O bilinguismo: vantagens e condições

O bilinguismo: vantagens e condições
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

De acordo com o ponto de vista da psicologia do aprendizado, o bilinguismo é bastante positivo, mas nem sempre foi assim. Na década de 60, imaginava-se que ele dificultava o desenvolvimento intelectual das crianças. Acreditava-se que eles tinham que traduzir simultaneamente tudo o que escutavam e liam nos dois idiomas, e que isso era uma perda de tempo e esforço.

Porém, hoje está comprovado que longe de prejudicar o aprendizado, inclusive o beneficia. As vantagens do bilinguismo são claras. E não só para as crianças, mas também para os adultos, já que aprender uma nova língua retarda o declínio cognitivo.

O surgimento do bilinguismo

Alguns dos fatores que contribuíram de modo mais determinante para o auge do bilinguismo são do tipo histórico e também cultural. Especificamente, os relacionados com a abertura e o estabelecimento de novas fronteiras entre países, como citamos a seguir:

  • A expansão territorial de determinadas nações ou culturas. Foi o caso do latim, cuja propagação aumentou exponencialmente o número de bilíngues desta língua milenar.
  • A unificação política por consenso para facilitar a comunicação entre as línguas. Por exemplo, o inglês, estabelecido como o idioma científico por excelência.
  • As situações pós-coloniais também contribuíram para que os colonizadores impusessem seu idioma aos povos conquistados, que tiveram assim que adotar uma língua não nativa em detrimento da sua.
  • A imigração. Os imigrantes devem aprender um outro idioma, o do seu novo país de destino.
  • O cosmopolitismo tem propiciado um aumento de intermediários ou mesmo comerciantes bilíngues.

A importância da mãe

A relação que surge entre a mãe e o bebê é o protótipo de intercâmbio comunicativo por excelência. Durante meses a mãe interpreta os sinais que seu filho lhe envia (choro, grito, risada, sinalização) e os traduz em palavras e em uma variedade de intenções.

Mãe com seu bebê

Pouco a pouco, o adulto vai se tornando um espelho para o bebê. Quando a mãe emite um som, o bebê o reproduz. Quando ela faz algum gesto, ele tenta imitá-lo. Assim, vai se desenvolvendo um intercâmbio lúdico que contribui para que o bebê vá compreendendo e ampliando o conhecimento do mundo de maneira progressiva.

Portanto, a interação entre mãe e criança é a que determina tanto a aparição da linguagem quanto também o seu nível na criança. Os tipos de interação comunicativa que se produzem entre ambos vão se modificando e evoluindo à medida que a criança vai crescendo.

Tipos de bilinguismo

Existem duas variáveis chaves no desenvolvimento do bilinguismo nas crianças. Por um lado, no contexto em que ele se desenvolve e por outro, o nível de amadurecimento em que se encontra a criança. Sendo assim, podemos distinguir dois tipos de bilinguismo:

  • Simultâneo: os dois sistemas linguísticos são aprendidos ao mesmo tempo. Por regra geral, ocorre quando os pais falam dois idiomas cotidianamente e indistintamente.
  • Sucessivo: é aquele em que a criança somente tem acesso a um idioma durante sua infância, a língua materna. Uma vez dominada, aprende então um segundo idioma, por exemplo, inglês na escola.

O bilinguismo perfeito é bastante difícil de conseguir. Sempre existe uma língua que está um pouco mais desenvolvida e possui um peso maior que a outra. Quanto mais parecido for o idioma materno e o estrangeiro, mais rápido e eficaz será o aprendizado de ambos.

Pessoas falando um idioma diferente

Fatores e condições do bilinguismo

Foram realizados estudos com bebês de 6 meses (Nazzi y cols, 2009) com técnicas de filtragem para comprovar a precocidade infantil do bilinguismo. As conclusões foram realmente surpreendentes: com 6 meses de vida, os bebês já são capazes de distinguir a língua materna de uma segunda língua.

Isso não quer dizer que saibam discriminar os detalhes fonéticos do idioma, mas que podem distinguir a informação prosódica (entonação, ritmo…). Isso transforma os bebês de 6 meses em poliglotas em potencial. Contudo, essa habilidade vai diminuindo com o passar da idade, já que como fruto da evolução humana, vai desaparecendo ao não ser considerada uma habilidade fundamental para sua sobrevivência.

Bilinguismo positivo

Segundo Mariscal, deve ocorrer uma série de circunstâncias sociais, cognitivas e linguísticas para que o bilinguismo seja positivo para a criança:

  • Obter um nível de conhecimento alto e suficiente em dois idiomas, fruto de um contato prévio entre ambos.
  • Bom desenvolvimento da língua materna e aprendizado de um segundo idioma na escola.
  • Expectativas altas e atitudes positivas dos pais e professores frente a criança no relacionado ao seu integral desenvolvimento.
  • Existência de um bom prestígio social de ambos os idiomas.
Criança escrevendo em inglês

Vantagens cognitivas do bilinguismo

Segundo diversas pesquisas, as crianças que dominam dois idiomas indistintamente têm seu córtex pré-frontal e seu dorsolateral mais desenvolvidos, relacionados às funções executivas. Isso faz com que sejam mais rápidas e eficientes em determinadas tarefas nas quais essas habilidades superiores são necessárias.

Além disso, costumam discriminar melhor os estímulos do seu ambiente e ignoram com certa facilidade os ruídos da classe. Portanto, têm mais facilidade em se concentrar na matéria dada. Também costumam possuir uma reserva cognitiva maior, quer dizer, um mecanismo de controle cerebral que lhes permite “amortecer os efeitos da idade” e atrasar sua deterioração intelectual.

Como podemos observar, as vantagens de ser poliglota não se limitam somente ao terreno linguístico. Ter habilidade e conhecimento para se movimentar em um ambiente intercultural de maneira eficaz em dois idiomas é o fruto de ter sabido aproveitar as oportunidades adaptativas que a natureza nos oferece.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.