Sandro Botticelli: biografia e metamorfose da alma

Hoje, nos aproximamos da vida e da obra desta extraordinária figura renascentista, cujo extenso legado ainda é objeto de diferentes interpretações.
Sandro Botticelli: biografia e metamorfose da alma
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Hoje, mergulharemos numa viagem ao passado, especificamente ao Renascimento, para falar sobre a biografia de uma das figuras mais representativas deste período: Sandro Botticelli. Ele veio ao mundo em um momento muito especial da história. Ele nasceu em Florença, uma cidade que, então, estava a meio caminho entre as ideias aristotélicas e os acadêmicos inspirados nos clássicos, principalmente Platão.

Familiarmente conhecido como Filipepi, Sandro Botticelli é há muito reconhecido por suas obras, consideradas algumas das maiores criações deste período artístico tão frutífero e brilhante.

A história da sua vida é um jogo de claro-escuro em que o prestígio e o talento reconhecido em sua juventude foram profundamente maculados em seu último período. A relação com outra das figuras-chave da época, Giacomo Savonarola, parece ter lhe custado muito caro.

As obras de Botticelli ainda hoje são controversas em sua interpretação. As teorias mais clássicas defendem a interpretação puramente religiosa de suas pinturas. No entanto, algumas correntes têm proposto uma interpretação associada às inúmeras referências a símbolos de antigos mistérios iniciáticos em suas pinturas.

Mistérios que teriam sido recuperados pelos neoplatônicos da Renascença. Um conhecimento que as lutas religiosas da Reforma, da Contra-Reforma e da sua caça às bruxas teriam acabado por sepultar.

O Nascimento de Vênus por Sandro Botticelli
O Nascimento de Vênus por Sandro Botticelli

A infância: o início da biografia de Sandro Botticelli

Alessandro de Mariano di Vanni Filipepi, conhecido como Sandro Botticelli, nasceu em Florença, cidade da qual sairia apenas uma vez na vida. Florença é parte integrante da vida e da obra deste magnífico artista. A cidade de Florença o viu nascer, crescer e morrer… foi cúmplice e refúgio do seu talento extraordinário, das suas amantes, dos seus segredos e dos seus anseios mais místicos.

Quase não temos dados sobre a sua juventude, mas sabemos que Sandro Botticelli apareceu no mundo das artes aos 14 anos. Graças à amizade de sua família com os Vespucci, Sandro tornou-se um discípulo de destaque do grande Filippo Lippi. Lippi exerceu uma enorme influência em toda a obra de Botticelli, que conseguiu adotar a detalhada técnica artística do seu mestre.

As expressões delicadas em seus rostos e a sua abordagem decorativa rapidamente o levaram a se destacar como um dos pintores mais procurados de Florença.

Aos 15 anos, ele abriu sua própria oficina na qual desenvolveu um gosto requintado pelo platonismo. Ele o fez através da representação de figuras muito realistas em um estilo triste e melancólico. O neoplatonismo apelou para diferentes temas de inspiração cristã com vários elementos pagãos.

Muitos dos seus biógrafos e alguns historiadores viram um amor não correspondido pelo modelo em sua obra O Nascimento de Vênus. No entanto, essa hipótese não pôde ser comprovada. Sabe-se que Sandro Botticelli manteve uma relação homossexual com um jovem e que, em algum momento da sua vida, foi acusado disso.

Além das teorias sobre seus relacionamentos amorosos, sabemos que Botticelli conseguiu ser um artista notável, com alguma fama, dinheiro e grande prestígio. Sua ligação inicial com a família Medici lhe proporcionou uma boa posição social.

Idade adulta

Avançando na biografia de Sandro Botticelli, vemos que sua fama só cresceu. Em Florença, ele foi reconhecido como um artista de grande talento e os Medici o procuraram para representar seus membros mais importantes na tela.

Seu relacionamento com os Medici trouxe a Botticelli uma fama de proporções extraordinárias. Como consequência, ele foi convocado pelo papado de Roma para pintar algumas seções da Capela Sistina. Seus trabalhos para esta encomenda incluíram três grandes peças e vários retratos.

Sua carreira posterior foi marcada pela influência de um dos homens mais famosos do período do Renascimento florentino, Girolamo Savonarola, um frade dominicano muito carismático. Os sermões do frade contra a corrupção moral do clero renascentista deram origem a novas convicções ideológicas que conquistaram muitos, inclusive Sandro Botticelli.

Foram momentos turbulentos em Florença, e a pregação religiosa e moral de Savonarola adquiriu tons heréticos aos olhos do Vaticano, que acabou queimando-o na fogueira acusado de ser um herege. Sua relação com o dominicano e sua admiração pelo seu discurso criaram, para Botticelli, inúmeros problemas após a queda e o trágico fim de Savonarola.

Ainda assim, Botticelli teve uma grande mudança na experiência do movimento renascentista. As técnicas e novos estilos avançavam muito rapidamente e Botticelli estava começando a ficar para trás.

Os novos pintores e gênios emergentes, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, possuíam técnicas mais novas que colocaram o período anterior de lado. Em 17 de maio de 1510, Sandro Botticelli faleceu na mesma cidade onde nasceu.

A primavera

Sua obra

O trabalho de Sandro Botticelli é extenso e amplamente conhecido. Ele gozou de grande popularidade em vida, embora, após a sua morte, sua obra tenha sido relegada a segundo plano diante da magnificência dos grandes pintores que surgiram na última fase do Renascimento.

Só no século XIX é que a obra de Botticelli foi recuperada e, em consequência, lhe foi concedido o valor ímpar que exibe.

São muitas as obras de Sandro Botticelli: desde os 102 desenhos que serviram de ilustração à Divina Comédia de Dante à Adoração dos Magos, sem esquecer de obras como Vênus e MartePalas e o CentauroA Tentação de CristoA Virgem da RosaA Anunciação.

A biografia de Sandro Botticelli e a metamorfose da alma

Se tivermos que destacar duas obras de toda a sua produção, sem dúvida vamos escolher O Nascimento de Vênus e A PrimaveraEssas duas obras, junto com Palas e o Centauro, foram encomendadas pelos Medici e representavam a metamorfose da alma de acordo com a filosofia platônica desenvolvida pela academia de Ficino.

Muitas interpretações têm desejado ver em obras como  Primavera e O Nascimento de Vênus um episódio escrito por Ovídio que fala da transmutação da alma através das Graças e outros elementos. Um retorno à situação espiritual primordial do ser humano que, guiado pelas almas do além, alcança a transcendência.  

A obra de Sandro Botticelli é uma das mais interessantes proporcionadas pelo Renascimento, aquele período de esplendor nas artes que mudou drasticamente o sentido da nossa civilização.


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