A chantagem emocional com crianças: uma estratégia triste e prejudicial
Infelizmente, a chantagem emocional com crianças faz parte de muitas infâncias. Através de culpa, medo, intimidação, ameaça e muitas vezes também com paciência e cuidado, muitos pais conseguem que seus filhos façam o que eles querem. Por outro lado, muitos pais não têm conhecimento das consequências que esta prática pode ter sobre a sua educação e a sua relação com eles.
A chantagem emocional com crianças é uma forma de manipulação muito tentadora para condicionar seu comportamento. A chantagem é um comportamento aprendido, ou seja, as crianças também podem aprender a fazer uso dela. Por outro lado, é uma forma de influência raramente escolhida conscientemente, mas que de alguma forma é reforçada por quão eficaz é nas primeiras vezes que for utilizada.
Existem milhares de artigos sobre chantagem emocional com crianças, falando sobre quando os pequenos fazem pirraça, birras e ameaças para conseguir o que querem de seus pais. A realidade é que este é um comportamento aprendido que começa em casa. Quando os pais dizem coisas como: “Se você não tirar boas notas, não vamos te amar”, “Se você for malcriado, Papai Noel não lhe trará presente de natal”, “Se você não arrumar o seu quarto, não compraremos mais brinquedos”, etc.
“Existem apenas duas maneiras seguras de levar as pessoas a fazer o que se deseja. Ou você coloca uma luva de ferro e obriga, ou você diz que Deus quer que ela faça”.
-Raymond Khoury-
Por que recorrer à chantagem?
Muitas vezes recorremos à chantagem porque isso pode restaurar o controle, e não sabemos recuperar ou conseguir que as crianças obedeçam sem protestar de outra forma. Pense que o controle não é sinônimo de educação. Dizer aos nossos filhos o que fazer, como fazer e ameaçá-los se eles não fizerem, imediatamente minimiza a sua tomada de decisão. Criamos, assim, um excelente terreno fértil para que no futuro sejam dependentes ou rebeldes.
Usar chantagem emocional com crianças pode ser o pior dos remédios para nossa insegurança como pais, uma das piores formas de se “proteger” frente as perguntas de uma criança. Também pode indicar que temos pouca paciência para respeitar o seu tempo e/ou baixa tolerância para aceitar que eles podem fazer as coisas à sua própria maneira e que essa pode ser diferente da nossa.
Aplicando a chantagem emocional talvez você possa chegar menos cansado ao fim do dia, tomando decisões por eles que são mais confortáveis ou levando-os a fazer o que você quer. Mas e a longo prazo? Como já observamos, esta é uma estratégia que pode se tornar muito perigosa.
“Se for introduzida no processo de comunicação a mentira ou má-fé, haverá manipulação, que pode se tornar recíproca”.
-Albert Jaquard-
Qual é a razão do uso da chantagem emocional com crianças?
A chantagem emocional com crianças é uma forma de manipulação que as deixa sem escolha. Vão nos obedecer, provavelmente. Mas essa estratégia cedo ou tarde vai deixar de ser eficaz e, provavelmente, será usada contra nós, pois somos nós que lhes ensinamos a usá-la. Por outro lado, como todos os tipos de chantagem, é uma estratégia que muito dificilmente vai terminar causando algum tipo de sentimento positivo.
O alvo da chantagem pode ver nascer um ressentimento que não pode explicar mas que, eventualmente, é ampliado com o tempo. Eles, muito mais cedo do que pensamos, são capazes de identificar quando estão tentando manipulá-los. E ninguém gosta de ser manipulado, certo? Assim, eles podem sentir a presença das pessoas que os chantageiam como uma ameaça, como pessoas com quem eles não querem estar porque não os fazem sentir bem.
Neste sentido, muitas pessoas usam chantagem emocional com as crianças como modo de obter sinais de carinho. Uma afeição que, se existe, será diminuída precisamente pelo uso desta estratégia. Além disso, como já dissemos, eles vão logo aprender a usá-la para a sua vantagem, pois compreendem que é uma estratégia válida, porque é utilizada com eles por pessoas que os querem bem. Por isso, vai ser muito difícil que estabeleçam relações que não sejam superficiais ou instrumentais.
“O amor vem quando a manipulação cessa; quando você pensa mais sobre a outra pessoa do que sobre suas reações em relação a você. Quando você se atreve a revelar-se totalmente. Quando você se atreve a ser vulnerável”.
-Joyce Brothers-
Por que as chantagens não são uma boa estratégia?
Na maioria das vezes as chantagens não servem porque são ameaças que não se cumprem nem a curto e nem a longo prazo (Nenhum pai vai parar de amar o seu filho porque não arrumou o quarto). Psicólogos têm visto (e tentado transmitir para os pais com mais ou menos sucesso) que estas ameaças têm um curto espaço de sucesso e um final muito triste.
Com este tipo de chantagem é improvável que a criança aprenda que é melhor que o seu quarto esteja arrumado, porque assim será mais fácil de limpar e porque poderá encontrar mais rápido qualquer coisa que procure. Dificilmente você aprende que escovar os dentes, apesar de quão pouco divertido seja em algumas noites, é melhor para os dentes. Assim, o mais provável, é quando a chantagem desaparecer ou deixar de produzir efeitos, o comportamento que queremos implementar também vai sumir.
As chantagens não vão educar nossos filhos para que eles saibam resolver problemas, ou fazer as coisas porque é o melhor para eles ou porque é o que eles querem. Mudam comportamentos por um momento e de forma aparente, sem uma mudança real nem uma motivação interna ou duradoura. Além disso, quando chantageamos sem cumprir a ameaça explícita, se a criança não obedece, perdemos credibilidade.
“A educação é para ajudar uma criança a realmente desenvolver suas habilidades”.
-Erich Fromm-
Quais alternativas existem para chantagem emocional?
Se queremos fazer alguma coisa, especialmente quando eles são muito pequenos, é melhor ajudar ou acompanhar em vez de, por exemplo, dar ordens sentado no sofá. Se são mais velhos, a melhor ferramenta disponível é que tenham a possibilidade de imitar nosso exemplo. Nossos filhos não são máquinas, e somente as máquinas respondem e fazer as coisas de primeira; assim, você provavelmente terá que repetir as coisas mais de uma vez para que façam, e este atraso não é o produto de preguiça ou algo conscientemente escolhido para nos fazer raiva. Eles têm um ritmo diferente e, na maioria dos casos, estão aprendendo.
Também é importante negociar, oferecer opções e ouvir o que eles têm a dizer. Quando queremos que façam algo, devemos primeiro perguntar se aquele algo atende às suas necessidades ou às nossas, e se essa necessidade nossa oferece alternativas, tempos e especialmente explicações de por que queremos agir ou não agir de uma determinada maneira. Quando é algo relacionado a eles, seu bem-estar e seu futuro, o mais eficaz é explicar os benefícios fazê-lo.
Quando deixamos de lado a chantagem na educação dos nossos filhos, é mais fácil que acabem escolhendo comportamentos que favoreçam a si mesmos e ao ambiente a sua volta por conta própria. Se permitirmos que eles sejam inteligentes, eles terão a chance de ser. Nós podemos ter que trabalhar um pouco mais, negociar e estar mais presentes na sua educação, mas eles vão crescer para serem mais independentes, com uma melhor autoestima, e aprenderão o valor do esforço e do trabalho. Vale a pena tentar, não?
“Não evite as dificuldades na vida de seus filhos, ensine-os a superá-las”.
-Louis Pasteur-