Buraco K: o efeito da ketamina

Apesar dos perigos envolvidos, muitos usuários de ketamina buscam o chamado “buraco K”, um estado considerado prazeroso. Do que se trata? Por que essa droga é considerada perigosa? Confira aqui.
Buraco K: o efeito da ketamina

Última atualização: 12 setembro, 2023

O buraco K —ou K-hole, como é chamado em inglês— é o nome pelo qual é conhecido o efeito produzido pelo consumo de ketamina em altas doses. Essa é uma droga que era inicialmente usada para fins anestésicos e analgésicos. No entanto, durante vários anos, também foi usada como droga recreativa, apesar de seu uso ser proibido na maioria dos países.

Em doses baixas, a ketamina causa um efeito dissociativo na pessoa (Gitlin et al., 2020). Ou seja, um sentimento de desconexão tanto do mundo externo quanto de si mesmo. Doses altas causam o buraco K, ou seja, um estado de dissociação e despersonalização, que leva à distorção da percepção do próprio corpo, do ambiente e do tempo.

Os consumidores relatam que o buraco K causa uma sensação semelhante à descrita por pessoas que tiveram experiências de quase morte, parecendo que a mente está fora do corpo. De fato, alguns usuários se viram completamente separados de seu corpo, subindo e flutuando. Saiba mais sobre este tema nesta leitura.

Ketamina: o que é?

A ketamina é um psicotrópico. Essa afirmação indica que ela atua no cérebro e gera mudanças na percepção, nos pensamentos, nos sentimentos, no humor e no comportamento. É derivada da fenciclidina e foi originalmente usada na medicina para fins anestésicos, conforme observado na revista Anesthesia, essays and researches.

Surgiu na década de 1970 e seu uso se tornou muito comum em pequenas cirurgias. No entanto, muitas pessoas relataram efeitos colaterais dessa droga, como alucinações, taquicardia, tontura e dores de cabeça. Por esse motivo, é usada cada vez menos em humanos.

De acordo com um artigo da StatPearls, essa droga é considerada um antagonista do receptor de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA). Da mesma forma, atua contra os receptores de acetilcolina, bloqueia os canais de sódio e potássio, ativa os receptores de dopamina e facilita a inibição do GABA. Também pode aumentar a serotonina no cérebro.

Essa substância é conhecida por diferentes nomes como keta, K, special K ou cat Valium, entre outros. É comum que seja misturada com outras drogas, como anfetaminas, metanfetaminas ou álcool. Quando combinada com cocaína, a mistura é chamada de “Calvin Klein” na linguagem dos consumidores. A ketamina causa dependência, e uma overdose mínima pode levar à morte.



Efeitos desejados e colaterais

Segundo o Energy Control, um programa espanhol da Asociación Bienestar y Desarrollo (ABD) que busca reduzir o risco do uso recreativo de drogas, os efeitos desejados da ketamina são os seguintes:

  • Euforia.
  • Tranqüilidade.
  • Desinibição.
  • Evasão e desconexão.
  • Diminuição do cansaço.
  • Alucinações visuais e auditivas.
  • Sensação de estar fora do corpo.
  • Diminuição da sensação de dor.
  • Percepção alterada do tempo.

Por outro lado, de acordo com um artigo da StatPearls, os efeitos colaterais relatados são os seguintes:

  • Amnésia.
  • Arritmias.
  • Ansiedade.
  • Confusão.
  • Anafilaxia.
  • Bradicardia.
  • Hipotensão.
  • Convulsões.
  • Laringoespasmo.
  • Rigidez muscular.
  • Náusea e vômito.
  • Dificuldade para respirar.

Essa substância geralmente vem em forma líquida ou em pó. Pode ser aspirada, como a cocaína, mas também pode ser fumada, engolida ou injetada nas veias. Dependendo do tipo de consumo, o efeito da ketamina pode ser sentido entre 2 e 20 minutos após sua entrada no organismo.

O buraco K

O efeito desejado com a ketamina é o que se conhece como buraco K. Como já explicamos, trata-se de um estado de despersonalização e dissociação, em que se chega a ter a sensação de “viagem astral , conforme relatado pelos consumidores. Isso é conhecido como efeito psicodélico, semelhante ao causado pelo LSD.

Com base em um artigo publicado no Journal of Clinical Psychopharmacology, podemos apontar que os efeitos psicotrópicos associados ao buraco K ou “trip da ketamina” podem ser os seguintes:

  • Dissociação.
  • Despersonalização.
  • Distorção corporal.
  • Sensação de leveza.
  • Experiências psicóticas.
  • Pensamentos referenciais.
  • Experiências fora do corpo.
  • Ausência de noção de tempo.
  • Experiências de unidade cósmica.

Um artigo no jornal Drug and Alcohol Dependency indica que o buraco K ocorre quando mais de 150 mg de ketamina são consumidos. Diante dessa ingestão, os pesquisadores sugerem que a pessoa sente “um intenso distanciamento a ponto de suas percepções parecerem estar localizadas no fundo de sua consciência”. Isso faz com que o sentido da realidade se esfume e tudo seja percebido como distante.

Durante essa experiência dissociativa, a pessoa também pode ter alucinações visuais, como fractais ou formas giratórias. Da mesma forma, pode ficar incapaz de se mover ou falar, assim como sentir náuseas, tonturas e confusão.

Um estudo de 2014 do Energy Control sobre o uso recreativo da ketamina mostra que 33% dos usuários procuram ou desejam experimentar o K-hole toda vez que consomem a substância. No entanto, apenas 8,1% conseguem experimentá-lo com frequência, enquanto 51,2% nunca o experimentam.



A ketamina é uma droga perigosa

O uso de ketamina como droga recreativa tem vários perigos. A primeira delas é seu alto poder viciante. Isso porque esse psicotrópico gera tolerância, o que faz com que as pessoas se acostumem gradativamente com seu consumo. Portanto, cada vez precisarão de uma dose maior para alcançar o efeito desejado.

Isso não só gera dependência, mas também se torna um fator de risco para overdose. Se uma pessoa exagerar, mesmo com uma dose muito pequena, os efeitos podem ser devastadores.

É possível que cause crises hipertensivas, parada respiratória, convulsões ou infarto, entre outros. Portanto, tem o potencial de causar a morte. O abuso crônico pode danificar o trato gastrointestinal, o coração, o sistema geniturinário, o fígado e o cérebro, de acordo com uma pesquisa publicada no Baylor University Medical Center Proceedings.

Em relação ao dano cerebral, uma revisão sistemática publicada em Frontiers in Neuroanatomy associou o consumo prolongado de ketamina com a redução do volume de substância cinzenta e a integridade da substância branca. Da mesma forma, encontrou menos conectividade funcional talamocortical e corticocortical.

Uma overdose de ketamina é uma emergência médica que deve ser tratada o mais rápido possível. Alguns dos sinais de que cuidados urgentes são necessários são:

  • Coma.
  • Convulsões.
  • Dor no peito.
  • Dificuldade para engolir.
  • Pressão alta.
  • Urina com sangue ou turva.
  • Frequência cardíaca irregular.
  • Temperatura corporal elevada.
  • Lábios, pele ou unhas pálidos ou azulados.
  • Pálpebras, língua, face ou lábios inchados.

A mistura de ketamina com outras drogas pode potencializar o efeito dessa substância. A longo prazo, os usuários podem ter problemas de memória, perda dos sentidos ou dificuldade em manter o princípio da realidade. Uma pessoa viciada nessa droga necessita de tratamento médico especializado para superar a dependência sem riscos.

Um buraco perigoso

Como vimos, a ketamina é uma droga psicotrópica usada como anestésico e analgésico na medicina, mas também se tornou popular para uso recreativo. Um efeito da ketamina que os usuários desejam experimentar é o chamado K-hole, que causa dissociação e despersonalização.

No entanto, o uso dessa substância acarreta riscos à saúde, como dependência, overdose e danos a diversos órgãos do corpo, inclusive o cérebro. Por isso, é importante conscientizar sobre seus perigos e buscar ajuda profissional em caso de dependência ou overdose.


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