O avarento e sua prisão interior
Todos conhecemos uma pessoa avarenta, ainda que tentem passar despercebidas. São aquelas pessoas que nunca levam dinheiro para lugar nenhum, vão ao banheiro bem na hora de pagar uma conta coletiva ou que são capazes de ir a lugares improváveis só para ganhar um desconto. O avarento não é fácil de reconhecer. Na verdade, muitos não consideram que ser excessivamente econômico é algum tipo de problema.
Em psicologia fala-se muito das patologias do excesso: comer demais, beber demais, gastar demais… Mas as patologias por deficiência normalmente aparecem camufladas: o que come pouco está fazendo dieta, o que não brinca é alguém sério, e o que gasta pouco é econômico.
No entanto, é claro que “demasiado” não é um bom adjetivo para nada. Existe uma forma patológica de economia que não se resume apenas a dinheiro e bens materiais, mas que também expressa os aspectos mais profundos da personalidade.
Características de um avarento
O avarento, ou economizador patológico, é reconhecido porque evita fazer gastos que poderia perfeitamente fazer, sem que lhe cause nenhum problema. Geralmente eles têm rendimentos sólidos e uma posição estável. Se você perguntar, eles vão dizer que sua condição é boa precisamente por ter se esforçado para economizar e não gastar em bobagens.
É o tipo de pessoa que usa a mesma roupa durante anos para não gastar. Não usam telefone, apagam todas as luzes e compram os produtos mais baratos do supermercado, mesmo que sejam de baixa qualidade.
É preciso que haja uma situação extrema para que eles sejam capazes de fazer um convite para jantar. Se forem dar presentes, compram algo barato. E às vezes são capazes de guardar o que ganharam para dar de presente depois e evitar o gasto.
A razão deles é guardar dinheiro só por guardar. Ou para realizar planos que jamais serão executados. Ou para enfrentar possíveis “maus momentos”, embora nenhum momento seja tão mau quanto se convencer de que é preciso gastar.
Avarento material, avarento emocional
O mais grave é que quem é avarento, não é só com o dinheiro. Também é avarento com as suas emoções, seus afetos e com a sua própria utilização de energia vital.
Assim como não gastam em objetos, essas pessoas também não são generosas em relação aos outros e nem no que investem para os verem felizes. O avarento guarda para si próprio tudo o que puder e, dessa forma, não é uma pessoa prudente, e sim uma pessoa presa em uma prisão interior.
A avareza: uma estrutura do caráter
É muito difícil conviver ou estabelecer um vínculo profundo e duradouro com uma pessoa avarenta. Assim como sentem que devem proteger as suas “economias” das tentações do mercado, eles também acreditam que podem ser “surrupiados” emocionalmente pelos outros.
Há casos em que custa acreditar. Como o de Laura, que tinha um namorado avarento, que sempre lhe fazia convites para lugares onde não tinham que pagar um centavo. Se tivesse que pagar, era sempre ela que acabava tirando o dinheiro do próprio bolso. Uma vez, seu namorado a surpreendeu pagando a conta da discoteca. Mas no dia seguinte ele chegou na casa dela com a fatura nas mãos para cobrar o que ela o devia.
O ponto de vista da psicanálise sobre a avareza
A pessoa avarenta está, na realidade, aterrorizada, e organiza a sua vida a partir de uma fantasia de controle. Para a psicanálise, o tema está relacionado com uma dificuldade de superação da fase anal.
Quando a criança percebe o quanto a fase de controle intestinal é traumática ou excessivamente severa, ela geralmente desenvolve uma obsessão por reter, por evitar a dar. Isso se traduz na vida adulta tanto em avareza, quanto no egocentrismo. O avarento também é alguém que, de uma forma ou outra, acaba usando as outras pessoas para os seus próprios interesses.
Por isso ele não dá nada, espera que outra pessoa coloque a mão no bolso para pagar uma conta comum, mesmo que saiba que essa pessoa ganha menos. Ele também não se importa que o seu comportamento venha a prejudicar a si próprio.
Existem pessoas avarentas que morrem de frio por não quererem gastar em equipamentos de aquecimento. Outras, como Leonardo DiCaprio, tornam-se “ambientalistas” para não gastar. Como assim? DiCaprio não usa seu avião para “não contaminar” o ambiente. Mas ele não tem escrúpulos em usar os aviões privados de outras pessoas, como já disse seu amigo Mark Wahlberg.
Ser avarento é estar trancado na prisão do medo
O avarento está preso em seus próprios medos. Pode ser alguém com depressão e fantasias de catástrofe. Também é possível que tenha uma personalidade exploradora. Geralmente terminam suas vidas sozinhos e com uma grande fortuna guardada, que acaba nas mãos de uma pessoa qualquer.
Imagens cortesia de John Holcroft