De que cor queremos que seja a baleia: “azul ou rosa”?

De que cor  queremos que seja a baleia: “azul ou rosa”?

Última atualização: 15 julho, 2017

Ninguém quer se suicidar. De fato, a maioria das pessoas que dão esse passo agem movidas pela convicção de que não têm outra saída mais aceitável. É a última opção, seu último recurso para escapar de uma vida que provoca dor. É muito provável que o macabro jogo da “baleia azul” não tenha sido compreendido pela maioria das pessoas. Mas há algo que não podemos perder de vista. Na atualidade, centenas de crianças e adolescentes navegam nos oceanos da solidão, da tristeza e da vulnerabilidade. São pessoas que precisam de ajuda.

Maylen tinha 13 anos e vivia em um pequeno povoado na Colômbia. Sua vida, aparentemente, era normal, não muito diferente da vida de qualquer outra adolescente da sua idade. Alguns dias antes de se suicidar ao se enforcar com uma fita, a menina perguntou à sua mãe se as baleias azuis existiam. “Existem sim e devem restar poucas. Estão em vias de extinção.”, respondeu a senhora Villamizar, incapaz de imaginar o que sua filha tinha em mente.

 “Uma das principais missões da adolescência é conquistar uma identidade, não necessariamente um conhecimento de quem somos, mas um esclarecimento daquilo que podemos chegar a ser”
-Anônimo-

Maylen não foi a única a dar esse passo. Foram cerca de 130 jovens no mundo todo que realizaram as 50 provas degradantes desse “jogo”. Uma partida que se ganha com um “último movimento”, o de tirar a própria vida (e caso isso não seja feito, aqui há mais um crime, o jogo avisa que, ao ter conhecimento do IP do usuário, terceiras pessoas poderão assassinar seus amigos e familiares).

Muitos podem dizer que o mundo das redes sociais, dos fóruns e desses grupos constituídos na rede intangível das novas tecnologias apresenta apenas consequências negativas. No entanto, por trás de tudo isso há uma reflexão que esse jogo nos impõe: o mundo, acreditemos ou não, está cheio de baleias azuis. Seres preciosos e, ao mesmo tempo, vulneráveis, representam esses universos atávicos dos quais estamos nos descuidando inconscientemente ou deliberadamente: a solidão, o medo, a insegurança, a sensação de falar com uma parede…

É o momento de fazer escolhas. O oposto da “baleia azul” é a “baleia rosa”, uma iniciativa maravilhosa que surgiu em reação ao jogo que está tirando a vida de muitos jovens de forma lamentável.

Baleia rosa

A baleia azul busca sair de uma vida que provoca dor

Curiosamente, o nome desse jogo tem pouquíssimo a ver com o deslumbrante animal no qual se baseia. A baleia azul é o maior animal do nosso planeta. São nadadoras graciosas e percorrem o oceano em alta velocidade. Por sua vez, são um dos animais mais barulhentos do planeta. São capazes de emitir diferentes pulsos e grunhidos que são ouvidos a mais 1.500 quilômetros de distância. São, possivelmente, uma das criaturas mais fascinantes da natureza.

No entanto, nossas “baleias azuis”, aquelas que nadam no chão de asfalto e no mundo das redes sociais, são criaturas silenciosas, daquelas que passam despercebidas. Além disso, se caracterizam por uma vulnerabilidade psicológica e por uma carência de figuras de referência estáveis. Perante a repetida pergunta de como um jovem de 12, 13 ou 18 anos decide dar o passo de entrar nesse jogo, no qual se pede coisas tão humilhantes quanto dolorosas, temos que levar em consideração vários aspectos que nos ajudarão a compreender um pouco melhor esse fenômeno.

Baleia azul

Por que um jovem decide participar desse jogo?

O jogo da baleia azul permite que as crianças e os adolescentes criem uma personalidade em um mundo no qual se sentem invisíveis, no qual muitos não encontram seu lugar, no qual nada parece despertar um sentimento de identificação. Cada autoflagelação, cada desconcertante prova superada é uma conquista , é uma demonstração de coragem porque enfrentaram a dor, o medo, a indecisão… Tudo isso são “conquistas” que publicam com “orgulho”, para, assim, obter um reforço psicológico e uma motivação. A motivação de continuar.

Por sua vez, o fato de entrar nesse tipo de jogo faz com que sintam que fazem parte de um projeto, do qual nasce um compromisso. Não podemos nos esquecer de que a adolescência é uma fase de buscas, na qual se o jovem não tem um grupo de amigos consolidados ou uma família com um vínculo ativo e como referencial seguro, essa menina ou esse menino vai somente buscar se defender da sociedade do modo que for (que, às vezes, acaba sendo o menos acertado).

O jogo da Baleia Azul oferece, no final das contas, uma viagem de cruéis desafios a essas crianças e esses adolescentes. Desafios para tentar recuperar a autoestima, sem saber que estão à mercê dos sádicos e cruéis caprichos das pessoas que estão por trás desse jogo.

As baleias azuis podem se transformar em baleias rosas

É preciso acordar e perceber que à nossa volta navega mais de uma baleia azul. No entanto, devemos ter cuidado para não assustá-las, não ficarmos bravos com elas por serem como são, por sentirem o que sentem ou por terem alguma curiosidade por esse jogo. Porque, caso castiguemos, julguemos ou ironizemos, a baleia azul vai se afastar de nós. Devemos guiá-la com assertividade, proximidade e inteligência para que, com a nossa ajuda, ela possa se transformar em uma baleia rosa.

 “A adolescência é um novo nascimento, já que com ela nascem características humanas mais complexas e mais elevadas.”
-G. Stanley Hall-

Assim como nos explica a OMS, cerca de 4% da população sofre de depressão e, a cada ano, mais de 800.000 pessoas escolhem tirar a própria vida porque, para elas, é a única opção para parar de sofrer. Grande parte desse número são jovens de 13 a 25 anos. Além disso, sabe-se que aproximadamente 16 milhões de pessoas se automutilam, especialmente os adolescentes.

Precisamos, portanto, abordar a criação e a educação de outro modo. Precisamos de mais ferramentas nos centros educativos e, sem dúvidas, de mais iniciativas como a “Baleia Rosa”, voltada a construir uma atitude positiva por meio de 50 provas tão assertivas quanto divertidas. Nela, cada passo é um princípio de vida, e não um final de tristeza.

Baleia rosa

Prevenção e supervisão

Por outro lado, o trabalho das famílias é vital nesses casos e, por isso, é preciso que todos os dias tenhamos consciência dessas simples orientações:

  • Os pais devem mostrar uma disponibilidade emocional absoluta na hora de ouvir seus filhos.
  • A atual crise econômica está fazendo com que, em muitos países do mundo, as famílias não tenham tanto tempo quanto gostariam para passar com seus filhos. No entanto, o pouco tempo do qual dispõem deve ser de qualidade, sempre construindo uma cumplicidade adequada e proximidade com os pequenos.
  • É preciso proporcionar aos pequenos oportunidades e ferramentas para construir relações significativas com seus iguais, sempre evitando o isolamento.
  • Devemos nos lembrar da necessidade de valorizar os nossos filhos, de oferecer reforços positivos para que tenham uma autoestima forte.

Por último, e não menos importante, é preciso prestar atenção às mudanças de humor e de comportamento dos nossos adolescentes. Por sua vez, supervisionar regularmente o que fazem e compartilham nas redes sociais é essencial para evitar situações como as que estão ocorrendo nos dias de hoje, e mais perto de nós do que poderíamos imaginar.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.