A balsa do prazer, um estranho experimento sobre sexo
Santiago Genovés foi um espanhol que emigrou para o México quando tinha apenas 15 anos de idade, fugindo da Guerra Civil Espanhola. Ele se tornou antropólogo e, junto com seu colega norueguês Thor Heyerdahl, projetou um famoso experimento chamado de ‘balsa do prazer’.
Muitos entenderam que se tratava de um experimento sobre sexo, mas os resultados foram muito diferentes do que todos imaginavam.
Genovés sempre teve um interesse especial em explorar o comportamento humano, principalmente no que se refere à violência. Foi a violência que o tirou de seu país natal e também o que ele encontrou em novembro de 1972, quando o avião em que viajava foi sequestrado por um grupo radical.
“Nenhuma quantidade de experimentação pode provar definitivamente que estou certo; mas um único experimento pode provar que estou errado”.
– Albert Einstein –
Foi exatamente esse sequestro que lhe deu a ideia de realizar um experimento sobre sexo e violência. Nos animais, sexo e violência andam de mãos dadas. O mesmo ocorreria nos seres humanos? Como comprovar isso?
A ideia do experimento
Dois anos antes do sequestro, Genovés, na companhia de Thor Heyerdahl, embarcou em uma viagem da África para a América, em barcos feitos de juncos de papiro. Ele queria provar que os africanos poderiam ter chegado à América como Colombo.
O mais importante não foi isso, mas o fato de descobrir que a vida em alto mar é um cenário perfeito para observar em detalhes o comportamento humano.
Essa experiência, juntamente com o sequestro, terminou de moldar a sua intenção de criar uma espécie de laboratório para entender melhor o comportamento humano. O que ele propôs foi projetar um cenário perfeitamente adequado ao conflito.
Era também um experimento sobre sexo, baseado na hipótese de que o comportamento humano, assim como o animal, associa sexo e violência.
O que finalmente surgiu foi a ideia de construir um pequeno barco, com o mínimo de conforto e muito pouco espaço. Um grupo de voluntários embarcaria nele e teria que navegar por 101 dias seguidos, sem o direito de desertar.
Genovés ficou encarregado de escolher as pessoas e fez todo o possível para que fossem incompatíveis entre si.
A balsa do prazer?
O pequeno navio deixou as Ilhas Canárias rumo a Cozumel, no México. Os voluntários eram seis mulheres e quatro homens.
Genovés deu às mulheres os papéis de autoridade sobre a travessia e relegou aos homens as pequenas tarefas. Ele pensou que, dessa forma, haveria maiores fontes de atrito.
A verdade é que a imprensa começou a especular sobre o experimento, já que Genovés não deu detalhes do que era proposto. Ocultar os seus objetivos era essencial para permitir que os comportamentos emergissem espontaneamente.
No entanto, a imprensa assumiu esse “laboratório humano” como um experimento apenas sobre sexo.
As manchetes dos jornais falavam sobre orgias e todo tipo de perversão. Eles asseguravam que Genovés andava de biquíni pelo barco. Começaram a chamá-lo de “a balsa da paixão”.
Na verdade, o diretor do experimento esperava comportamentos sexuais muito óbvios, e foi por isso que escolheu voluntários sexualmente atraentes.
A grande surpresa
Uma vez em alto mar, as coisas não saíram conforme o planejado pelo criador do experimento da balsa do prazer.
Apenas um dos viajantes começou a exibir comportamentos agressivos: o próprio Santiago Genovés, que começou a se desesperar ao ver que nenhuma de suas hipóteses estava sendo comprovada. Os voluntários, por outro lado, alcançaram uma convivência pacífica e harmoniosa.
Embora houvesse relações sexuais entre alguns dos participantes, a situação estava longe de se tornar um experimento sobre sexo. Tampouco aconteceu o que Genovés esperava: que o sexo gerasse violência.
Foi por isso que ele começou a se tornar muito intolerante e chegou muito contrariado ao porto de destino.
Anos depois, os voluntários se reuniram para conversar sobre a experiência. Eles descobriram que todos tinham fantasiado em assassinar Genovés. Na verdade, alguns chegaram a pensar nos métodos ideais para fazer isso. Ninguém o suportava.
Ele se tornou tão autoritário que aborreceu todos os participantes. Por isso, surgiram laços de solidariedade e amizade entre os voluntários que permaneceram intactos após a viagem.
Na verdade, o design desse experimento não foi exatamente o melhor. Da mesma forma, essa associação mecânica do comportamento animal com o comportamento humano talvez não fosse tão válida.
Esta foi uma experiência tão singular que inspirou um filme chamado ‘A Balsa’, no qual este curioso episódio da antropologia foi relatado.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Genovés, S. (1991). Expedición a la violencia (Vol. 453). Fondo De Cultura Economica USA.