Autoestima e depressão: como se relacionam?
Autoestima e depressão possuem um vínculo significativo. Embora a origem de uma depressão seja claramente multifatorial, alguns estudos clínicos revelam que uma baixa autoestima mantida ao longo do tempo nos torna muito mais vulneráveis a esse tipo de condição. O fato de não nos aceitarmos e não termos sentimentos positivos em relação ao nosso próprio ser acaba nos deixando sem recursos psicológicos.
Entendemos a autoestima como um conjunto de sentimentos que geram o autoconceito. Dessa forma, enquanto o autoconceito abrange basicamente todo esse conjunto de ideias e crenças que definem a imagem mental de quem somos, a autoestima é, acima de tudo, um componente emocional básico para o bem-estar humano.
Uma b aixa autoestima nos faz sentir mal com nós mesmos, gera desconexão, desânimo e uma grande vulnerabilidade no desenvolvimento de diversos transtornos psicológicos.
Por isso, não nos surpreende que os psicólogos e psiquiatras levem em conta essa dimensão psicológica quando se trata de entender os transtornos do espectro depressivo. No entanto, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) não inclui a baixa autoestima entre os critérios que uma pessoa deve satisfazer para ser diagnosticada com depressão. No entanto, levam em conta dimensões como o “sentimento de inutilidade”.
Os pesquisadores da psicologia da personalidade, por sua vez, sempre demonstraram um grande interesse na relação entre autoestima e depressão. Para eles, a questão seria: a autoestima é um fator capaz de provocar a depressão? Ou é a própria depressão que acaba prejudicando a autoestima?
Autoestima e depressão: dois modelos para explicar a sua relação
Muitas vezes nos levantamos, tomamos o café da manhã e saímos sem saber que estamos nus. Não importam as roupas que estamos usando ou a marca do jeans ou camiseta se todos os dias enfrentamos o mundo com uma baixa autoestima. Porque através das suas pequenas aberturas e frágil armadura entra tudo: abuso, medo, insegurança, negativismo…
As depressões geralmente têm uma origem bastante difusa e multifatorial, sem esquecer os fatores endógenos que nem sempre conseguimos controlar. No entanto, ninguém pode ignorar que toda mente revestida pela baixa autoestima resulta em uma baixa efetividade para enfrentar e gerenciar os problemas mais simples. Além disso, a pessoa com baixa autoestima observa o mundo através de lentes muito escuras.
No entanto, a única maneira de demonstrar essa ligação entre autoestima e depressão é através de estudos científicos e, principalmente, através de pesquisas longitudinais. Assim, e apenas como um exemplo, a Universidade de Basileia publicou recentemente um trabalho muito ilustrativo sobre o assunto que pode nos dar algumas respostas, contrastando as direções concorrentes entre ‘baixa autoestima que gera depressão’ versus ‘depressão que gera baixa autoestima’.
O modelo da vulnerabilidade
De acordo com o modelo da vulnerabilidade, existem pessoas com um perfil de personalidade caracterizado por uma baixa autoestima. Segundo esse ponto de vista, esse padrão psicológico processará os acontecimentos da vida de maneira negativa. Da mesma forma, também faltará uma habilidade tão básica quanto a resiliência.
- Elas mesmas são as criadoras de uma realidade da qual precisam se defender, da qual desconfiam, e se posicionam sempre como vítimas ou atores coadjuvantes, em vez de serem protagonistas das suas próprias histórias, merecedoras de oportunidades e promotoras de mudanças positivas com as quais superar os eventos negativos.
- Além disso, os autores deste trabalho puderam constatar que, em muitos casos, as pessoas com baixa autoestima tentavam não contestar, mas focar no seu autoconceito negativo, prestando mais atenção e relevância aos comentários negativos das pessoas do seu ambiente.
Autoestima e depressão estão relacionadas no modelo da vulnerabilidade para indicar aquelas pessoas sem resiliência e com baixa solvência emocional.
O modelo da cicatriz
Agora vamos para a visão oposta. De acordo com o estudo acima mencionado, algo que também pode ser visto no estudo longitudinal é que a própria depressão frequentemente pode moldar a baixa autoestima. Toda essa gama de sentimentos desesperados, negativos e desgastantes que orbitam na mente depressiva são aqueles que minam diretamente a autoestima.
Conclusão
Com qual ficamos? Com o modelo da vulnerabilidade ou da cicatriz, que defende a depressão como a causa da baixa autoestima? A Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association, APA) é clara: a baixa autoestima é um fator de risco no desenvolvimento de vários distúrbios psicológicos, incluindo a depressão.
Além disso, em uma das suas publicações, advertiu que autoestima e depressão estão tão fortemente correlacionadas nos estudos transversais que é uma prioridade desenvolver estratégias de prevenção apropriadas para a população adolescente. O número de diagnósticos continua a aumentar nessa faixa etária. E o que é pior, aumenta também o número de suicídios.
O modelo da vulnerabilidade é, portanto, aquele que todos devemos ter em mente. De alguma forma, também se encaixa no modelo da tríade cognitiva de Beck sobre as pessoas com maior risco de depressão. Ou seja, são perfis com uma visão negativa do mundo, que não confiam no futuro e se percebem como indivíduos sem nenhum valor.
Esses tipos de considerações, de abordagens limitadas e sombrias, não levam a lugar algum. E muito menos à expressão de uma vida significativa, otimista e esperançosa. Já foi comprovado que autoestima e depressão mantêm um laço de união que não podemos negligenciar. Então, vamos investir nessa parte do nosso universo pessoal. Vamos manter o jardim da nossa autoestima forte, iluminado, bem cuidado em todos os seus aspectos e espaços.
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