Vida de casal em casas separadas

Podemos manter relações amorosas de longo prazo sem abdicar da nossa privacidade, do nosso próprio desenvolvimento pessoal e evitando os conflitos da convivência? Hoje vamos falar sobre esse assunto.
Vida de casal em casas separadas
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Antigamente, um dos passos considerados definitivos na consolidação de um casal era a decisão de viver juntos na mesma casa. Dividir o espaço, a rotina e, às vezes, bens em comum era o ponto de inflexão em direção a uma relação consolidada. No entanto, atualmente existe um número cada vez maior de pessoas que decidem manter uma vida de casal em casas separadas.

De alguma maneira, isso parece indicar que uma porcentagem da sociedade está aprendendo a apreciar o fato de viver sozinha, embora ainda seja verdade que algumas pessoas tomam essa decisão por outros motivos.

Parece que um relacionamento estável não é incompatível com a opção de cada um viver sua vida plenamente, sem ter que dividir o mesmo espaço.

Segundo os últimos estudos, essa situação é de caráter global, pelo menos no Ocidente e, além disso, não é exclusiva de um país ou comunidade específicos. De fato, 35% das pessoas que vivem sozinhas relataram que estão em uma situação amorosa estável, mas sem viver sob o mesmo teto.

Essas dados não variam muito entre homens e mulheres, sendo estas mais numerosas em apenas 1%. No entanto, o aspecto que parece ser um fator crucial é a idade, mais que o sexo.

Assim, parece que as pessoas mais velhas se sentem menos influenciadas pelas pressões sociais de formar um casal e conviver na mesma casa.

Casal caminhando pela praia

As estatísticas sobre a vida de casal em casas separadas

Entre as pessoas que têm mais de 51 anos e começam novas relações amorosas, apenas 22% afirmam que entre seus planos de futuro está a ideia de dividir a mesma casa com o parceiro (ou a parceira) atual.

A maioria delas considera importante manter seu estilo de vida sem que isso afete a qualidade do novo relacionamento.

No entanto, apenas metade das pessoas que têm entre 31 e 40 anos atualmente e que mantêm relações amorosas estáveis planeja a convivência sob o mesmo teto nos próximos anos.

Por outro lado, em faixas etárias mais jovens, a convivência nas primeiras etapas do relacionamento é considerada um passo fundamental, além de priorizar a formação e o desenvolvimento profissional antes da convivência do casal.

Quais são os motivos pelos quais as pessoas não querem morar juntas?

Esse fenômeno parece envolver vários motivos. O fato de ter convivido previamente com outra pessoa estando em um relacionamento é o aspecto que mais se relaciona com a probabilidade de querer ter uma vida de casal em casas separadas.

A experiência mostra que o fato de cada um viver na sua própria casa permite que os membros do casal se sintam mais livres no relacionamento e com a capacidade de fazer amizades fora dele.

As pessoas também se sentem menos pressionadas em conflitos relacionados às tarefas domésticas e aos assuntos financeiros em comum.

As pessoas que decidem ter uma vida de casal em casas separadas relatam que se sentem confortáveis com a preservação da privacidade sem renunciar à intimidade com seus pares.

Muitas delas consideram que esta também é uma maneira menos traumática de sair do relacionamento, se esse dia chegar.

Casais que duram

O curioso é que essa nova forma de entender os relacionamentos não parece comprometer a qualidade nem a duração dos mesmos. Uma elevada porcentagem deles continuam juntos depois de 12 anos de relacionamento sem morar na mesma casa.

Talvez a ideia de “ter que encontrar um par” como um dos requisitos sociais mais urgentes das gerações passadas esteja em plena transformação. Tudo parece indicar que a forma de entender os relacionamentos atualmente está mudando em muitos aspectos. 

Mulher lendo livro em sua casa

Uma nova visão sobre os relacionamentos

Essa nova visão sobre os relacionamentos ainda está se consolidando. No entanto, quem experimenta afirma que proporciona uma maior sensação de liberdade, tanto em relação a escolhas quanto a oportunidades de desenvolvimento pessoal, em comparação aos casamentos convencionais.

Entretanto, o conceito de um relacionamento, ou seja, como é percebido e quais características tem, ainda é subjetivo. Por isso, algumas pessoas não estão totalmente de acordo com essa nova visão. Tudo depende do vínculo e de seus participantes.

Será que esta será a maneira de entender os relacionamentos no futuro? Será que a convivência na mesma casa será apenas para quem quer formar e criar uma família? Estamos presenciando pela primeira vez a clara diferença entre o desejo de ter um parceiro (ou uma parceira) e ter uma família?

Esta última questão parecia não estar tão claramente separada da primeira até ultimamente. Sem dúvida, algo muito profundo está mudando na nossa sociedade.


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