Biografia de Donald Woods Winnicott, o psicanalista que inovou na pediatria

Donald Woods Winnicott mostrou às mães que todas elas têm à sua disposição a capacidade adequada para favorecer o desenvolvimento ótimo, seguro e feliz de seus próprios filhos.
Biografia de Donald Woods Winnicott, o psicanalista que inovou na pediatria
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O que você sabe sobre a biografia de Donald Woods Winnicott? Muitos diziam que ele possuía um gênio clínico excepcional. Esse pediatra, psicanalista e psiquiatra inglês ajudou milhares de pais a entender melhor a vida emocional de seus filhos.

Ele se aprofundou nos processos transicionais que favorecem a individualização progressiva do ego, e graças a ele, foram definidas as bases do vínculo entre mãe e filho.

A herança teórica e prática que Winnicott nos deixou foi fundamental no campo da pediatria. Os especialistas costumam defini-lo como uma figura independente que trouxe grandes progressos para a psicanálise.

Ele soube se situar, com voz própria, entre a corrente freudiana e a kleiniana (enfoque herdado de Melanie Klein, criadora da teoria do funcionamento psíquico).

Ao longo dos anos 40, Donald Woods Winnicott publicou diversas pesquisas e trabalhos no British Medical Journal. Ele queria ter uma posição própria no campo da psiquiatria infantil e contribuir para o avanço desta ciência.

Evitou, na medida do possível, centrar-se em uma única escola teórica para propor ideias inovadoras sobre a psique dos bebês e das crianças.

Ainda hoje, seus livros continuam sendo editados de forma regular. O público, e especialmente os pais e mães, recebem com interesse trabalhos tão interessantes quanto ‘O Primeiro Diálogo’ e ‘Acertos e Erros na Criação dos Filhos’.

“Uma mãe é mais eficaz do que nunca quando confia no seu próprio critério”. 
-D. Winnicott-

Donald Woods Winnicott

Donald Woods Winnicott

Donald Woods Winnicott nasceu em Plymouth em 1896. Pertencia a uma família de classe alta, vinculada à política e às velhas tradições britânicas. Assim como revelado em muitas de suas biografias, sua infância contou com uma vantagem notável, segundo ele mesmo.

Seu pai Frederick, comerciante e prefeito de Plymouth, não passava muito tempo em casa. Ele foi criado por uma mãe afetuosa, comunicativa e muito próxima. Tinha duas irmãs mais velhas e uma babá.

Tudo isso lhe permitiu crescer em um entorno seguro, no qual podia expressar medos e inquietudes sem barreiras e se sentir validado a todo momento. Tudo isso, sem dúvida, teve uma grande influência nos seus trabalhos posteriores.

Em 1910 ele se matriculou na Lays School para estudar ciências, e mais tarde entrou no Jesus College em Cambridge para estudar medicina. No entanto, com o início da Primeira Guerra Mundial, o jovem Winnicott interrompeu seus estudos para servir à Marinha.

O trabalho ao lado de Melanie Klein

Depois do conflito bélico, Donald Woods Winnicott conseguiu terminar seus estudos e se especializar em pediatria em 1920.

A partir deste momento, quis melhorar a sua formação com a ajuda de Melanie Klein, uma célebre psicanalista que partiu das teorias sobre o inconsciente de Sigmund Freud para desenvolver suas práticas clínicas com crianças. No entanto, ao longo do tempo, surgiram diversas discrepâncias entre eles.

  • Klein pensava que não era útil incluir os pais no processo terapêutico. Winnicott, por outro lado, acreditava que isso era imprescindível, já que a figura dos pais é fundamental para compreender muitos processos patológicos nas crianças.
  • Winnicott se sentia influenciado por muitas correntes além da psicanálise. Ele era atraído, por exemplo, pelos trabalhos de Darwin sobre a sobrevivência em um meio hostil. Esta ideia lhe permitiu entender que os bebês precisam de um ambiente facilitador para sobreviver. Algo assim só poderia ser proporcionado pela mãe.

As discrepâncias entre Klein e Winnicott foram muito significativas. No entanto, ele integrou várias das teorias da psicanalista, como os conceitos do mundo interno, o poder da fantasia e a utilidade da brincadeira para ver defesas primitivas, medos e estados como a depressão reativa nas crianças.

Donald Woods Winnicott define uma base mais coerente e sólida da psicanálise

Em 1931, publicou Clinical Notes on Disorder of Childhood.  Mais tarde, lançou The maniac defense e The Family and Individual Development. Com estas obras, Winnicott definiu uma base mais coerente e sólida da psicanálise.

Colegas, professores e a própria comunidade psicanalítica destacaram suas ideias inovadoras.

  • Sua obra foi considerada um avanço teórico e prático indiscutível no campo da psicologia e da psiquiatria infantil.
  • Um detalhe que definiu este psicanalista foi sua preocupação verdadeira com as crianças. Durante a Segunda Guerra Mundial, criou lares de acolhida e centros para atender os pequenos durante os bombardeios.
  • Ofereceu ajuda terapêutica a muitas famílias para superar os traumas da guerra e se preocupou com a sua evolução. Foi uma figura muito entregue ao seu trabalho e a seus ideais.

Tudo isso foi recompensado com premiações de muito destaque no âmbito acadêmico. Ele se tornou presidente da British Psychoanalytical Society e foi sempre uma ponte excepcional entre a psiquiatria e a psicanálise. Faleceu em Londres em 25 de janeiro de 1971, aos 74 anos.

Principais contribuições da biografia de Donald Woods Winnicott

Mãe beijando seu bebê

A obra de Winnicott se centrou quase exclusivamente no vínculo entre mãe e filho. A figura materna era, para ele, a sustentação psicológica essencial para que a criança desenvolvesse um eu autêntico, saudável e feliz. Estas são as principais contribuições de Donald Woods Winnicott.

1. O bebê não existe sem a sua mãe

A disponibilidade materna, a proximidade absoluta segura e afetuosa, é a que vai formando a identidade psíquica da criança. Sem ela, um bebê não existe. Ele precisa deste envoltório físico e afetivo para poder crescer em todos os sentidos.

2. Os fenômenos transicionais

Os processos transicionais são etapas que permitem que as crianças passem de um estágio para o outro. Fazê-lo de forma segura por meio do apoio dos pais vai assegurar o sucesso.

Um exemplo de transição é passar da amamentação para a alimentação sólida, começar a falar depois de balbuciar, caminhar depois de engatinhar.

3. A brincadeira, uma necessidade essencial

Através da brincadeira, a criança entra em contato com seu sentido de existência e com a sua identidade. É um cenário no qual pode imaginar, testar, experimentar, compartilhar, aprender, idealizar… O que acontece nesse universo psíquico favorece a sua evolução.

4. A criação é alegria e a mãe deve confiar em si mesma 

Donald Woods Winnicott foi um psiquiatra que focou sua perspectiva no positivismo, na felicidade presente no processo de criação e educação. Além disso, sempre manteve a convicção de que é preciso confiar no instinto da mãe. Somente elas sabem o que é melhor para seus filhos em cada momento.

5. O perigo do “falso eu”

O perigo do falso eu surge na criança quando ela não se sente atendida, compreendida, amada. É aí que ela escolhe “ser outra pessoa”. Será alguém cheio de necessidades que vai buscar sempre a atenção dos demais.

Será um pequeno habitado pelos vazios que não terá a oportunidade de se individualizar, de desenvolver sua personalidade de maneira saudável.

Para concluir, assim como podemos ver na biografia de Donald Woods Winnicott, as suas contribuições trouxeram grandes mudanças para a evolução da psicanálise, trazendo à luz a figura dos pais (especificamente da mãe) como a chave das relações no início da vida.


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