a uma manifestação clínica conhecida como “ansiedade livre flutuante” e que, por sua vez, faz parte do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Convém dizer mais, estamos diante de uma realidade tão desgastante quanto complexa, posto que diferentemente de outros transtornos, a preocupação e as relações não se voltam a uma série de aspectos pontuais, mas abrangem tudo.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada poderia ser resumido em uma frase tão simples quanto contundente: “Sempre estou pensando que algo ruim vai acontecer”

Ansiedade flutuante

Ansiedade flutuante: o medo irracional, o medo não adaptativo

Carlos tem 35 anos e, depois de 10 anos de relacionamento com uma mulher, acaba de ser deixado. Ela se apaixonou por outra pessoa e mesmo que o nosso protagonista, em aparência, esteja bem, as pessoas mais próximas dele estão percebendo certos aspectos bem chamativos. Apesar de Carlos sempre ter sido um pouco ansioso, após o término do relacionamento, ele se tornou obcecado por várias coisas, uma delas é a saúde dos seus pais: ele tem medo de que fiquem doentes e morram.

Além disso, no trabalho as pessoas também estão notando alguns detalhes. Carlos é arquiteto e, há algum tempo, começou a ficar obcecado com a ideia de cometer um erro. Ele se preocupa em excesso em fazer perfeitamente bem o seu trabalho e teme que algo ruim aconteça sob sua responsabilidade. Carlos também tem medo de não conseguir pagar a hipoteca. Por causa disso, já está pensando em quais saídas poderia encontrar caso isso acontecesse. No entanto, nada disso aconteceu ainda.

Se demos o exemplo desse homem imaginário, foi devido a uma razão bastante concreta. Estima-se que o Transtorno de Ansiedade Generalizada e, em essência, esse medo flutuante que impregna quase cada aspecto da vida desses pacientes, afetam em maior grau as mulheres. Contudo, os dados também mostram algo muito relevante: quase 60% das pessoas atingidas pela doença não recebem tratamento ou não se atrevem a dar o primeiro passo em busca de ajuda, sendo uma boa parte dessas pessoas homens.

Ansiedade flutuante

Por que tudo me preocupa? Por que eu vivo nesse abismo de incertezas e angústias?

Para entender um pouco melhor esse transtorno e, em essência, essa manifestação clínica que é a ansiedade flutuante, devemos compreender primeiro qual função o medo exerce nas nossas vidas: ele nos prepara para reagir frente uma ameaça “real”, é um mecanismo adaptativo apurado e excepcional que nos permite sobreviver. No entanto, o que acontece quando sentimos medo e não há uma ameaça real?

E mais ainda… o que acontece quando chega um momento em que esse medo e essa angústia se impregnam em cada aspecto da nossa vida? O que acontece simplesmente é que ficaremos encalhados em uma dimensão paralela digna do pior pesadelo. Porque não há nada pior que viver com medo.

Possíveis causas

Muitos cientistas e neuropsiquiatras deixam claro: o TAG é uma síndrome diferente de qualquer outra. Assim, da faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos explicam que essa ansiedade flutuante se deve a uma disfunção em diferentes partes do cérebro, sendo uma delas a amígdala.

Lembramos que a amígdala, aquela pequena estrutura do tamanho de uma amêndoa, lida com nossas emoções, nossa memória e nossa percepção do medo. Em dado momento, e por razões desconhecidas, os circuitos que constituem essa delicada região cerebral são alterados e, com isso, a própria ordem e o equilíbrio da nossa vida também se alteram.

Ansiedade flutuante

Como tratar o Transtorno de Ansiedade Generalizada?

Como sempre acontece com o tratamento da ansiedade, são necessárias duas abordagens para lidar com essa condição clínica. A medicação, por sua parte, reduz os sintomas e permite, por sua vez, as condições necessárias para que a psicoterapia seja muito mais efetiva.

“A catástrofe que tanto preocupa frequentemente se revela menos horrível na realidade do que era na sua imaginação.”
-Wayne W. Dyer-

Geralmente são utilizados fármacos baseados na inibição seletiva da receptação de serotonina. No entanto, e em muitos casos, também é necessária a administração de alguns antidepressivos – embora lembremos sempre que cada paciente é único e sua realidade pessoal vai exigir um tratamento exclusivo.

Ansiedade flutuante

Por outro lado, a terapia cognitivo-comportamental e todas aquelas terapias focadas no combate ao estresse são muito eficientes para reduzir essas preocupações excessivas provocadas pela ansiedade flutuante. Com elas aprendemos estratégias eficazes de enfrentamento e desenvolvemos comportamentos mais saudáveis e integrados.

Para concluir, vale destacar também que não custa nada cuidar de outros aspectos da nossa vida: a alimentação e a prática de algum esporte ou técnica de meditação também são ferramentas complementares que podem ser usadas para dominar o medo, concentrar melhor a atenção no que é importante, essencial, e aprender assim a pensar de maneira correta para viver melhor.

Imagens cortesia de Agnes Cecile.


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