Charcot, um extraordinário homem da ciência

Charcot, um extraordinário homem da ciência
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Equipe Editorial

Última atualização: 23 março, 2018

Jean-Martin Charcot foi um famoso médico e neurologista. Nasceu em Paris em 1825, e suas contribuições tiveram consequências definitivas, tanto na medicina quanto na psicologia. Foi aluno do famoso Guillaume Duchenne, de Bolonha. Tanto ele quanto Charcot são considerados os pais da neurologia. Mas não é só isso. Charcot também foi o precursor mais importante da psicanálise.

Trabalhou durante 30 anos no célebre Hospital da Salpêtrière. Quando Charcot chegou ao local, tinha cerca de 5000 pacientes. Aproximadamente 3000 deles tinham problemas mentais. Nesse hospital também eram oferecidos treinamentos de novos médicos e experimentos de novos métodos. Era o centro médico mais importante do mundo naquele momento, em tudo o que tinha a ver com o cérebro.

“A teoria é boa, mas não impede que as coisas aconteçam”.
-Jean-Martin Charcot-

Charcot ficou muito famoso na Europa quando começou a usar a hipnose como método de tratamento para a histeria. Era, antes de mais nada, um homem da ciência, e por isso estava aberto a todas as novidades no campo da medicina. Suas observações levaram-no a ter um especial interesse pela histeria, um transtorno que explorou mais do que qualquer outro de seus contemporâneos.

Charcot e sua chegada à Salpêtrière

Os novos pacientes de Charcot eram de todo tipo. Prostitutas, vagabundos, pessoas com problemas cognitivos e outras que tinham sido recusadas pela sociedade. A Salpêtrière era conhecida naquele ínterim como o grande asilo das misérias humanas ou “pandemônio de insanidade”. Foi Charcot que transformou esse lugar caótico no centro de pesquisa médica mais importante da Europa.

Charcot e a histeria

Desde a época de Hipócrates, falava-se do útero como um órgão móvel que deambulava pelo corpo da mulher. Quando esse órgão chegava ao peito, causava graves sintomas. Entre eles, estranhas convulsões e falta de ar. Isso ficou conhecido como histeria. Muitas mulheres apresentavam tais sintomas. Pensava-se então que a histeria era uma condição exclusiva da mulher.

Até a chegada de Charcot, grande parte dos pacientes não estavam sendo tratados. A maioria das mulheres, por sua vez, tinham sido diagnosticadas como histéricas. No entanto, o médico francês notou que alguns homens também apresentavam sintomas que podiam ser catalogados como histéricos. E as mulheres, além da falta de ar e das convulsões, também apresentavam raras manifestações da doença, como cegueira ou paralisia. O comum em todos esses casos é que não existia uma explicação médica.

A histeria

Jean-Martin Charcot foi, sobretudo, um estudioso do cérebro. Suas investigações permitiram a criação das bases para compreender doenças como a esclerose. Também  ajudou a esclarecer muitos aspectos das hemorragias cerebrais e de outras doenças, como a ataxia de Friedreich e a síndrome de Tourette. No entanto, sua curiosidade o levava uma e outra vez ao pavilhão dos chamados epilépticos simples. Ali 90% dos pacientes haviam sido diagnosticados como histéricos e neurastênicos.

Charcot, uma fonte de debates

Charcot descobriu que a histeria estava no cérebro, e não no útero. Também postulou que a origem dessas convulsões, falta de ar, paralisias e outros sintomas sem explicação poderia estar em experiências do passado. Quase simultaneamente, propôs a ideia de que este mal poderia ser tratado por meio da hipnose. Foi assim que surgiu um dos espaços mais fascinantes daquele tempo: as sessões das terças-feiras.

Nelas Charcot apresentava os casos de histeria em um verdadeiro palco de teatro. O médico francês mostrava, um a um, como os sintomas desapareciam no estado de hipnose. E nem todos eram mulheres: provou-se que aquilo também ocorria com os homens.

Charcot, uma fonte de debates

Charcot foi duramente criticado por muitos de seus contemporâneos. Acusavam-lhe de ser pouco científico e de ter convertido suas sessões das terças-feiras em um circo. As afirmações não eram justas. Charcot tinha um profundo espírito científico e por isso mesmo não negava nenhuma opção. Rapidamente encontrou analogias entre a histeria e a hipnose.

Charcot propôs a existência de uma histeria traumática, isto é, desencadeada por um evento que causou um profundo impacto na mente da pessoa. Salientava que a hipnose consiste em uma ordem que o paciente cumpre por sugestão. Na histeria traumática ocorre algo análogo. O trauma é como uma auto-hipnose: a ordem está no trauma e faz que o sujeito comece a atuar sem consciência, de uma maneira estranha.

Mulher tendo convulsões

Uma das grandes contribuições de Charcot foi precisamente a de ter isolado o conceito de “trauma” na mente e ter desenvolvido esta noção. A partir dos importantes aportes deste grande cientista francês, um de seus alunos, Sigmund Freud, descobriu a psicanálise.


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