O que é a codependência no contexto de um vício?

A codependência é um comportamento que qualquer pessoa pode sofrer quando tem um relacionamento próximo com alguém que sofre de um vício. Saiba mais detalhes a seguir.
O que é a codependência no contexto de um vício?
María Paula Rojas

Escrito e verificado por a psicóloga María Paula Rojas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A codependência é um comportamento muito complexo que está relacionado a um vício e afeta de forma significativa a pessoa que a desenvolve e seu círculo mais próximo. Pode ter consequências importantes no desenvolvimento da sua vida cotidiana, fazendo com que ela perca suas próprias ferramentas para enfrentar as dificuldades diárias.

Portanto, é importante saber do que se trata e como isso pode nos afetar. Não apenas para evitar que você mesmo o desenvolva, mas também para detectar se alguma pessoa conhecida pode estar desenvolvendo esse tipo de comportamento.

Homem com vício em bebida alcoólica

Definindo a codependência e a sua relação com o vício em substâncias

As codependências são definidas como relações dependentes nas quais pelo menos um dos membros é viciado em qualquer tipo de substância. A discórdia causada pelo vício provoca uma alteração nos comportamentos dos membros mais próximos e, portanto, gera uma nova forma de funcionamento.

Algumas pesquisas têm descoberto que as mulheres são mais propensas a sofrê-la, especialmente mães e esposas. Isso poderia ser justificado pelo desenvolvimento cultural na sociedade. As mulheres são as que costumam assumir o papel de cuidadoras a ponto de se esquecerem de si mesmas para, em troca, tentar satisfazer as necessidades de seus familiares.

Este termo teve sua origem em famílias de pessoas que participaram dos “Alcoólicos Anônimos”. Foram identificadas, nas diferentes sessões, condições físicas, emocionais e psicológicas muito particulares nesses núcleos familiares.

As pessoas nessa situação tendem a desenvolver uma certa inoperância em expressar emoções e resolver conflitos pessoais e interpessoais. Os esforços são dedicados a controlar os comportamentos viciantes daquele que tem o vício, até o ponto de chegar a viver através dele. Portanto, é criada uma dinâmica na qual o viciado, através de seus comportamentos e manipulações, controla a vida do codependente.

Tipos de codependência

Foram encontrados dois tipos de codependência. Cada uma delas tem suas próprias características e consequências.

Codependência sem vício

O primeiro tipo é a codependência sem vício. Nesse caso, a pessoa tem um vínculo dependente ou interdependente e pouco saudável com um sujeito viciado. É importante enfatizar que, nesse tipo de codependência, a pessoa não é viciada em nenhum tipo de substância.

Esta situação vem do estresse de conviver e lidar com uma pessoa viciada. Por isso, esse fenômeno aumenta e se intensifica ao longo do tempo. Entre as principais características da codependência, estão:

  • Investimento constante de tempo para tentar desenvolver habilidades para controlar a si mesmo e a outra pessoa, especialmente quando surgem situações adversas.
  • Priorizar o conhecimento e as responsabilidades da pessoa viciada, a ponto de ignorar as próprias.
  • Distorção dos limites entre a separação e a ansiedade, esquecendo seu espaço pessoal e suas necessidades.
  • Tendência a se envolver em relacionamentos com pessoas que possuem transtorno de impulsividade, personalidade ou farmacodependentes.

Biodependência

O segundo tipo de codependência é a biodependência. Esse termo pode ser definido como uma dependência sobre a dependência, ou seja, uma dependência de relacionamento implantada em um sujeito viciado.

Nesse caso, há um conjunto de atitudes, afetos e comportamentos que, além do vício específico, criam dependência de pessoas ou situações de natureza sociopática. Isso condiciona de maneira importante as atividades diárias das duas pessoas correspondentes à codependência.

Portanto, a pessoa biodependente assume uma atitude passiva. Da mesma forma, perde deliberadamente ou diminui de forma significativa a sua autonomia.

Como resultado, não toma nenhum tipo de decisão e se torna “uma pessoa inválida”. Poderíamos dizer que o relacionamento que mantém com a pessoa de quem depende é semelhante ao que mantém com a substância na qual é viciado.

No entanto, é importante especificar que essa falta de autonomia não se mantém ao executar ações para manter o seu vício. Portanto, o viciado é capaz de criar e executar ações para encontrar recursos, adquirir e comprar o objeto do vício. Entre as características clínicas de pessoas biodependentes, estão:

  • Falta de consciência em relação ao problema.
  • Delegação da tomada de decisões e diminuição notável da autonomia.
  • Demanda de sensações com o parceiro que se assemelhem às buscadas com a substância viciante.
  • Busca obsessiva por um parceiro, destacando que esse parceiro é o que estimula a biodependência.

Por que a codependência pode surgir diante de um vício?

Para começar, é importante enfatizar que a codependência ocorre quando um dos membros da família é viciado em algum tipo de substância. Ao desenvolver esse transtorno, é fácil que as pessoas ao redor acabem tendo comportamentos que sirvam de reforço para o seu próprio vício.

No entanto, essa adaptação perversa possui um conjunto de dinâmicas relacionais que não são saudáveis. No caso da pessoa codependente, ao ver a presença de problemas significativos devido ao vício e para minimizar os danos que ele produz, ela começa a assumir responsabilidades que não lhes correspondem.

Ou seja, começa a fazer atividades e assume papéis que correspondem à pessoa viciada, favorecendo o viciado a se abandonar ainda mais.

Como consequência, a pessoa começa a sofrer de ansiedade e estresse. Da mesma forma, apresenta sentimentos de vergonha, tanto pela atitude da pessoa viciada quanto de si própria.

Além disso, há uma presença de medo por não saber se está fazendo as coisas corretamente ou pela impotência por não ser capaz de fazer tudo. Por último, desenvolvem sentimentos de culpa por acreditarem que o vício é mantido através das suas atitudes.

Mulher triste devido ao vício do marido

Conclusão

O vício não afeta apenas em primeira pessoa. As consequências perversas da dependência vão além. Os dados nos dizem que, quanto maior o vício, maior a probabilidade de que surja uma codependência no ambiente próximo.

Quando atingimos esse limite, o impacto e as consequências podem ser muito mais significativos, a ponto de ser um dos aspectos que reforçam o vício. Portanto, nesses casos, o apoio que gera o efeito mais desejável é o oferecido no âmbito de uma intervenção psicológica, onde o profissional está sempre presente para aconselhar e direcionar.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Schonian, S. A. (2017). Development and Preliminary Validation of the Co-Addiction Scale [Thesis]. https://ttu-ir.tdl.org/handle/2346/73535
  • Sirvent, C., Moral, M., Blanco, P., & Suarez, G. (2014). Las coadicciones (estudio descriptivo y psicopatología diferencial). 1-13.
  • Vacca, R. (2003). LA CO-ADICCION Aspectos Culturales y Clínicos para su Aprendizaje. Revista Peruana de Drogodependencias, 1(1), 231-253.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.