Aproveitar o bom da vida para assumir as coisas ruins

Aproveitar o bom da vida para assumir as coisas ruins
Álvaro Cabezuelo

Escrito e verificado por o psicólogo Álvaro Cabezuelo.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Muitas vezes focamos nos erros que cometemos na vida, e nos esquecemos facilmente das coisas boas. As nossas vidas estão carregadas de bons momentos que esquecemos quando olhamos para trás e só olhamos as coisas ruins.

A verdade é que lembrar-se dos momentos importantes ou dos detalhes que marcaram as nossas vidas não é uma tarefa fácil. A nossa memória funciona de forma seletiva, escolhendo as lembranças que quer preservar e aquilo que por fim irá esquecer.

As lembranças das nossas vidas

As lembranças são aquelas imagens, palavras, cheiros, sensações e emoções que guardamos na nossa mochila. Podemos levar uma carga muito pesada ou, pelo contrário, uma bagagem leve. O ruim não é caminhar com uma carga grande, o ruim é sentir o seu peso.

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Sentimos um peso grande quando levamos lembranças das pedras pesadas da culpa, da tristeza e dos fracassos. Sentimos um peso leve quando sabemos que carregamos todo esse peso, mas preferimos escolher nos sentirmos bem com a mochila que levamos. O ruim não é andar com uma mochila de lembranças, o ruim é escolher sempre o peso mais pesado.

Temos que considerar que a nossa memória e a nossa mente são maravilhosas, mas às vezes podem ser traidoras. A nossa mente pode nos trair e recuperar lembranças distorcidas ou lembrá-las de forma pior do que realmente foram. Além disso, sabemos que o nosso estado emocional influencia de forma muito notável a informação que recuperamos nas nossas mentes. Se estivermos mal, lembraremos de forma ruim.

“Se procuro nas minhas lembranças os que deixaram um sabor duradouro, se faço um balanço das horas que valeram a pena, sempre me encontro com aquelas que não me deram nenhuma fortuna.”

-Antoine de Saint-Exupery-

A vida é escolher o bom para poder assumir as coisas ruins

Sabendo que a nossa memória não funciona sempre da melhor forma, o melhor que podemos fazer é ter isso em mente quando estivermos relembrando cenas que se repetem várias vezes e não fazem outra coisa a não ser nos prejudicar. Pense na sua memória e faça uma análise mais objetiva das suas lembranças.

Também é fundamental considerar que na vida nem sempre tudo sai como gostaríamos, e que os erros fazem parte do aprendizado. Você é o que é e chegou até aqui pelo que aprendeu.

Todas essas perguntas do tipo: “e se… eu tivesse feito”, “e se… eu tivesse dito”, “e se… eu não tivesse ido”. São possibilidades, caminhos que não tomamos por alguma razão. Questionar-se, imaginar soluções alternativas e se culpar por não tê-las tomado danifica o nosso presente.

Pense no caminho que você ainda tem pela frente e quais lembranças você quer adicionar à mochila da sua vida. O trajeto não termina até irmos embora e a memória é apenas uma parte do percurso. Caminhe sempre em frente; ainda há lembranças para adicionar à sua biografia.

“Poder desfrutar das lembranças da vida é viver duas vezes.”

-Marco Valerio Marcial-

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A biografia da sua vida

Somos apenas rascunhos. Esboços pela metade que vamos aprimorando com nossas experiências, pensamentos e emoções que associamos a elas. Não permita que a sua biografia seja escrita com rancor. Construir a si mesmo não é uma tarefa fácil. Requer tentativas, acertos e tombos, mas a vida não é um exame com apenas uma resposta correta. Ninguém nasce sabendo viver de forma plena.

Uma boa forma de organizar a nossa biografia é expressando-a. Escrevendo-a, pintando-a, cantando-a, tocando-a ou inclusive construindo-as com as mãos. A expressão artística, seja ela qual for, é uma das melhores formas de expressar a sua biografia.

Aproveitar o bom da vida para poder assumir as coisas ruins é aceitar a si mesmo e aceitar o que foi vivido. E isso é o maior presente que podemos nos dar para chegarmos ao final do caminho sendo nós mesmos.

“A vida é suficiente para me justificar.
E quando me convocarem para declarar os meus atos,
mesmo que me ouça uma cadeira vazia,
a minha voz será firme.

Não pelo que a morte me prometer,
e sim por tudo aquilo que não poderá me tirar”

-Luis Garcia Montero-


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