Não faça nada, aprenda a ouvir o desconforto

Não faça nada, aprenda a ouvir o desconforto
Lorena Vara González

Escrito e verificado por a psicóloga Lorena Vara González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Às vezes não fazer nada é o mais difícil que podem nos pedir ou que podemos tentar fazer quando nos sentimos mal. Nós acreditamos que ouvir o que sentimos é uma tarefa inútil. Por outro lado, nos comportamos como se o incômodo, em vez de ser ouvido, reconhecido e aceito, tivesse que ser escondido ou afastado, porque as emoções que nos machucam são inaceitáveis. Mas estamos equivocados, já que o importante seria aprender a ouvir o desconforto e as emoções “desagradáveis”.

Esquecemos de levar em conta que existem emoções que ocupam espaços de forma sigilosa, com quase nenhum ruído, que estão cheias de informações, e ouvi-las nos fará reconhecê-las e conhecer melhor a nós mesmos. Lembre-se de que não existem emoções boas ou ruins, todas e cada uma delas são necessárias para apreciar o nosso mundo e nos mostrar exatamente como somos.

Aprender a ouvir nossas emoções exige ter a capacidade de aceitar incondicionalmente o que chega até nós, não julgar nada nem ninguém e, finalmente, ser capaz de viver no presente. Tudo isso não é fácil, portanto, neste artigo vamos ensinar você a ouvir o desconforto e usar o mindfulness como uma ferramenta para viver no presente.

Ouvir o desconforto e as emoções

Escutar, aceitar e validar nossas emoções não significa resignar-nos à realidade. Resignar-se ou render-se é se deixar vencer e se convencer de que não se pode fazer nada a respeito daquilo que acontece. Por outro lado, aceitar e validar o que sentimos nos ajuda a entender o que está acontecendo conosco, a sentir e a assimilar esse sentimento como parte do nosso universo emocional.

Mulher ouvindo suas emoções

Isso nos tornará conscientes do poder de nossos pensamentos, de nossas emoções e de nossa própria linguagem interna. Lembre-se de que o que dizemos a nós mesmos ou o que pensamos (sem necessidade de comunicar a ninguém), pode nos fazer mais mal do que o que realmente acontece. Além disso, esse mal é multiplicado quando você se recusa a aceitar o que sente.

Você ficaria surpreso com o quanto é benéfico ouvir o desconforto. Na consulta, quando pedimos aos nossos pacientes que atendam suas emoções, muitas vezes ocorrem mudanças importantes. Por exemplo, eu lembro que um paciente parou de tentar eliminar as crises de ansiedade quando as sentia e, ao fazer isso, percebeu que a ansiedade surgia a partir da dor que foi produzida pela morte de seu filho. Uma vez que a causa era conhecida, as crises diminuíram de intensidade até desaparecerem.

O mesmo que aplicamos à ansiedade serve para outras emoções de valência negativa, como tristeza ou raiva. Deixá-las estar com você é difícil, mas é o princípio para deixá-las falar e para que você possa ouvir sua mensagem. É por isso que lhe damos uma ideia simples: permita que suas emoções dolorosas estejam com você, escute sua mensagem sem tentar eliminá-las antes do tempo, e se você se sentir oprimido por elas, procure ajuda profissional.

Mindfulness como ferramenta de aceitação e escuta

Uma das formas mais simples para começar a aceitar e ouvir o desconforto é a prática do mindfulness. Tenha em conta que a escuta das nossas emoções é mais simples se observarmos a nossa mente. Assim, perceber o que pensamos em cada momento nos permite captar detalhes de nossas vidas emocionais que, de outra forma, ignoraríamos.

Mulher meditando diante de lago

Este é o poder da observação: só reparamos nas nuances da nossa experiência quando observamos com atenção e utilizamos a nossa capacidade de escuta. Por este motivo é tão importante observar o que pensamos, o que sentimos e o que notamos em nosso corpo. Além disso, para aproveitar ao máximo esta observação, ela deve ser feita sem nos deixarmos arrastar pelas experiências que aparecem diante de nós. Para isso, você pode seguir as seguintes estratégias:

  • A respiração como ponto de partida e encontro: a respiração é uma das formas mais fáceis de nos atualizarmos no momento em que vivemos. Concentrar-se nela é essencial para começar a praticar o mindfulness. Além disso, no momento em que você perder o foco da atenção e se fundir aos seus pensamentos, voltar a ela irá levá-lo ao momento presente.
  • Tudo piora antes de melhorar: quando começamos a praticar a escuta do que sentimos, a aceitar o que acontece conosco, muitas vezes o nosso desconforto piora. No entanto, lembre-se de que este declínio é curto e, se o fizermos bem, demoraremos muito pouco para começar a melhorar.
  • “Escaneie” seu corpo para o conhecer de verdade: nosso corpo guarda inúmeras informações. Ser consciente de suas sensações e suas tensões fará com que você se conheça mais e que libere as emoções.
  • Seja gentil consigo mesmo e com a experiência: muitas vezes nós somos os nossos piores juízes. Condenamos todas as nossas experiências negativas e multiplicamos nossos sentimentos fazendo um julgamento de valor sobre eles. O que acontece não é bom nem ruim, simplesmente acontece e, na maioria das vezes, não podemos mudar isso. Aceite o fato e deixe ir como mais uma parte da experiência, já que julgar não vai ajudar em nada.

Agora você tem armas para evitar os pensamentos, sentimentos e emoções que o perturbam. Agora você pode viver sem alimentar o desconforto ao tentar evitá-lo. Simplesmente ouça o que seu desconforto quer dizer e aprenda com isso, pois ele lhe dará as pistas necessárias para superá-lo.

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Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.