O clima tem influência nas atitudes violentas?
Um estudo realizado por cientistas espanhóis publicado na revista Science of the Total Environment relaciona as ondas de calor com a agressividade. De acordo com este estudo, o clima tem influência nas atitudes violentas.
De acordo com outros estudos, realizados por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley e da Universidade de Princeton, as mudanças no clima estão intimamente ligadas a muitas das manifestações de violência que ocorrem no planeta.
Desvios relativamente pequenos da temperatura normal ou das chuvas têm aumentado substancialmente as atitudes violentas e o risco de conflito em diferentes lugares e pontos da história. Os autores foram capazes de demonstrar que o clima da Terra é uma variável com um poder de influência sobre o nosso comportamento e estado de ânimo maior do que se esperava.
Alguns exemplos expostos por esta pesquisa são os picos de violência doméstica na Índia e na Austrália, o aumento de agressões e assassinatos nos EUA e na Tanzânia. A violência étnica na Europa e no sul da Ásia, as invasões de terras no Brasil, o uso da força policial na Holanda e os conflitos civis nos trópicos.
“É estranho que uma revolução ocorra em um clima de calma e senso comum. Os cérebros se desequilibram, a imaginação fica desnorteada, obscurecida, povoada de fantasmas”.
-Emile Zola-
Clima: uma causa das atitudes violentas
Esses novos estudos podem ter implicações importantes quando se trata de estimar como as mudanças climáticas que estamos experimentando em todo o planeta podem nos afetar. Muitos modelos climáticos globais projetam um aumento na temperatura global de pelo menos 2 graus centígrados ao longo do próximo meio século.
Os cientistas descobriram três tipos de conflitos relacionados a mudanças no clima. Além disso, perceberam que o conflito responde de forma mais consistente à temperatura, com uma relação positiva entre as altas temperaturas e um aumento de violência ou de atitudes violentas em 27 estudos.
Esses pesquisadores coletaram informações de 60 estudos existentes contendo 45 conjuntos de dados diferentes para tirar conclusões conjuntas em um quadro estatístico comum. “Os resultados foram surpreendentes”, explica Solomon Hsiang, autor principal do estudo e professor associado de Política Pública na Escola Goldman, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
“O outono se ocupava de matar e o inverno de varrer”.
-Camilo José Cela-
Quanto mais calor, mais violência machista?
Segundo um estudo elaborado por vários cientistas espanhóis, existe sim uma relação. Belén Sanz Barbero, Cristina Linares, Carmen Vives-Cases, José Luis González, Juan José López-Ossorio e Julio Diaz são os co-autores de ‘Ondas de calor e o risco de violência por um parceiro íntimo’.
Um estudo recente publicado na revista Science of the Total Environment sugere que o risco de feminicídio por um parceiro íntimo aumenta nos três dias posteriores a uma onda de calor. Com base no grande número de mulheres que denunciam ou relatam ter sofrido um episódio de violência pelos seus parceiros, os cientistas salientam que este aspecto é de “extrema importância” para identificar os fatores que podem precipitar o comportamento violento nesses casos.
Com base nesses dados, os cientistas argumentam que o risco de feminicídio pelo parceiro aumentou durante os t rês dias posteriores a onda de calor, enquanto os relatos policiais de violência machista aumentaram um dia após a mesma.
Da mesma forma, as chamadas de apoio às vítimas de violência de gênero aumentaram cinco dias depois. Em particular, o risco de uma mulher ser morta pelo parceiro é o que mais aumenta: em mais de 28%. “Nossos resultados sugerem que as ondas de calor estão associadas a um aumento da violência por um parceiro íntimo“, argumentam os pesquisadores nas conclusões do artigo.
“À medida que a negação do clima dificulta o progresso técnico, pode acelerar desastres reais.
Estes, por sua vez, podem tornar o pensamento catastrófico ainda mais confiável.
Pode-se começar um círculo vicioso em que a política fica reduzida ao pânico ecológico”.
-Timothy Snyder-
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- Hsiang, S. M., Burke, M., & Miguel, E. (2013). Quantifying the influence of climate on human conflict. Science. https://doi.org/10.1126/science.1235367