Biografia de Giotto, o encontro entre a arte e a fé

A marca do estilo de Giotto pode ser resumida nas figuras dominantes, simples e severas, situadas em ambientes de abstração. A anatomia e a perspectiva foram utilizadas pelo grande mestre como hábeis recursos narrativos. Mas será que toda a obra de Giotto foi realmente pintada por ele?
Biografia de Giotto, o encontro entre a arte e a fé
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Camila Thomas

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Hoje vamos expor uma breve biografia de Giotto di Bondone, que nasceu entre 1266 e 1276 em Vespignano, perto de Florença, na Itália. Ele foi o pintor italiano mais importante do século XIII. Muitos historiadores de arte consideram sua obra um ponto de inflexão para o desenvolvimento das artes na Europa.

Suas obras inovadoras apontavam para o estilo renascentista que se desenvolveria um século depois. Por quase sete séculos, Giotto foi venerado como o pai da pintura europeia e o primeiro dos grandes mestres italianos.

Para muitos pesquisadores, as atribuições da sua obra continuam sendo problemáticas e, muitas vezes, altamente especulativas. Isso se deve ao fato de que pouco de sua vida e poucas de suas obras estão documentadas, e à dificuldade de seguir uma cronologia estilística.

Os primeiros anos da biografia de Giotto

Grande parte da biografia e do desenvolvimento artístico de Giotto foram deduzidos da evidência das obras sobreviventes. Mesmo assim, muitas dessas obras não podem ser atribuídas a ele com certeza.

As histórias sobre sua vida e obra têm origem, em sua maior parte, a partir do final do século XIV. Giorgio Vasari, um pintor e historiador da arte, descreveu Giotto em seu famoso livro Le vite de’ più eccellenti pittori, scultori e architettori (As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos).

Obra de Giotto

A data de nascimento de Giotto remonta aos anos 1266/67 ou 1276.  A diferença de 10 anos é de fundamental importância na avaliação de seu desenvolvimento inicial.  Essa diferença é crucial para o problema da atribuição dos afrescos na Igreja de São Francisco, em Assis, na Itália.

Sabe-se que Giotto morreu em 8 de janeiro de 1337, pois esse momento foi registrado na crônica de Villani. Nessa crônica, afirma-se que Giotto tinha 70 anos quando morreu.

Sempre se supôs que Giotto tivesse sido aluno do conhecido artista Cimabue. Cimabue é considerado o pintor de maior destaque da Itália no final do século XIII.

Cimabue tentou romper, como nenhum artista antes, com o poder da realidade e da força imaginativa, as formas estilizadas da arte medieval. Assim, Giotto foi inspirado pelo força dos seus desenhos e sua capacidade de incorporar a tensão dramática em suas obras.

Nas obras de Giotto, os seres humanos são o tema exclusivo no contexto do grande drama cristão do sacrifício e da redenção.

Em comparação, todos os seus predecessores e a maioria de seus sucessores imediatos pintaram um espetáculo de marionetes com bonecos sem vida. Giotto rompeu com a tradição bizantina e abriu espaço para a emotividade da abordagem franciscana do cristianismo.

O problema de Assis

Há um problema fundamental nos estudos de Giotto: a atribuição dos afrescos de Assis. Giotto realmente pintou em Assis? Em caso afirmativo, o que exatamente ele pintou?

Não há dúvida alguma de que ele trabalhou em Assis. Uma longa tradição literária que remonta à compilação cronológica de Riccobaldo Ferrarese em 1319 atesta que isso aconteceu.

Há evidências das obras de Giotto na grande igreja dupla de São Francisco. Vários afrescos das igrejas superiores e inferiores foram atribuídos a Giotto.

O mais importante é o ciclo de 28 cenas da vida de São Francisco de Assis pintadas na nave da igreja superior. Além disso, As Virtudes Franciscanas e alguns outros afrescos na igreja inferior são atribuídos a ele.

A maioria dessas cenas são revolucionárias em sua expressão da realidade e da humanidade. A ênfase no momento dramático de cada situação e na realidade interna da emoção humana se refletem de forma intensa, por meio de gestos e olhares cruciais.

No século XIX, entretanto, observou-se que todos esses afrescos, embora semelhantes em estilo, não podiam ser da mesma autoria. Instauraram-se o ceticismo e a crença de que os afrescos de Assis e o Ciclo de São Francisco datavam de um período posterior à morte de Giotto. Essa visão extrema foi, em geral, abandonada.

É fácil compreender que Giotto, quando jovem, teve tanto sucesso que lhe foi confiada a comissão mais importante para pintar a biografia oficial de São Francisco, escrita por volta de 1266 por São Boaventura. A imagem mental atual de São Francisco vem, em grande parte, desses afrescos.

Giotto e o período romano

Três obras principais são atribuídas a Giotto em Roma. São elas o grande mosaico de Cristo caminhando sobre as águas (Navicella), localizado sobre a entrada da Basílica de São Pedro; o retábulo pintado para o cardeal Stefaneschi (Museu do Vaticano); e o fragmento do afresco de Bonifácio VIII Proclamando o Jubileu, em San Giovanni in Laterano (São João de Latrão).

Problemas de atribuição semelhantes também são levantados para essas obras romanas. Durante esse período, Giotto também pode ter feito o Crucifixo em Santa Maria Novella, a Virgem em San Giorgio e Massimiliano dello Spirito Santo (ambos em Florença).

Um quadro de Giotto

Período de Pádua

O ciclo de afrescos na capela de Pádua, conhecido como Cappella degli Scrovegni, é um exemplo do desenvolvimento inicial de Giotto. A capela foi fundada em 1303 e consagrada em 25 de março de 1305. Neles, o fundador é mostrado oferecendo uma maquete da igreja no enorme Juízo Final, que cobre toda a parede oeste.

O resto da pequena igreja nua está coberto com afrescos em três níveis. Esses afrescos representam cenas da vida de Joaquim e Ana, a vida da Virgem, a Anunciação (no arco do coro), a Vida e a Paixão de Cristo, concluindo com o Pentecostes.

Abaixo dessas três faixas narrativas está uma quarta que contém as personificações monocromáticas das virtudes e dos vícios. Os afrescos estão em relativamente boas condições e possuem um enorme poder narrativo.

A biografia de Giotto e o seu legado

Giotto alcançou uma grande fama pessoal em sua própria vida. Dante o menciona em A Divina Comédia, que consolidou a fama que o acompanharia na Itália dos séculos XIV e XV. A partir de A Divina Comédia, muitas lendas começaram a se cristalizar em torno do nome de Giotto.

“Os amigos sinceros deste mundo são como as luzes dos navios nas noites mais tempestuosas.”
-Giotto-

Giotto é considerado o homem que rompeu com a Idade Média e deu início à modernidade. Somente no Renascimento, com Masaccio e Michelangelo, seus verdadeiros sucessores surgiram.


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