Como as células imunitárias influenciam o comportamento sexual

Como as células imunitárias influenciam o comportamento sexual
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Estamos “programados” para agir de maneira mais prototipicamente feminina ou masculina, particularmente quando se trata de comportamento sexual? Em que medida os diversos comportamentos sociais estão biologicamente determinados e em que medida são aprendidos? Segundo um estudo recente, as células imunitárias (mastócitos) influenciam o comportamento sexual.

O novo estudo, que analisa as mudanças em um conjunto de células imunitárias que moldam o comportamento sexual, levanta a pergunta de como a presença de mastócitos, um certo tipo de célula imunológica, pode influenciar o comportamento sexual de uma pessoa, fazendo com que aja de forma mais “masculina” ou mais “feminina”.

As células imunes, muitas vezes ignoradas como variáveis moduladoras, parecem desempenhar um papel importante na hora de determinar se o comportamento sexual de um animal será mais prototípico de um homem ou de uma mulher.

Os pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, autores do estudo publicado na revista The Journal of Neuroscience, descobriram uma nova e surpreendente explicação de como os cérebros jovens se formam para o comportamento sexual futuro.

Estamos “programados” para um determinado comportamento sexual?

Durante muitos anos, os pesquisadores proporcionaram evidências de que, quando se trata de seres humanos, o comportamento sexual não pode ser facilmente classificado, e que é difícil rotular um tipo de comportamento como “masculino” ou “feminino”.

Ao mesmo tempo, muitos estudos recentes sugerem que, sem o nosso conhecimento, características ou variáveis sutis do nosso corpo podem influenciar o nosso comportamento.

A nova pesquisa estuda o papel que um tipo particular de célula imunitária, os mastócitos, desempenha no desenvolvimento do comportamento sexual. Os pesquisadores realizaram suas pesquisas em ratos. Eles analisaram os machos com mastócitos silenciados e as fêmeas com células ativas. Os pesquisadores observaram a região pré-óptica do cérebro no hipotálamo, que contribui para a regulação do comportamento sexual.

Homem e mulher se beijando

Segundo Kathryn Lenz, professora assistente de psicologia e neurociência na Universidade Estatal de Ohio e diretora do estudo, “esta é a área do cérebro mais sexualmente dinâmica; sabemos que é muito importante para os comportamentos reprodutivos e sociais de tipo masculino e para iniciar o comportamento materno nas fêmeas”.

O grupo observou o comportamento dos ratos machos com mastócitos silenciados quando expostos a fêmeas prontas para acasalar. Perceberam que, em comparação com os ratos machos de controle, os roedores experimentais mostraram um menor grau de interesse em procurar fêmeas para o acasalamento.

Também descobriram que, pelo contrário, os ratos fêmeas com mastócitos ativados mostravam um comportamento sexual geralmente típico dos ratos machos interessados no acasalamento.

Lenz explica que isso é fascinante de observar, já que as fêmeas “masculinas” não têm o “hardware” para participar no comportamento reprodutor masculino, mas isso não pode ser percebido pela forma como agem. Também afirma que “parecem estar fortemente motivadas a tentar se envolver no comportamento sexual masculino com outras fêmeas”. 

Os pesquisadores descobriram que o estrogênio ativa os mastócitos no cérebro e que esses mastócitos conduzem o desenvolvimento sexual do animal. O estrogênio desempenha um papel importante no desenvolvimento das características masculinas nos ratos.

Embora os cientistas saibam que os hormônios programam as diferenças sexuais durante o desenvolvimento inicial, ainda têm informação limitada sobre as mudanças a nível celular que contribuem para a maneira como o cérebro e o comportamento se formam.

As células imunitárias influenciam o comportamento sexual

Os pesquisadores explicam que precisamos aprender mais sobre como as mudanças que ocorrem a nível celular podem afetar o desenvolvimento do comportamento enquanto o feto ainda está no útero.

Afirmam que é possível que certos acontecimentos de saúde vividos durante a gravidez, como uma reação alérgica ou diferentes tipos de lesões que desencadeiam inflamações, podem influenciar a composição biológica do feto e condicionar suas tendências comportamentais futuras.

“Estes mastócitos no cérebro parecem ser cruciais para o desenvolvimento cerebral durante toda a vida, apesar de serem relativamente poucos. Isso realmente deveria abrir nossos olhos para o potencial papel de diferentes células imunes no cérebro humano”, explica Lenz. E conclui: “Há muitas coisas que não sabemos, e devemos prestar atenção em todas as células do cérebro e em como elas conversam entre si”.

Casal se beijando

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  • Lenz, K. M., Pickett, L. A., Wright, C. L., Davis, K. T., Joshi, A., & McCarthy, M. M. (2018). Mast cells in the developing brain determine adult sexual behavior. Journal of Neuroscience38(37), 8044-8059.

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