7 chaves para entender Heidegger

Heidegger é um dos grandes pensadores da história. Neste artigo, queremos revisar algumas de suas ideias-chave, para entender seu pensamento.
7 chaves para entender Heidegger
Matias Rizzuto

Escrito e verificado por o filósofo Matias Rizzuto.

Última atualização: 08 fevereiro, 2023

Martin Heidegger (1889-1976) é considerado um dos pensadores mais importantes do século XX. Suas ideias tiveram grande influência na filosofia e psicologia contemporâneas. Suas principais investigações giram em torno de nossa relação com o mundo e a consciência da morte. Sua obra prolífica continua a cativar os pensadores de nosso tempo.

Compreender a filosofia de Heidegger nem sempre é uma tarefa fácil, pois sua linguagem muitas vezes pode ser pouco clara. No entanto, esclarecer alguns de seus conceitos nos ajudará a ter uma visão mais nítida da vida humana e de suas questões. A seguir, apresentaremos algumas chaves para que você possa entender melhor o pensamento dele.

1. Ontologia e fenomenologia

Para entender o pensamento de Heidegger, devemos levar em conta que sua filosofia é herdeira da fenomenologia de Edmund Husserl. A fenomenologia é um método filosófico que leva em conta a existência dos objetos em relação ao modo como os percebemos, e não como meras entidades separadas de nós.

Segundo Heidegger, os diferentes ramos da ciência estudam o ser como uma entidade e, portanto, não chegam a uma compreensão plena dele. A ontologia, disciplina filosófica que estuda a natureza do ser das coisas, deve usar o método fenomenológico para encontrar o real significado do ser. Para chegar a uma verdadeira compreensão do “o que é”, devemos pensar nas coisas e em nós mesmos como inter-relacionados, e não separados do resto dos seres.

Mente com um homem dentro
Martin Heidegger (1889 – 1976) é conhecido por seu trabalho sobre fenomenologia e existencialismo.

2. “Dasein” e angústia

O conceito de Dasein é um dos mais importantes na filosofia de Martin Heidegger. O termo, que vem do alemão e pode ser traduzido como “ser-aí” ou o “ser-aí-no-mundo” , refere-se à existência humana. Segundo Heidegger, o Dasein tem uma relação única com o mundo e, através de sua existência, percebe sua própria finitude.

Heidegger argumenta que o Dasein é diferente de outros seres no mundo na medida em que tem a capacidade de compreender e cuidar de sua própria existência. O Dasein tem consciência de sua própria finitude e isso gera preocupação ou angústia diante da possibilidade da morte. Essa angústia é uma característica essencial de nossa constituição como humanos e o que nos distingue dos demais seres do mundo.

O Dasein tem consciência de sua existência em relação ao mundo e aos outros seres, ou seja, tem consciência de sua situação no mundo. Essa consciência da própria situação no mundo é o que Heidegger chama de “ser-aí-no-mundo” e é essencial para entender nossa preocupação fundamental com a finitude e a morte.

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3. Ser e tempo

Em sua principal obra, Ser e Tempo, Heidegger distingue entre o tempo como critério ontológico (temporariedade) e o tempo dos entes (temporalidade), ou seja, a duração das coisas, tempo mensurável.

O tempo no sentido ontológico não é algo que começa e termina, mas sim a qualidade temporal que possibilita a existência das coisas, sua “temporariedade”. Nesse sentido, a temporalidade se apresenta como condição de possibilidade do Dasein poder ser no tempo. Desvendar essa qualidade será o trabalho fundamental da ontologia, pois é aí que se encontra a estrutura do ser.

«Na exposição dos problemas da temporalidade , dá-se pela primeira vez a resposta concreta à questão que questiona o sentido do ser».

-Martin Heidegger-

relógio espiral
A estrutura do ser se encontra em sua temporalidade.

4. O esquecimento de ser

A condição angustiante que o ser humano experimenta ao tomar consciência de sua finitude o impele a viver no que Heidegger define como um um passado que se torna presente. O Dasein tende a se perder nas coisas cotidianas, como trabalho, relações sociais e atividades recreativas, e se esquece de cuidar de sua própria existência e de sua relação com o mundo.

Para Heidegger, essa tendência é o que nos leva a viver de forma inautêntica, conformando-nos com as expectativas e valores de um mundo predeterminado pelo passado, mergulhando-nos no tédio.

Para sair dessa condição, é preciso redescobrir a própria autenticidade, despertando um espírito de ânimo que nos permita lidar com a angústia e desdobrar as questões metafísicas fundamentais sobre nossa existência.

5. Heidegger e a tecnologia

Segundo Heidegger, a tecnologia esconde o verdadeiro sentido do ser, pois não pode ser reduzida a entidades observáveis. A técnica não só esconde o ser, mas também o próprio sentido da nossa própria existência, sendo a principal responsável por nos lançar para uma vida carente de autenticidade.

A tecnologia ajuda a ciência a categorizar entidades e isolá-las de nosso relacionamento com elas. Suponha que vemos um livro aberto em uma sala. Quando olhamos para ele, não vemos manchas de tinta no papel, mas sim um objeto que tem um certo significado para nós. No entanto, se apresentarmos uma pessoa de uma cultura que não possui livros, é muito provável que ela não veja o mesmo objeto que nós.

Da mesma forma, o Ser não pode ser reduzido à soma de suas partes, mas sua essência acaba se completando em relação ao que o cerca e ao significado que adquire por meio da percepção dos sujeitos.

Mulher imaginando sua mente
Quando o conhecimento é enumerado e categorizado, a essência do ser é esquecida.

6. Heidegger e os poetas

Segundo Heidegger, a poesia é uma forma de pensar que vai muito além da lógica e da razão. Para o pensador, a expressão poética pode nos ajudar a obter uma compreensão mais clara e profunda do que a exposta pela ciência e pela filosofia.

A sensibilidade dos poetas consegue captar a essência do ser e expressá-la de forma metafórica que transcende a mera descrição técnica. Deve-se notar que a poesia a que Heidegger se refere é representada por renomados poetas alemães como Hölderlin, Rilke, Trakl e Celan.

7. Controvérsias políticas

Heidegger fez parte do partido nazista entre 1933 e 1945. Esse fato tem levado muitos a questionar a validade de seu pensamento, pois sustentam que sua filosofia pode ser compatível com um dos processos políticos mais atrozes da história.

Por outro lado, há quem defenda sua filosofia argumentando que as ideias desenvolvidas por Heidegger não estão relacionadas às inclinações políticas que o autor sustentou ao longo de sua vida, e até mesmo que sua adesão ao partido nazista foi estratégica.

Deve-se notar que, ao contrário de muitos intelectuais alemães contemporâneos, Heidegger nunca se desculpou por seu apoio ao regime nazista. Em 2014, foi publicada uma série de documentos chamados cadernos negros, que mostram explicitamente sua adesão ao nazismo e suas ideias antissemitas.

Um filósofo influente

Sem dúvida, o pensamento de Heidegger não pode ser deixado de lado quando se trata de compreender a filosofia do século XX. Apesar das controvérsias políticas que cercam o autor, suas ideias foram de grande influência para muitos pensadores posteriores como Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Peter Sloterdijk e também para psiquiatras como Medard Boss.

Por outro lado, seus detratores o acusam de usar linguagem pouco clara e ambígua, que pode facilmente levar a falácias e definições enganosas. Apesar das críticas, é difícil ignorar um pensador como Heidegger e com certeza ele continuará sendo uma grande influência para quem quer se aprofundar no mundo da filosofia contemporânea.


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  • Heidegger, M.; Ser y Tiempo, México, FCE, 1986.
  • Heidegger, M.; ¿Qué es la metafísica? y otros ensayos, Bs. As., Ediciones Fausto, 1992.
  • Reé, J.; Heidegger, historia y verdad en Ser y Tiempo, Colombia, 2000.

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