As 5 chaves da psicologia japonesa

As 5 chaves da psicologia japonesa
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A psicologia japonesa funde suas raízes em um tipo de filosofia de vida muito particular. Racionaliza suas emoções e as canaliza de um modo espiritual. Tem uma alta consideração por seus familiares, por sua comunidade e por cuidar dessa imagem do “eu” onde o respeito pelo outro é máximo, onde a confiança no grupo é algo que deve ser favorecido diariamente.

Apesar da cultura nipônica ser tão interessante quanto distante, vale dizer que, no fundo, não deixam de ter as mesmas preocupações existenciais que nós. Os problemas financeiros, matrimoniais, o estresse do trabalho, a pressão dos estudos e as crises pessoais são desafios cotidianos que a psicologia japonesa tenta gerenciar por meio de um enfoque analítico; é aí que figuras como Hayao Kawai se lançam como as referências clínicas mais relevantes.

A psicologia japonesa pode parecer, inicialmente, muito diferente da ocidental. Porém, ambas têm muitos pontos em comum, enfoques similares baseados em princípios da filosofia oriental ou do budismo que fazem parte de um todo baseado na superação pessoal e na resiliência.

Se há algo que costuma ser comentado frequentemente sobre o Japão é que sua taxa de suicídios é uma das mais altas do mundo. Isso é verdade, mas cabe lembrar que atualmente os países nórdicos são os que costumam encabeçar esta lista, e que desde 2006 o número de suicídios entre a população nipônica diminuiu de forma considerável.

Fatores como o desemprego ou a pressão no trabalho são os elementos que mais fizeram vítimas na população japonesa. Porém, o governo aumentou de forma notável o investimento em atenção psicológica e em prevenção de suicídios, que costumam se concentrar nos grandes núcleos financeiros como Tóquio ou Kyoto, e que distam muito do equilíbrio e da satisfação vital que os japoneses têm, por exemplo, nas áreas rurais.

Psicologia japonesa

As 5 chaves da psicologia japonesa

Graças a livros como “Psicologia Social do Mundo Moderno no Japão” de Munesuke Mita, podemos observar, com nosso olhar ocidental, grande parte dos enfoques que nutrem esta cultura, às vezes tão tradicionais, mas ao mesmo tempo pontuais e sofisticados quanto aos negócios e engenharia.

Para compreender em profundidade como é sua filosofia de vida e as dinâmicas que fazem parte da psicologia japonesa, é importante entender 5 chaves muito concretas sobre como eles gerenciam suas emoções, como se relacionam e quais estratégias os psicólogos costumam trabalhar para favorecer o bem-estar mental.

1. O mundo emocional: o tatemae e honne

Algo que já intuíamos é que os japoneses são muito dados a racionalizar suas emoções e que, no que se refere à expressividade, costumam ser mais reservados e inclusive herméticos.

Assim, é interessante saber que gerenciam o mundo emocional com base no contexto no qual se encontram. tatemae, por exemplo, faz referência ao comportamento público, por isso a reserva deve ser máxima, favorecendo o respeito, o equilíbrio e a mesura.

honne se refere às emoções que cada um pode liberar, trabalhar e gerenciar de forma privada em sua casa. Ele se realiza por meio de um ponto de vista espiritual. A psicologia japonesa costuma fundir suas raízes no budismo e no taoismo, por isso cada um deve encontrar seu próprio canal de cura e desabafo.

Educação japonesa

2. A confiança intergrupal

O Japão é uma sociedade com um conceito da coletividade e de coesão social muito forte. Valoriza muito o respeito à família, assim como o respeito pela própria comunidade, a qual é preciso atender buscando sempre o benefícios comum e não o próprio. Por exemplo, quando alguém está resfriado, sai de casa com máscara para evitar contagiar os outros.

Eles se identificam com o grupo, têm um eu social muito sólido, muito definido e que, em essência, foi muito útil para enfrentar desastres como o ocorrido em 2011 com o tsunami e o terremoto que devastou grande parte de Fukushima.

3. Arugama, aceitar as coisas da forma como são

A aceitação é um conceito muito arraigado na psicologia japonesa. Vale ressaltar que aceitação não é sinônimo de rendição e nem de resignação. Os japoneses sabem que todo material ou substância caracterizada pela resistência sempre acaba se quebrando ou se partindo pela metade. Quem não aceita e resiste não flui, não se adapta, não sobrevive.

Arugama é a essência da mudança que acontece depois da aceitação, depois de assumir que as coisas são como são e que não há outra opção a não ser continuar avançando.

4. A atenção

Dentro da psicologia japonesa é muito comum a chamada “Morita Therapy“, um tipo de estratégia psicológica baseada na atenção concentrada em si mesmo. Isso é algo que a cultura oriental leva anos praticando. Uma das principais características deste tipo de terapia é ser consciente das próprias experiências internas, do sofrimento, da frustração, do medo, da ansiedade, etc.

Assim, e uma vez que a pessoa entre em contato com sua realidade pessoal, o terapeuta costuma recomendar 4 estratégias para favorecer a recuperação: repouso absoluto, meditação, uma alimentação correta e o preparo gradual para a vida cotidiana.

Paisagem japonesa

5. Refletir sobre as próprias histórias relacionando-as com a natureza

Este tipo de enfoque é muito interessante. A psicologia japonesa costuma transmitir à pessoa a necessidade de praticar a introspecção. Devem ser capazes de ver em perspectiva suas próprias histórias vitais, tudo que aconteceu, tudo que se sofreu, as descobertas e o que foi desfrutado. São convidados a ver seus relatos pessoais como acontecimentos que também ocorrem na própria natureza.

Todos crescemos e amadurecemos, todos passamos por épocas que deixam marcas profundas semelhantes às que as árvores possuem em seus troncos. Cada um de nós pode chegar a florescer nas situações mais adversas, nutrindo nossas raízes para nos transformarmos em seres mais fortes.

A vida é um discorrer constante, como o fluxo de um rio que não se detém, como o vento que move as folhas e as superfícies dos mares… Longe de nos sentirmos vítimas do destino, podemos ser como a própria natureza, sempre ávida por se renovar, por continuar germinando…

Para concluir, assim como podemos ver, a psicologia japonesa não é tão desconhecida quanto poderia parecer. Muitos de nossos enfoques também se nutrem destes princípios de superação pessoal que são tão inspiradores para o dia a dia… Aplicá-los, se assim desejarmos, pode ser também de grande ajuda.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.